Há quem leve o almoço para o trabalho em lancheiras personalizadas ou em sacos de pano. Certamente, são poucos a levar a marmita num saco de quase três mil euros. A Louis Vuitton acaba de lançar um novo saco para sanduíches no icónico laranja da marca, feito em pele. A peça, da autoria de Pharrell Williams, já está esgotada.
O saco de sanduíches quase passou despercebido em Junho, quando foi apresentado na Semana da Moda de Paris, no primeiro desfile do novo director criativo de moda masculina. A inspiração terá vindo do clássico saco de papel para sanduíches que se vê em muitas padarias francesas. Williams reimaginou-o como um objecto de luxo.
A peça está à venda no site da Louis Vuitton por 2700 euros, ainda que se anuncie como “indisponível” para já. É possível fazer a inscrição e ficar em lista de espera. Na descrição pode ler-se: “Este saco Sandwich é fabricado em pele de vaca flexível. Tem a mesma cor que os sacos das lojas Louis Vuitton. O interior apresenta um bolso com fecho de correr e um bolso duplo plano.”
Nas redes sociais, a criação peculiar não passou despercebida. “Como a Louis Vuitton está a enganar os ultra-ricos vendendo-lhes sacos de sanduíche”, escreve um utilizador na rede X (antigo Twitter). E outro, diz com humor: “Porque as pessoas que o comprarem ficarão tão falidas que terão de fazer as suas próprias sandes para o resto da vida...”
O saco foi colocado à venda oficialmente a 4 de Janeiro na loja temporária da casa de luxo francesa em Hollywood, avança a CNN. Desde que foi anunciado como substituto de Virgil Abloh, Pharrel Williams tem falado da vontade de trazer objectos do quotidiano para a moda, apesar de saber que poderá ser uma abordagem controversa. “Se trazemos lifestyle, temos de ser cuidadosos para garantir que mantemos a inclusão e não alienamos outros grupos de clientes que já estavam connosco”, reconheceu um dos accionistas da LVMH, Robert Schramm-Fuchs, no final do desfile de Junho.
Todavia, não é a primeira vez que a casa francesa traz para o luxo acessórios banais, como os sacos de plástico com padrão xadrez, que reinterpretou em 2017. Aliás, Virgil Abloh era mestre em transformar qualquer peça em luxo. O criador, que morreu em 2021, defendia que bastava mudar um objecto em 3% para que este fosse considerado uma “criação de designer”. Esta lógica não é nova e o norte-americano — conhecido por adicionar aspas ou frases nas peças da Off-White — comparava-a ao trabalho de Duchamp ou de Andy Warhol.
Menos conceptual é a abordagem da Balenciaga, que foi acusada de ridículo quando, em 2017, lançou um saco azul a mimetizar o conhecido saco do Ikea, chamando-lhe Bazar laundry bags. Um pormenor diferencia a réplica do original: a peça de luxo custava mais de dois mil euros. Mais tarde, no mesmo ano, também se inspiraram no supermercado alemão Edeka para lançar sacos de pano.
Nos últimos anos, a casa fundada por Cristóbal Balenciaga, agora com Demna Gvsalia ao leme, tem sido acusada de falta de criatividade, com várias polémicas a sucederem-se. Em 2022, foi cancelada na internet depois de lançar uma campanha a mostrar crianças com mochilas em forma de ursinhos de peluche a utilizar elementos associados à prática sexual de bondage. As imagens foram retiradas, mas a marca continua a recuperar das mazelas provocadas na sua reputação.