Efeitos do desvio da rota do Suez já se notam, Bruxelas alerta para impacto económico
DP World, que gere cerca de 10% do comércio global de mercadorias, diz que impacto será de curta duração. No entanto, Bruxelas alerta para incerteza gerada pelos constrangimentos nas rotas marítimas.
Os atrasos nos transportes de mercadorias que se estão a verificar nas últimas semanas por causa dos ataques a navios no mar Vermelho deverão ser de curta duração, antevê um responsável de um dos maiores operadores portuários, a DP World, ouvido pela agência Bloomberg. A Comissão Europeia, porém, mostra-se mais cautelosa e adverte para os impactos económicos dos constrangimentos logísticos, que já estão a causar perturbações na produção industrial nalgumas importantes fábricas na Europa.
As empresas de transporte de carga em contentores e os intermediários estão a ajustar o planeamento logístico para adaptarem as entregas ao calendário que decorre dos desvios de rotas, por receio de sofrerem ataques no mar Vermelho por parte dos houthis, tribo de confissão xiita do Norte do Iémen, apoiada pelo Irão.
Numa demonstração de solidariedade para com o povo palestiniano da Faixa de Gaza, o grupo armado, apoiado pelo Irão, tem atacado navios comerciais internacionais na costa do Iémen nos últimos meses, o que tem levado as empresas a suspender as passagens pelo mar Vermelho.
Em vez de atravessarem a costa do Iémen em direcção ao canal de Suez para chegarem ao Mediterrâneo e, por aí, acederem aos portos europeus, as empresas estão a desviar as rotas para sul de África, o que, diz a Bloomberg, aumenta a viagem entre a Ásia e a Europa entre dez a 12 dias.
A opção por rotas mais longas, mas previsivelmente mais seguras, pode afectar as cadeias logísticas de distribuição global. Os porta-contentores desviados em Dezembro chegaram aos portos europeus nos últimos dias, e à medida que os desvios em massa entram no segundo mês, os calendários de entregas de bens devem começar a suavizar-se, refere a agência de informação norte-americana.
“Neste momento, não vemos que se trate de um problema de volume [de falta de produtos], mas sim de um problema de atrasos”, afirma à Bloomberg Tiemen Meester, director de operações de portos e terminais da multinacional DP World, sediada no Dubai, e que, segundo a mesma agência, gere cerca de 10% do comércio global de mercadorias, tendo operações em cerca de 75 países. “O fluxo está a ser temporariamente afectado, mas será recuperado”, afirmou, na segunda-feira, dia em que se verificou mais um ataque na costa do Iémen, onde um porta-contentores de propriedade norte-americana foi atingido por um míssil lançado pelos houthis.
O Suez é um ponto estratégico na ligação entre a Ásia e a Europa – por ali passa 12% do comércio mundial – e o desvio dos navios para o sul de África está a causar diferimentos.
Ainda nesta terça-feira, a operadora marítima japonesa Nippon Yusen suspendeu as viagens pelo mar Vermelho, tendo dado indicação aos navios para aguardar em águas seguras enquanto considera desviar as rotas.
A Bloomberg nota que a fabricante automóvel japonesa Suzuki anunciou a suspensão da produção numa fábrica na Hungria, entre 15 e 21 de Janeiro, por causa dos fornecimentos dependentes de rotas do mar Vermelho; também uma fábrica da Volvo na Bélgica anunciou paragens na produção; e o mesmo aconteceu com a Tesla na Alemanha, que parou a produção do Modelo Y por falta de peças, decisão que a fabricante norte-americana explicou com o facto de a rota de navegação que abastece a fábrica europeia ter sido desviada para o cabo da Boa Esperança”, o que tem “impacto sobre a produção” da empresa, cita a estação televisiva Deutsche Welle.
Desde Novembro, os houthis terão feito perto de 30 ataques a navios internacionais, o que motivou o ataque lançado pelos Estados Unidos e o Reino Unido contra o grupo armado.
Os houthis justificaram os ataques com o objectivo de defender Gaza e de garantir um bloqueio naval a Israel, tendo, depois de duas rondas de ataques aéreos anglo-americanos, ameaçado todos os que apoiem Israel na guerra em Gaza.
A crescente instabilidade na região reacendeu os receios de que um conflito alargado no Médio Oriente faça reacender a pressão sobre os preços na Europa, onde a inflação se encontra agora a recuar, preocupação que o comissário europeu com a pasta da Economia, Paolo Gentiloni, não deixou passar em branco na segunda-feira no final da reunião do Eurogrupo, ao referir a incerteza sobre a inflação e o nível de crescimento económico, decorrendo “principalmente do contexto geopolítico” relacionado com a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a situação no Médio Oriente, tendo em conta que “as repercussões deste conflito estão agora a afectar as rotas marítimas na região”.