IL admite comissão de inquérito sobre Global Media. BE pede intervenção do Estado

Em dia de greve dos trabalhadores do grupo Global Media, Rui Rocha concordou com um inquérito parlamentar, tal como a esquerda. Mariana Mortágua admitiu que pode ser necessário nacionalizar o grupo.

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Trabalhadores do Global Media Group levam a cabo nesta quarta-feira uma greve geral em protesto pelos salários em atraso Paulo Pimenta
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O presidente da Iniciativa Liberal (IL) admitiu esta quarta-feira a possibilidade de avançar com uma comissão parlamentar de inquérito à gestão do grupo Global Media, tal como o Bloco de Esquerda (BE) e o Livre, considerando que os trabalhadores podem estar a ser prejudicados por actos "menos transparentes". Já a coordenadora do BE defendeu que o Estado deve intervir, admitindo a necessidade de se nacionalizar o grupo, e pediu uma investigação judicial.

Em declarações aos jornalistas, na estação de comboios do Cacém, onde os trabalhadores da Infra-estruturas de Portugal fizeram greve, Rui Rocha foi questionado sobre a situação dos trabalhadores do Global Media Group (GMG), que esta quarta-feira estão em greve, e a possibilidade de a Assembleia da República avançar com um inquérito parlamentar sobre o tema.

"Creio que, existindo dúvidas, e parece-me que com as audições na Assembleia da República as dúvidas se adensam, seria desejável que na próxima legislatura pudéssemos avançar com uma comissão de inquérito, se até lá não houver uma clarificação dos pontos pendentes", respondeu.

Rui Rocha afirmou que a IL "está disponível para avançar ou apoiar todas as comissões de inquérito que tenham vantagem para o esclarecimento do que se passa, em benefício para os trabalhadores que eventualmente poderão estar a ser prejudicados por actos de gestão menos claros e menos transparentes".

O Bloco de Esquerda e o Livre já admitiram também a necessidade de uma eventual comissão de inquérito parlamentar na próxima legislatura sobre este tema.

Rui Rocha salientou que, no caso do grupo Global Media, "há um conjunto de questões pouco claras sobre o que é que aconteceu ao património dos órgãos de comunicação social incluídos no grupo e quem é que detém as participações".

O líder da IL expressou solidariedade com os trabalhadores que não receberam salários em Dezembro, nem subsídio de Natal, e rejeitou que a solução passe por o Estado ser detentor de órgãos de comunicação social.

"Temos uma visão de que órgãos da comunicação social que ainda são detidos pelo Estado deviam ser privatizados e, portanto, não defendemos que haja uma nacionalização da Global Media e dos seus títulos e órgãos de comunicação social", salientou. Rocha sublinhou ainda a importância de encontrar um modelo de negócio rentável no jornalismo.

BE quer investigação judicial

A coordenadora do BE, por sua vez, juntou-se ao protesto dos jornalistas da Global Media desta quarta-feira em frente à Assembleia da República. Defendendo que os jornais do grupo "têm de ser protegidos" e que é preciso "respeito pelos jornalistas", Mariana Mortágua afirmou que "o Estado tem a responsabilidade de intervir" para "estabilizar a estrutura de accionistas" e "nacionalizar, se for preciso, o grupo, para ou até haver capacidade de um grupo privado ou dos trabalhadores gerirem este grupo".

E considerou ainda que "este caso tem de ser investigado pela polícia, pelo poder judicial". "O que se passa na Global Media é um caso de polícia", acusou, denunciando que "o grupo foi tomado por um acto de gangsterismo económico", que tem um "CEO prestes a ser suspenso em negação" e "accionistas em guerra com fundos na Bahamas que ninguém sabe quem são ou o que estão a fazer com o grupo".

"No meio disto tudo, quem sofre são os jornalistas", lamentou, criticando o facto de não estarem a receber salários e de os conselhos editoriais e as direcções dos jornais estarem "sob ameaça" para tomarem "decisões contra a sua liberdade".

Os trabalhadores do Global Media Group (GMG) — que incluem títulos como JN, DN, TSF, O Jogo, Dinheiro Vivo ou o Açoriano Oriental — estão esta quarta-feira em greve, no mesmo dia em que termina o prazo de adesão às rescisões voluntárias, para mostrar repúdio pela intenção de despedir até 200 profissionais e pela defesa do jornalismo.

Estes profissionais não receberam o salário de Dezembro, nem o subsídio de Natal que, segundo a administração, será pago em duodécimos durante este ano, o que viola a lei.

Notícia actualizada com as declarações de Mariana Mortágua