No futebol saudita, o eldorado começa a perder o brilho
Os clubes que queiram gastar dinheiro terão de fazê-lo pelas suas tesourarias internas, o que dificultará a sedução a jogadores através do dinheiro do governo. Jorge Jesus pode “esfregar as mãos”.
É possível que o idílio saudita, com um cenário de dinheiro ilimitado para os clubes de futebol, esteja a caminho de terminar. Para já, trata-se apenas de um ligeiro retrocesso, numa espécie de marcha-atrás que é, ainda assim, um sinal do que poderá estar por vir.
Segundo o jornal AS, o fundo soberano saudita (PIF) – que tem alimentado os principais clubes do país numa demanda sem limites por craques de futebol – estipulou que neste Inverno não haverá “caixotes” de dinheiro para transferências de futebolistas.
Os clubes que queiram gastar dinheiro terão de fazê-lo com recurso às suas tesourarias internas, o que dificultará, naturalmente, o processo de sedução a jogadores cuja motivação é, em quase todos os casos, meramente financeira.
Esta nova regra afectará os quatro clubes financiados pelo governo saudita através do PIF: Al Hilal, Al Nassr, Al Ittihad e Al Ahli.
Jesus beneficia
Além desta ordem para investirem por si próprios, o governo saudita estipulou ainda regras mais apertadas para a contratação de estrangeiros.
O AS garante, ainda assim, que o plano saudita continua a ser o de apetrechar o campeonato com craques de nível mundial. A decisão tomada agora estipula apenas um fechar de torneira durante o mercado de Inverno – mas não é assim tão pouco, já que é o primeiro sinal de que o “poço” de dinheiro saudita tem um chão mais próximo do que o mundo pensava.
A decisão do governo saudita beneficia de forma evidente o Al Hilal, de Jorge Jesus, cuja liderança destacada não será beliscada por um reforço massivo dos plantéis rivais.
Em sentido oposto, o Al Ittihad tem um cenário mais grave do que os restantes clubes, já que a posição abaixo do esperado na tabela sugeriria investimento forte em Janeiro. A subida de posições até poderá ser feita com ajuda de alguns reforços, mas nunca com jogadores de primeira água, que poderiam ser seduzidos pelo dinheiro do PIF.
Jogadores descontentes
A esta decisão junta-se o facto de alguns jogadores estarem a pensar fazer as malas. Um deles é Karim Benzema – que pode significar mais problemas para o Al Ittihad. O avançado francês "desertou" há dias e adensou-se a ideia de que quer deixar o futebol saudita, mesmo que o clube tenha feito controlo de danos, mais tarde, garantindo que permitiu ao futebolista a viagem a Madrid, por motivos pessoais.
Outro jogador que estará a querer regressar à Europa é o avançado brasileiro Roberto Firmino e outro ainda é o britânico Jordan Henderson.
Segundo a imprensa inglesa, o médio está disposto a abdicar dos 800 mil euros semanais pela possibilidade de se mostrar mais a Gareth Southgate, seleccionador de Inglaterra.
A ida de Henderson para a Arábia Saudita já tinha sido, em tese, um plano para poder jogar mais do que no Liverpool – além de somar milhões, naturalmente –, mas o jogador sente, segundo o Daily Mail, que não está a dar nas vistas o suficiente, até pelo nível assim-assim do Al Ettifaq, oitavo classificado. Na cabeça de Henderson estará o Euro 2024, que lhe fugiu por entre os dedos nos últimos meses.
Tudo isto pode ser circunstancial? Pode. Mas também pode não ser. E a primeira vez que os sauditas “fecham a torneira” será sempre notícia.