Bobi, o cão que em Fevereiro de 2023 recebeu o título de cão mais velho do mundo e de sempre do Guinness World Records, perdeu por agora a distinção depois de vários veterinários terem levantado dúvidas sobre a sua idade. De acordo com o dono, Leonel Costa, Bobi nasceu no dia 11 de Maio de 1992, em Conqueiros, Leiria, e celebrou 31 anos em 2023. Morreu a 21 de Outubro de 2023 e terá sido cremado.
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, em Outubro, sobre a longevidade do cão, alguns veterinários disseram não acreditar que Bobi tinha a idade que Leonel alegava. O P3 contactou o Guinness por email que, em Novembro, informou que iria abrir uma investigação para apurar a verdadeira idade do animal. Perguntámos como iria ser analisada a veracidade do recorde, mas, na resposta, a entidade disse apenas que voltaria a escrever-nos quando tivesse “mais informações para partilhar”. A investigação ainda está a decorrer, mas Bobi já perdeu o título – temporariamente ou não.
“Enquanto a investigação está em curso, decidimos suspender temporariamente os títulos de ‘cão mais velho vivo’ e cão mais velho de sempre’ – apenas até que todas as nossas conclusões estejam reunidas”, afirmou esta terça-feira um porta-voz do Guinness em resposta ao P3.
Depois da morte do cão, o P3 contactou o serviço Médico-Veterinário Municipal de Leiria, que disse apenas ter emitido um certificado de residência para o animal em 2022, indicando que vivia no distrito com o dono. Em comunicado enviado ao P3, o dono, Leonel Costa, disse ter enviado, sem especificar quais, todas as provas e exames que o Guinness pediu para verificar a idade do animal e revelou não ter sido contactado pelo livro de recordes sobre as dúvidas que entretanto surgiram.
"Nada é mais importante para nós, família, do que a digna e maravilhosa vida que o Bobi teve, é um orgulho para nós termos sido os escolhidos para estar ao lado de um animal tanto tempo", escreveu. Bobi morreu devido a problemas de saúde e foi cremado, acrescenta.
O P3 pediu os dados de registo do animal ao Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC), que respondeu não estar autorizado a facultar a informação. Ainda assim, confirmou que o Bobi está registado na base de dados desde 3 de Junho de 2022.
“Aquando do registo, o titular do animal declarou que o mesmo [animal] nasceu em 1992, mas não temos qualquer registo que comprove ou desminta esta declaração”, respondeu o porta-voz, Eurico Cabral, no email. O SIAC diz ainda que nunca atestou a data de nascimento do animal.
No entanto, o facto de Bobi ter sido registado em 2022 não significa que não tenha nascido em 1992 tal como o dono afirma. Em Portugal, o registo de cães nascidos antes de 2008 só se tornou obrigatório em Outubro de 2020.
Um dos motivos apresentados pelos veterinários para contestar a idade do cão são as manchas brancas que cobriam parte das patas quando o animal era jovem e que parecem ter desaparecido nas fotografias mais recentes. Sobre este assunto, o Serviço Médico-Veterinário de Leiria explicou que com a idade podem surgir manchas brancas no pêlo dos animais, mas não o contrário.
Antes de Bobi, o título de cão mais velho do mundo pertencia a Bluey, um pastor-australiano que viveu até aos 29 anos e cinco meses.
Título não é monetário
Quando o Guinness atribuiu os dois títulos ao cão, o dono disse que o processo demorou quase um ano e assegurou que o prémio não é monetário e o site do livro de recordes diz o mesmo.
Leonel explicou, e voltou a reforçar no comunicado, que a candidatura foi uma forma de agradecimento pelos alegados 31 anos em que o cão viveu com a família no lugar de Conqueiros, na união de freguesias de Souto da Carpalhosa e Ortigosa, concelho de Leiria. Em Maio de 2023, o dono organizou uma festa de aniversário a pedido do Guinness, que recordou via email que era uma das condições do título. A festa juntou cerca de 100 convidados, reuniu as atenções da imprensa nacional e internacional como CNN e BBC, veterinários de países como Austrália e Estados Unidos e um representante do site de recordes.
Apesar de a idade não ter sido confirmada, Bobi já mostrava sinais de cansaço e as consultas no veterinário eram mais frequentes. De acordo com o dono, em 2018, o cão sofreu o equivalente a um AVC, tinha o focinho de lado e dificuldade em respirar. Por vezes, deixava de conseguir andar. Mesmo assim, antes de Bobi morrer, Leonel queria que o cão fosse pai e planeava avançar com a ideia recorrendo ao processo de inseminação artificial.
Recordes suspensos para todos os cães
Bobi tirou o título de cão mais velho do mundo a Spike, um chihuahua de 23 anos que vive com a dona em Ohio, nos Estados Unidos.
Segundo a Wired, no dia 23 de Outubro, quando o Guinness anunciou a morte de Bobi, a tutora de Spike, Rita Kimball, enviou um email a tentar saber se o cão tinha recuperado a distinção. Os registos veterinários que enviou atestavam que o chihuahua tinha nascido em 1999.
O Guinness pediu uma fotografia do cão com o jornal do dia e a avaliação de um segundo veterinário para confirmar a idade do animal. Depois de ter recebido mais registos sobre o cão, concluiu que não existem provas suficientes para atribuir o título a Spike. Acrescentou ainda que é provável que muitas das categorias de recordes passem a “exigir uma segunda opinião para verificação, futuramente”.