Refundar a confiança parental

Há pais que experimentam dificuldade em assumir a liderança na educação dos filhos, procurando externamente a confiança que internamente não possuem.

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"Inseguros nesse novo papel de recém-pais, nem tão pouco têm oportunidade de se apoiar no saber dos avós" Danik Prihodko/pexels
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Nunca se pensou tanto sobre educação. Nunca se falou tanto sobre educação. Nunca se escreveu tanto sobre educação. Nunca se opinou tanto sobre educação. Nunca se questionou tanto sobre educação. Nem nunca se soube tanto sobre educação. Mas — aqui vem o mas —, ao mesmo tempo, nunca se duvidou tanto em matéria de educação. Nem tão-pouco houve tanta insegurança nesta área. Tal como também nunca houve tantos equívocos a nível educativo. Educar nunca pareceu uma tarefa tão difícil, complexa e exaustiva.

A evolução do conhecimento nas áreas da psicologia, pedagogia, neurologia e pediatria tem sido muito relevante para a maior atenção dada ao período da infância, às etapas do desenvolvimento infantil e às condições que melhor promovem o desenvolvimento da criança. Em contrapartida, esta tendência corresponde a uma maior influência do aconselhamento profissional na educação das crianças, que ocupa o lugar de transmissão do saber familiar e da confiança no instinto parental.

Esta alteração pode dever-se à conjugação de diversos fatores. Com a diminuição do tamanho das famílias, foram-se reduzindo as interações que naturalmente se estabeleciam com irmãos mais novos, sobrinhos ou primos pequenos, fundamentais para uma maior familiarização com os cuidados infantis. Sem essa experiência, só após o nascimento do primeiro filho é que muitos pais mudam pela primeira vez uma fralda, dão biberão a um bebé ou cuidam da sua higiene diária. Inseguros nesse novo papel de recém-pais, tão- pouco têm oportunidade de se apoiar no saber dos avós, seja porque estes ainda são muito ativos profissionalmente, seja porque habitam longe, ou porque, à luz das novas diretrizes, a sua experiência parece ultrapassada.

Como as recomendações com o cuidado dos mais novos estão sempre a mudar, com novas diretrizes que contrariam as anteriores num curto período de tempo, aquele saber de experiências feito que passava de geração em geração parece ter perdido a validade ou, pelo menos, necessitar permanentemente da validação de um profissional.

Aos conselhos médicos juntam-se outros provenientes de correntes educativas alternativas, algumas bem fundamentadas e credíveis, com propostas válidas, e outras de qualidade duvidosa, que carecem de sustentação e, não raras vezes, até de sensatez e consistência. Com a facilidade e rapidez de divulgação na Internet, a informação é mais do que muita, tornando-se difícil avaliar a qualidade e seriedade da mesma, de modo a fazer escolhas criteriosas e ajustadas.

E não são apenas os cuidados com as crianças que são matéria de divulgação. São os estilos educativos a nível psicológico e comportamental; as recomendações pedagógicas para o sucesso escolar e a ocupação dos tempos livres dos mais novos; as últimas descobertas a nível neurológico, que explicam como estimular o cérebro infantil; e ainda as preocupações com as perturbações ou dificuldades que podem afetar esse mesmo desenvolvimento.

A estas correntes educativas sucedem-se infindáveis dicas de influencers, que expõem à curiosidade alheia famílias aparentemente perfeitas, com pais lindos, maravilhosos e bem-sucedidos, que conjugam a parentalidade com a profissão e o lazer com a maior das facilidades, permanentemente com um sorriso nos lábios. Com filhos sempre bonitinhos, arranjadinhos e fotogénicos, divulgam uma imagem ideal e idealizada, com a qual o comum dos mortais não pode competir, sem sair a perder na comparação. Como se não bastasse, algumas destas personalidades partilham experiências e emitem opiniões que podem ser desajustadas, exercendo uma influência nociva sobre os seus seguidores.

Ainda para mais, não raras vezes a informação divulgada nas redes sociais é contraditória, fazendo com que os pais que a consultam se sintam confusos e inseguros, sem saberem qual a melhor opção a tomar. Assim, sem transmissão do saber familiar, sem estarem certos de qual é a melhor recomendação a seguir e sem confiança na sua intuição para lidarem com os desafios da educação, há pais que experimentam dificuldade em assumir a liderança na educação dos filhos, procurando externamente a confiança que internamente não possuem.

Perante estas parafernália de dicas educativas, nunca será de mais reforçar que — apesar de o saber sobre educação ser útil e de, por vezes, poder ser necessário recorrer a um especialista — para educar uma criança é tão ou mais relevante o conhecimento que os pais têm do seu próprio filho, que é sempre um ser único e especial. Nesta matéria, os pais são sempre — e como não poderia deixar de ser — os maiores especialistas sobre os seus filhos. São os pais que, melhor do que ninguém, conhecem cada um dos seus filhos em profundidade, estabelecendo uma relação única com cada um deles, que se constrói, ao longo do tempo, com sensibilidade e confiança, tendo em conta a personalidade de cada criança.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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