Galinha nega passivo de 50 milhões de euros na Global Media e confirma que propôs aumento de capital
Antigo presidente rejeita a existência de mais cinco milhões de euros de dívidas adicionais, revelando que adiantou fundos para o pagamento dos dois primeiros meses de salários.
Marco Galinha nega que o Global Media Group (GMG) tenha um passivo de 50 milhões de euros, revelando ter adiantado os fundos necessários para assegurar os dois primeiros meses da massa salarial do grupo após a compra do Fundo World Opportunity (WOF). Num esclarecimento escrito enviado esta quinta-feira às redacções, o antigo presidente da Comissão Executiva (CE) deste grupo garante ainda ser falsa a existência de mais cinco milhões de euros em dívidas, valor que se somaria ao já identificado durante a due diligence feita pelo WOF antes da aquisição. Ao PÚBLICO, confirmou ter proposto, juntamente com um grupo de empresários portugueses, um aumento de capital do grupo equivalente a 51% do seu actual capital.
“Pelo sentido de responsabilidade social e empresarial que sempre tivemos, quando o novo accionista começou por incumprir as suas responsabilidades, fomos nós que adiantámos as verbas necessárias para garantir o cumprimento dos primeiros dois meses da massa salarial de todo o grupo”, reitera Marco Galinha, acrescentando que investiu 16 milhões de euros no GMG num período de três anos.
O PÚBLICO teve acesso a um ofício da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) que negou, no passado dia 5 de Janeiro, uma extensão de prazo solicitada pelo grupo GMG sobre o envio de documentação ao abrigo da Lei da Transparência. Esta era já a segunda vez que a ERC instava o grupo a facultar os documentos, depois de ter pedido a identificação dos proprietários do WOF com pelo menos 5% do fundo. Foram ainda exigidos o regulamento e política de investimentos do fundo e a clarificação da designação de alguma da documentação enviada à ERC.
O esclarecimento de Marco Galinha desta quinta-feira surge após a audição de José Paulo Fafe, actual dirigente da Comissão Executiva do GMG. Questionado pelos vários partidos na Assembleia da República, José Paulo Fafe responsabilizou as anteriores direcções do grupo pela situação financeira, apontando o dedo à “forma leviana como o grupo foi gerido”. O responsável garantiu ainda que todas as decisões dos últimos três meses foram “aprovadas por unanimidade” na CE, algo que incluiria a aprovação de Marco Galinha.
Em declarações ao PÚBLICO, Marco Galinha deu ainda conta de propostas feitas para solucionar problemas do grupo. "Confirmo que, em conjunto com um grupo de empresários portugueses, propusemos ao representante do fundo realizar um aumento de capital do grupo GM, equivalente a 51% do seu actual capital".
Explicou que "o intuito é estancar a sangria que hoje se verifica no grupo". "Até ao momento não recebemos qualquer resposta por parte do representante do fundo", acrescentou o antigo presidente da Comissão Executiva.
"Sem luz verde do fundo, não é possível salvar a Global Media", concluiu em declarações ao PÚBLICO.
Galinha também confirmou que apresentou "uma oferta de compra do Jornal de Notícias e do Jogo de 12 milhões de euros", que "também não teve resposta". O mesmo empresário sublinhou que a oferta de compra dos dois títulos de media, JN e O Jogo, permitiria assumir a totalidade do pagamento do Regime Excepcional de Regularização Tributária (RERT), de cerca de sete milhões de euros.
Marco Galinha deixou como nota que "esses senhores [o fundo accionista da GM] estão em falta connosco, razão pela qual há um mecanismo judicial em curso".
A referência a mecanismos legais surge também no comunicado enviado às redacções, no qual o antigo presidente da CE ameaça ainda "accionar todos os mecanismos legais e judiciais em defesa dos contratos assinados entre o WOF e as Páginas Civilizadas", depois do prolongamento de "diversos incumprimentos por parte do novo accionista".
Esta quarta-feira foi de greve para os profissionais do grupo, com o salário de Dezembro e subsídio de Natal por receber. Ao atraso no pagamento dos vencimentos, junta-se ainda a ameaça constante de um despedimento colectivo que pode afectar até 200 trabalhadores. O Jornal de Notícias, Diário de Notícias e o jornal desportivo O Jogo não chegaram às bancas esta quinta-feira. Já a TSF preencheu o dia com programação musical, retomando a emissão à meia-noite.
Entre as 14h e as 15h, várias redacções no país pararam. Nas televisões, durante esses 60 minutos, realizaram-se emissões exclusivamente dedicadas ao protesto dos profissionais deste grupo. Com Cristina Ferreira