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Este cubo de betão escavado destoa da paisagem – é de propósito
Na Casa SV, em Valongo, quando as janelas se abrem, transformam-se em buracos escavados num exterior "robusto e suave" de betão.
O proprietário já conhecia o terreno e a casa que aí existia. Fica na zona de Sobrado, em Valongo, pertencia aos avós e ficava a apenas alguns passos da casa dos pais.
Visitava-a em criança, quando o pé-direito (isto é, a distância do pavimento ao tecto) era baixo e as dimensões reduzidas. Anos depois, nesta rua que o arquitecto Rui Dinis descreve como “quase familiar” (é a rua onde vivem os tios e primos do dono), construiu-se uma nova moradia diferente de todas as outras que primam pelos tons amarelados, beges e castanhos. Em 2016, a “antiga e pequena” casa dos avós desapareceu para dar resposta às necessidades da família dos proprietários, mas não sem antes deixar que os primos se despedissem de uma das memórias de infância.
A Casa SV fica numa rua movimentada com várias habitações em redor. Para Rui Dinis “não havia nada próximo que fizesse sentido enaltecer”, por isso, optou, em conjunto com o arquitecto Henrique Marques, por fechar a casa ao exterior de forma a garantir privacidade e, ao mesmo tempo, uma vista que transportasse para outro lugar.
“Desenhámos uma espécie de cubo e escolhemos o betão, que não se relaciona com nenhuma das casas à volta. Queríamos que fosse uma peça que se destacasse por inteiro e tentasse integrar-se no local, mesmo não fazendo parte dele”, explica em entrevista ao P3.
Esta massa robusta de betão foi "suavizada" com madeira de pinho que delimita toda a casa. De seguida, reforça o arquitecto do atelier Spaceworkers, o cubo foi "escavado" para dar lugar às janelas estrategicamente pensadas para receber luz e uma vista que se estende até bem longe. Na sala, a madeira continua no pavimento. Há uma grande janela para olhar para o céu e para as copas das árvores e outra em forma de L que se abre até desaparecer por completo e liga ao pátio exterior. “Nessa varanda, o tecto é em betão e a ideia da massa escavada foi levada ao máximo.”
O projecto ficou concluído em 2022. Depois de pronta, há quem diga que a Casa SV parece um bunker, que as janelas não abrem, que é fria e tem pouca luz, mas, garante o arquitecto, quando se entra vê-se o oposto. As janelas, que se abrem para o interior, iluminam cada divisão em qualquer altura do ano. E quando o vidro e os caixilhos de alumínio se escondem nas paredes, voltam a ser buracos escavados num cubo de betão.