Jeffrey Epstein: novos documentos publicados sem novos nomes célebres, mas com detalhes dos crimes

Segundo lote de documentos detalha como o financeiro recrutava raparigas e ainda como terá recorrido à intimidação para manter os seus crimes secretos.

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Jeffrey Epstein relacionava-se com nomes célebres como os ex-presidentes Donald Trump e Bill Clinton, o cantor Michael Jackson ou o ilusionista David Copperfield Reuters/SHANNON STAPLETON

Uma nova leva de documentos relativos aos crimes de Jeffrey Epstein, que descrevem a forma como o antigo financeiro utilizava as suas ligações aos ricos, poderosos e famosos para recrutar as suas vítimas e manter as suas actividades ocultas, foram publicados nesta sexta-feira.

São 19 relatórios, de cerca de 300 páginas, que se juntam a mais de 40 documentos tornados públicos no dia anterior e que trazem detalhes de como o financeiro atraía raparigas para a sua teia, com relatos de antigas vítimas.

Os nomes que surgem neste conjunto de documentos não são novos (volta a haver referência às personalidades já conhecidas que estiveram envolvidas com Epstein de alguma forma, ainda que na maioria dos casos não se demonstre qualquer participação nos seus crimes), mas reforça-se a ideia de que foram usados para Epstein conseguir o que queria: manter a sua rede de tráfico activa e longe do conhecimento do público, mesmo que tivesse que recorrer à ameaça.

Há um novo depoimento de uma jovem de liceu que foi a casa do magnata a achar que tinha sido contratada para lhe fazer uma massagem. “Não me lembro exactamente de como fui convidada a ir lá. Estava lá e, de repente, aconteceu-me uma coisa horrível”, lê-se do seu testemunho, ao longo do qual reforça o trauma: “Esforcei-me muito, muito mesmo, para não me lembrar de nada específico sobre os meus encontros sexuais com esta pessoa.” Questionada, a mulher admitiu ter levado outras raparigas, “amigas, colegas de escola”, ao encontro do financeiro e que este lhe pediu para ir viver com ele. “Ele queria que me emancipasse”, contou.

Noutro documento, explora-se a possibilidade do ex-presidente Bill Clinton, cujo nome já fora associado ao financeiro, ter estado envolvido no encobrimento dos crimes de Epstein. Num email, Virginia Giuffre escreve à jornalista Sharon Churcher que Clinton entrou na redacção da Vanity Fair e ameaçou a revista “para não escreverem artigos de tráfico sexual sobre o seu bom amigo J. E.”

O momento já fora exposto num site, em 2007, mas o jornalista responsável pela história, John Connolly, negou ter havido qualquer influência por parte de Clinton. O editor da revista na altura, Graydon Carter, também negou a acusação. Anos depois, porém, Connolly mudou a sua versão dos factos.

Em 2019, o ano em que Epstein foi detido (e que se suicidou), o jornalista admitiu que Epstein tinha ameaçado Carter durante uma investigação da Vanity Fair à conduta sexual do financeiro. Um artigo de 2003, de Vicky Ward, ficou na gaveta e Carter justificou a decisão pelo facto de os testemunhos não serem credíveis; e, anos depois, o próprio Connolly recebeu instruções de Carter para interromper uma investigação a Epstein, já que temia pela segurança dos seus filhos — um gato morto tinha sido colocado à porta da casa do editor.

Os documentos que estão a ser publicados estão relacionados com uma acção civil de 2015 interposta por Virginia Roberts Giuffre, uma das vítimas de Epstein, contra Ghislaine Maxwell, acusada de facilitar os crimes do empresário (e que, noutro caso, de 2021, foi condenada e sentenciada a 20 anos de prisão).

O primeiro caso ficou resolvido em 2017, mas, em Dezembro, a juíza Loretta A. Preska, do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova Iorque, deliberou que os documentos fossem publicados sem restrições, tendo em conta que as identidades já tinham sido reveladas na comunicação social ou noutros processos judiciais.

Entre esses nomes estão os antigos presidentes Donald Trump e Bill Clinton, o cantor Michael Jackson ou o ilusionista David Copperfield, cujas ligações o financeiro usava para atrair as jovens. No entanto, os documentos não revelam qualquer crime que poderia ter sido cometido por essas pessoas. Já o príncipe André foi processado pela própria Giuffre, que afirmou ter tido encontros sexuais com o monarca quando era ainda menor. André negou as acusações, mas acabou por resolver o caso num acordo extrajudicial.

O ex-embaixador e antigo governador do Novo México Bill Richardson (que morreu em 2023), o agente de modelos francês Jean-Luc Brunel (que se suicidou em 2022, enquanto aguardava julgamento por violação de menores) e o gestor Glenn Dubin são outras figuras com quem Virginia Giuffre diz ter tido encontros sexuais promovidos por Ghislaine Maxwell.

Mais documentos deverão ser tornados públicos nos próximos dias.

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