Metro do Porto: obras na Linha Rubi arrancam sem margem para atrasos. Veja as novas estações
Oito novas estações, uma ponte a dois túneis terão de ser construídos em três anos para respeitar os termos do Plano de Recuperação e Resiliência, que financia a empreitada, sublinhou António Costa.
O prazo de 36 meses para construção da Linha Rubi é “exigente”, admite o presidente da Metro do Porto, Tiago Braga. Mas terá de ser respeitado, sob pena de serem perdidos os 379,5 milhões de euros com que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) financia a linha que vai ligar a Casa da Música, no Porto, a Santo Ovídio, já em Gaia.
O primeiro-ministro, António Costa, foi até Gaia, à cerimónia de consignação da empreitada para assinalar as virtudes do PRR, mas falar no “pequeno problema” do plano: a obra terá de estar concluída até às 24 horas de 31 de Dezembro de 2026”. Apesar da complexidade da obra que arranca nos próximos dias e que leva à construção de oito estações, dois túneis e uma ponte sobre o rio Douro, Costa acredita que é possível cumprir o prazo.
Para já, os pontos mais críticos, explicou Tiago Braga, aos jornalistas, no final da sessão de consignação que decorreu nas Caves Ferreira, em Gaia, numa ligação à figura escolhida para baptizar a nova travessia sobre o Rio Douro (Dona Antónia Ferreira), serão as fundações da ponte e a abertura dos túneis.
A determinada altura, explicou, será preciso ter 16 frentes de obra activas em simultâneo entre Porto e Gaia. Isto, apesar de a Câmara Municipal do Porto já ter vindo, por várias vezes, mostrar desagrado com o impacto que as empreitadas da Metro do Porto (que tem em curso, na cidade, a construção da Linha Rosa e do metrobus da Boavista) têm na circulação rodoviária. O autarca do Porto, Rui Moreira, chegou mesmo a ameaçar não deixar abrir novas frentes de obra, tendo mais recentemente recusado fechar, ainda que de forma temporária, o túnel do Campo Alegre, argumentando que esta é uma “artéria fundamental” daquela zona da cidade.
Segundo Tiago Braga, a decisão ainda não está fechada, mas a Metro está a estudar outras soluções para que não seja preciso fechar o túnel. “Podemos sempre abdicar de uma das saídas [que servirá a estação] do lado da Faculdade de Letras” que seriam muito próximas, disse o responsável. Assim, por causa da insistência da autarquia em não fechar o túnel do Campo Alegre, poderá não ser construído o acesso que, disse o responsável da empresa, terá uma alternativa a cerca de 80 metros.
12 milhões de utilizadores
Nos próximos três anos, além da ponte sobre o Douro, serão construídas pelo consórcio formado pelas empresas Alberto Couto Alves (ACA), FCC Construcción e Contratas y Ventas uma nova estação no Porto (Campo Alegre) e seis outras em Gaia (Arrábida, Candal, Rotunda, Devesas, Soares dos Reis e Santo Ovídio).
Nas pontas, há ligação com a restante rede da Metro do Porto, sendo que em Santo Ovídio haverá ligação aos comboios de alta velocidade. Nas Devesas também há uma interface com o serviço da CP, na Linha do Norte. Está prevista a instalação de estacionamentos de grande dimensão na Rotunda e no Campo Alegre (este último a pedido do município do Porto).
A assinatura do auto de consignação significa que começa o prazo de 36 meses previsto no contrato para construir a linha de 6,3 quilómetros que terá, segundo a Metro do Porto, um raio de influência que abrange um milhão de pessoas. Pode também significar um aumento de 12 milhões de utilizadores anuais para a rede, um número para o qual contribui a ligação ao pólo universitário do Campo Alegre.
Menos carros?
Houve um ponto em que vários dos responsáveis políticos presentes na cerimónia tocaram: a desejável diminuição da dependência do carro. A linha Rubi permitirá evitar 5,2 milhões de viagens de automóvel por ano, o que implicaria uma redução anual de emissões de dióxido carbono estimado em 17475 toneladas.
O presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, falou no papel da nova ponte, destinada exclusivamente ao metro, a peões e bicicletas. António Costa disse que o país terá menos de 50 anos para se preparar para cidades sem automóveis, numa mensagem reforçada pelo ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro: “A política de mobilidade sustentável não é um acessório nem é um capricho, é um compromisso central deste Governo”.
No entanto, apesar de essa necessidade ter já entrado há anos na retórica, não entrou ainda na prática dos portugueses, como mostram os Censos de 2021 e as ruas das cidades: a dependência do carro continua a aumentar e muitos dos autarcas portugueses ainda não tomaram medidas para o contrariar.
Também presente na sessão, Rui Moreira assinalou que o transporte público é “o futuro das nossas cidades”. Mas lembrou também a “sustentabilidade social”, reforçando uma tese que já tinha elaborado e segundo a qual é preciso primeiro desenvolver o transporte público, só depois condicionar o papel do carro do Porto. E isso ficará para o executivo que se seguir, disse, a quem caberá o papel de “maus da fita” de restringir o carro. Mas não sem que antes estejam prontos investimentos como os da Linha Rubi, que terá de estar concluída até ao último minuto de 2026.