Economia chinesa cresceu 5,2% em 2023, um dos piores resultados em décadas
Resultado foi ligeiramente melhor do que os 5% que eram estimados, mas representa o pior desempenho em décadas, excluindo os anos da pandemia.
A China, segunda maior economia do mundo, registou em 2023 um crescimento de 5,2% do seu Produto Interno Bruto (PIB), um resultado ligeiramente melhor do que os 5% que eram estimados, mas que não deixa ninguém a celebrar. Trata-se do pior desempenho em décadas, excluindo os anos da pandemia, demonstrando, segundo analistas, a fraqueza da recuperação da economia chinesa no período pós-covid.
Para tal contribuíram a quebra no sector imobiliário, que tem sido dos mais relevantes no crescimento chinês em muitos anos, aliada a riscos de deflação, quebras no consumo interno e no investimento, e uma contracção demográfica que, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, levou o país a perder dois milhões de pessoas.
Por outro lado, o crescimento em 5,2% do PIB pode ser explicado pelo efeito estatístico do termo de comparação. Em 2022, a economia chinesa cresceu 3%, tendo estado sujeita, tal como muitas outras economias do mundo, aos impactos que a pandemia de covid-19 teve na actividade económica. Porém, no caso chinês, esses impactos foram mais exacerbados e prolongados devido à “política covid zero”, que levou Pequim a querer erradicar os casos da doença com apertados confinamentos, que se prolongaram na China muito para além do que sucedeu noutros países.
Essa “política covid zero” foi oficialmente extinta a 8 de Janeiro de 2023, permitindo a retoma a partir daí. Ou seja, em 2022 a actividade económica continuou total ou parcialmente congelada (e durante mais tempo do que noutras regiões do globo). Esperava-se, por isso, que o PIB da China pudesse dar mostras de uma forte recuperação depois da reabertura, como sucedeu na generalidade das restantes economias. Os dados da autoridade estatística chinesa mostram que há uma recuperação, mas também permitem concluir que ela não foi tão forte assim, com analistas a explicar este desfecho com as razões já mencionadas.
Aliás, a taxa de crescimento do PIB em 2023 foi menor do que o crescimento antes da pandemia, ao contrário do que sucedeu, por exemplo, em países como Portugal, onde o ano da reabertura pós-covid se saldou com o maior crescimento anual do PIB desde 1987.
Porém, na China, o investimento em construção caiu 7,8%, comparado com 2022, segundo dados do Gabinete de Estatística da China. O arranque de novas construções deslizou 20%. A indústria do imobiliário representava cerca de um terço do output económico da China. A crise da construtora e promotora imobiliária Evergrande foi o exemplo mais evidente das consequências de dois factores importantes: o excessivo endividamento e a falta de confiança tanto do lado da oferta como da procura por parte dos consumidores.
As vendas no retalho espelharam a mesma falta de confiança. Embora a evolução fosse positiva (+7,2%), invertendo a quebra de 0,2% em 2022 (efeito dos prolongados confinamentos), a recuperação do retalho exemplifica na perfeição a fragilidade dessa recuperação, porque ficou muito longe do crescimento de 2021 e muito longe do desempenho dos últimos anos antes da pandemia, apesar de estes já terem ficado marcados por uma desaceleração das vendas no retalho.
O mesmo sucedeu com as actividades de investimento e a produção industrial, que cresceram 3% e 4,6%, respectivamente, longe dos valores pré-pandemia. A evolução de cada um desses sectores foi, no entanto, muito distinta. Enquanto a produção industrial até acelerou no ano passado, face a 2022, ainda que a um ritmo menor do que em 2021 ou dos anos antes da pandemia, no investimento houve uma quebra acentuada em 2023 face a 2022.
Em termos homólogos, o último trimestre de 2023 apresentou uma variação do PIB igual à do ano na sua globalidade, 5,2%, um resultado que contribui para a conclusão de que a economia perdeu gás no segundo semestre de 2023, depois de um arranque até mais forte, proporcionado pelo fim da política de confinamentos.