Maioria dos universitários do Porto sente declínio na saúde mental com exames
Um inquérito da Federação Académica do Porto (FAP) a 1218 alunos revela que nove em cada dez estudantes inquiridos dizem que sentem um declínio no bem-estar psicológico com a época de exames.
A maioria dos estudantes do ensino superior do Porto diz estar a sentir um declínio na saúde mental com o início da época de exames, indica um inquérito a que a Lusa teve acesso nesta segunda-feira.
Um inquérito realizado pela Federação Académica do Porto (FAP) a 1218 alunos na primeira semana do ano de 2024 — entre 3 e 7 de Janeiro — revela que nove em cada dez estudantes inquiridos dizem sentir um declínio no bem-estar psicológico com a aproximação da época de exames.
"Questionados sobre se a aproximação à época de exames provoca um declínio significativo do bem-estar psicológico, nove em cada dez responderam afirmativamente", lê-se nas conclusões do inquérito.
Os dados recolhidos revelam também que 79% dos 1218 estudantes inquiridos sentiram um "declínio significativo do seu bem-estar psicológico ao longo do primeiro semestre lectivo".
Em declarações à agência Lusa, o presidente da FAP, Francisco Fernandes, diz que este inquérito reflecte uma "situação alarmante" que deveria justificar uma "atenção" do Governo e das instituições de ensino superior.
"A saúde mental não pode ser discurso e depois ser normal os estudantes começarem os exames a 2 de Janeiro ou terem três exames na mesma semana. Há falta de coerência entre o que se diz e o que se faz", declara Francisco Fernandes.
Dados do inquérito revelam que 20% dos estudantes inscritos em exames na época de avaliação em curso tiveram a sua primeira avaliação agendada para os dois primeiros dias úteis do ano (2 e 3 de Janeiro), e, entre estes, mais de metade (56%) realizaram o seu segundo exame até à passada sexta-feira, 5 de Janeiro.
Outro dado que o inquérito revela é que 48% dos estudantes estão inscritos em, pelo menos, cinco exames nesta época de avaliação, referente ao 1.º semestre do ano lectivo.
O presidente da FAP mostra-se "desagradado" com a falta de inovação pedagógica no processo de avaliação.
"O mundo mudou a uma velocidade nunca antes vista, se o ensino superior não se adaptar falhará a sua missão. Os professores do ensino superior são os únicos sem formação pedagógica. O método de avaliação é muitas vezes igual ao do tempo dos nossos avós", observa o presidente a FAP.
Sobre os factores associados ao declínio do bem-estar psicológico, a pressão no desempenho académico é a principal causa, apontada por 95% dos estudantes.
Outro dado é que 45% dos inquiridos consideram que a carga horária lectiva é excessiva e colocam esse factor entre os responsáveis pelo declínio do seu bem-estar psicológico.
"Continuamos com uma carga horária excessiva e aulas expositivas e unilaterais. Em Portugal, o tempo na sala de aula é cerca do dobro de países como o Reino Unido ou a França. É tempo de considerar a proposta da semana de quatro dias e diminuir a carga horária", defendeu o presidente da FAP.
O inquérito revela ainda que na percepção de 75% dos estudantes, esse declínio tem interferido nas actividades académicas, todavia, deste acumulado de estudantes, apenas três em cada dez conseguiram aceder a acompanhamento psicológico, sendo que 71% considera que o recurso a esse tipo de apoio é dispendioso.
Quando questionados sobre se já ponderaram interromper ou abandonar definitivamente o Ensino Superior, quatro em cada dez estudantes responderam afirmativamente, sendo que 30% responderam ter ponderado interromper e 10% declararam ter ponderado abandonar definitivamente.
A amostra foi constituída por um total de 1222 estudantes inscritos em instituições de ensino superior da academia do Porto, sendo 54% do ensino universitário público, 30% do ensino politécnico público e 16% do ensino particular e cooperativo.