Palcos da semana: mudar o mundo com danças de Idiota e humanidade

A dança de Marlene Monteiro Freitas, o teatro d’As Formigas, uma ópera feminista da Mala Voadora, notas de piano e uma peça do Trigo Limpo para esquecer ou mudar.

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A dança Idiota de Marlene Monteiro Freitas, dentro e fora da caixa Bea Borgers
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O virtuosismo de Maria João Pires marca o Ciclo de Piano da Casa da Música DR
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A humanidade d’As Formigas pelo Chapitô Rui Rebelo
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Museu do Esquecimento ou Vamos Mudar o Mundo, um exercício de reflexão sobre a educação das gerações futuras Daniel Nunes
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It’s Not Over Until The Soprano Dies, o manifesto da Mala Voadora sobre óperas que acabam mal António MV
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Dança não dança, dentro ou fora da caixa

Dentro de uma caixa transparente, de corpo ora suspenso ora equilibrado, uma estranha figura testa o espaço que a encerra, evocando arquétipos e geometrias, abraçando a metamorfose em figurinos vários que remetem para o imaginário coreográfico da criadora.

É neste balanço fluido que se movimenta Idiota, a performance criada por Marlene Monteiro Freitas em 2022 e aqui apresentada pela primeira vez em solo nacional, depois de se ter estreado num antigo armazém recuperado em Bruxelas, cortesia do belga Kunstenfestivaldesarts.

Nesse lugar, como na escadaria principal da Fundação Calouste Gulbenkian onde agora se abre ao olhar português, a bailarina e coreógrafa cabo-verdiana dá corpo a um solo que vem calibrado entre o mito da caixa de Pandora e o diálogo com a obra do artista plástico compatriota Alex Silva (1974-2019). Da tela de pintura à caixa “translúcida, reflectora e permeável, [que] é simultaneamente vitrine e espelho”, faz notar a sinopse, este é um lugar “de aprisionamento e libertação”.

Integrada no ciclo Dança Não Dança – Arqueologias da Nova Dança em Portugal, a peça vem complementada com Miquelina e Miguel do coreógrafo Miguel Pereira, reservada na agenda para 4 de Fevereiro.

Virtuosismo e “pura poesia” ao piano

A abrir o Ciclo de Piano da Casa da Música, está o jovem talento António Areal, creditado como “uma das promessas do pianismo em Portugal”.

Não é trunfo único nas contas nacionais. Deste que é o país em destaque no programa da sala portuense para 2024, vêm também os consagrados Maria João Pires e Mário Laginha.

O sul-coreano Seong-Jin Cho, os russos Grigory Sokolov e Olga Kern, e os croatas Lovre Marušić e Martina Filjak completam o lote de convidados a abrilhantar com virtude e poesia os oito recitais que compõem o ciclo.

A humanidade d’As Formigas

E se todos se recusassem a fazer a guerra? É esta a pergunta que ecoa na nova criação da Companhia do Chapitô (a 40.ª), que leva às tábuas um retrato de soldados nas trincheiras inspirado no conto de Boris Vian.

Entre o caos, a loucura, a lama, o desespero, a devastação e o cheiro a morte do cenário bélico, questiona-se (e repudia-se) a “normalidade” da guerra, a desumanização e a “fragilidade humana diante da brutalidade do campo de batalha”, sublinha o grupo.

Bruno Pardo, Jorge Cruz, Pedro Diogo e Pedro da Silva compõem o elenco. A encenação vem assinada por José Carlos Garcia.

Resignar ou mudar, eis a questão

O imaginário literário de Afonso Cruz acerta o passo à nova peça do Trigo Limpo Teatro ACERT. Estreada em Dezembro passado, Museu do Esquecimento ou Vamos Mudar o Mundo começa a desfiar-se numa loja de pássaros em zona de guerra.

Com bombas a cair lá fora, e apesar do contexto pedir o contrário, continua a ser lugar de refúgio e deslumbramento de uma família. Findo o conflito, é tempo de abrir a porta a um mundo novo, cenário que pode ser desafiador quando “o medo impera e tudo é quantificado”.

A solução passa por comprar um poeta que, com a sua “delicadeza e forma inspiradora de ver o mundo”, abala as estruturas e sacode os medos do coração, que muito vivem das memórias.

Com dramaturgia de Pompeu José e Catarina Requeijo, um exercício de reflexão sobre a educação das gerações futuras. Ou, no repto do próprio Afonso Cruz, “devemos cozinhar crianças resignadas com o mundo ou devemos criar crianças criativas?”.

Árias que acabam mal

It’s Not Over Until The Soprano Dies é um manifesto. Hasteado e aqui estreado pela Mala Voadora, apresenta-se como uma “ópera feminista” centrada nas árias finais de obras que acabam mal (que são muitas), mais especificamente na subjugação, no sofrimento e na morte das personagens femininas (também em doses generosas).

É precisamente na quantidade, na vertigem e na brutalidade dessas mortes – “à facada, queimadas, por doença, afogadas, envenenadas, de medo, ou de causa desconhecida”, detalham –, aspectos que vão muito além da “sedução operática”, que se foca este mosaico.

Com produção partilhada pelo São Luiz Teatro Municipal, o Coliseu do Porto e o teatro alemão Landesbühnen Sachsen, vai a cena pelas mãos da Orquestra Metropolitana de Lisboa, com arranjos e direcção de Nuno Côrte-Real.

No elenco estão nomes como Bárbara Barradas, Cátia Moreso, Eduarda Melo, Marco Alves dos Santos, Carlota Lagido, Danilo da Matta, Francisco Rolo, Jorge Andrade ou Tânia Alves.

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