A nova “galeria” de arte digital do Canal 180 é um ecrã no Porto que nunca se desliga
Replicando um telemóvel em tamanho gigante, o projecto 9:16 quer dar visibilidade às media arts. A inauguração oficial é este sábado.
Há uma televisão, disposta na vertical, pendurada numa das paredes da nova sede do Canal 180, no número 425 da Rua Miguel Bombarda, no Porto. E nunca se desliga nem fica em stand-by. Desde o dia 11 que exibe, em loop, um vídeo de seis minutos. Consiste numa retrospectiva da obra do italiano Simone Brillarelli, artista visual, realizador de videoclipes e animador 2D.
Esta televisão tem um nome: chama-se “9:16” — uma inversão da proporção mais habitual dos ecrãs de televisão e de computador, 16:9 — e é a nova “galeria” daquela que é conhecida no Porto como a rua das galerias de arte.
Não é preciso entrar no espaço para contemplar as imagens emitidas pela televisão — ela é visível da rua. E o plano é mantê-la ligada dia e noite, feriados e fins-de-semana incluídos.
Trata-se do novo projecto do Canal 180, que marca oficialmente o arranque do 9: 16 com uma festa, este sábado (a partir das 16h), dia de novas Inaugurações Simultâneas nas galerias da Miguel Bombarda — um evento já com mais de 15 anos de história. O canal por cabo dedicado à cultura e à criatividade respeita o trabalho dos seus vizinhos e está muito mais interessado em funcionar como um complemento do que como um substituto. “O objectivo principal é este ser um espaço novo para artistas que não têm espaço em galerias”, explica ao PÚBLICO o director criativo do 180, Joaquín Mora.
“Temos galerias de fotografia, galerias de arte clássica, galerias de arte moderna, mas a arte digital ainda é muito nova e, em termos gerais, ainda só tem um espaço, que é a Internet”, reflecte o chileno. “Queremos que as pessoas que não têm acesso à Internet possam, simplesmente ao caminhar pela rua, ver arte digital, arte nova — não só de artistas portugueses como de criadores espalhados pelo globo”, afirma.
Este será, portanto, um ecrã dedicado à animação — tradicional e digital —, à arte 3D, aos motion graphics (grafismo animado), à glitch art… “Também nos interessa conhecer e dar destaque a artistas que estejam a trabalhar com inteligência artificial. Queremos acolher todas as experimentações possíveis”, diz Joaquín Mora. Todas excepto a designada criptoarte.
Experimentar para decidir
Ainda está por fixar a forma como o 180 estruturará a programação deste seu televisor, inusitadamente disposto na vertical, e não na horizontal, numa alusão ao smartphone, “o dispositivo onde as pessoas estão mais habituadas a consumir arte digital” e ao qual os artistas têm tido, nos últimos anos, de se adaptar. “Podemos ter mostras de um mês, de três semanas… Não há, nesse aspecto, uma estrutura estanque”, assinala o director criativo do 180. “Já temos uma curadoria mais ou menos armada, mas para nós também é importante ir vendo o feedback”, diz. Mantendo margem de manobra para, consoante o mesmo, fazer afinações.
“O nosso modo de operar tem sido sempre assim: ir experimentando e vendo o que resulta. Isto ainda está no início, acho que temos de fazer algumas exposições para perceber qual é o nosso foco”, complementa Vítor Serra, responsável pelas redes sociais do 180.
Certo é que haverá open calls, ou seja, convocatórias para que criadores de todo o mundo possam submeter os seus trabalhos. Estão pensadas, para este ano, duas chamadas, devendo a primeira ser anunciada no próximo mês e a segunda em Julho.
O 180 pretende que os artistas convidados (ou escolhidos, no caso das convocatórias) “tenham uma relação com todo o ecossistema do canal”, como descreve Joaquín Mora. Conta, com Vítor Serra, que o 180 entrevistou Simone Brillarelli para um vídeo, entretanto já publicado nas redes sociais do canal, em que o italiano desvenda o seu processo de trabalho — “Grande parte da nossa audiência são criadores audiovisuais e, por isso, valorizamos muito mostrar as técnicas formais que outros artistas estão a usar e a forma como se expressam”, apontam. O 180 também exibirá na televisão, durante o mês de Janeiro, os videoclipes do italiano. E Brillarelli dará, em Junho, um workshop presencial no Porto, na sede do canal.
A inauguração do projecto 9:16 surge apenas alguns meses depois de o 180 se ter mudado para a rua das galerias, deixando para trás o seu espaço na Praça Coronel Pacheco, também no Porto. Vítor Serra sente que esta “galeria” de visualização gratuita vem contribuir para combater uma “falta de media arts na Miguel Bombarda”. Joaquín Mora, por seu turno, diz esperar que o ecrã ajude o 180 a resolver um problema que no seu entender se colocava na Coronel Pacheco, onde, diz, não tinha “muito contacto com a comunidade”. E conclui: “Queremos que esta ‘galeria’ seja mais uma forma de o canal expressar e celebrar a criatividade.”