Hospitais aumentam camas e reforçam equipas para responder à pressão nas urgências
Presidente da associação dos administradores hospitalares admite que poderá vir a ser necessário suspender actividade programada se não for possível resolver problema a curto prazo.
Perante a contínua pressão sobre as urgências, os hospitais estão a activar os seus planos de contingência para o Inverno. São medidas que passam pelo aumento do número de camas, um reforço das equipas nas urgências e a agilização no processo de altas, refere o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), que admite a possibilidade de suspensão de actividade programada caso não seja possível atenuar a situação a curto prazo.
“Houve um aumento do número de camas em vários hospitais. Coimbra foi um deles, o Hospital de Santa Maria está em nível laranja”, afirma o presidente da APAH, Xavier Barreto, referindo não ter, para já, informação de que esteja a ser desmarcada actividade programada, nomeadamente cirurgias, de forma generalizada nos hospitais.
Esta é uma das várias medidas previstas nos planos de contingência e, por altura da pandemia ou em picos de gripe noutros Invernos, foi accionada por alguns hospitais. “Desejavelmente, não devíamos chegar aí, mas pode acontecer. Ainda não atingimos o pico da gripe, haverá um aumento do frio nos próximos dias. Temos alguns hospitais a indicar que estão com taxas de ocupação de 80% a 85% nas unidades de cuidados intensivos”, aponta.
Xavier Barreto refere que os hospitais estão a “tentar conter” a elevada pressão que estão a sentir, “alocando mais vagas de internamento, a reforçar as equipas do serviço de urgência, a dar mais altas, nomeadamente de casos sociais”.
“Há um esforço enorme para libertar camas para responder aos doentes que chegam às urgências e que precisam de internamento”, afirma o responsável, acrescentando que, em caso de dificuldade, os hospitais podem ainda activar a rede de colaboração entre unidades. “Se nada funcionar, resta desmarcar actividade programada para acomodar a procura do serviço de urgência”, admite.
Na Unidade Local de Saúde de Viseu Dão-Lafões, esta foi uma das medidas já activadas. Segundo a Lusa, a unidade considerou ser “necessário garantir capacidade de internamento adicional, suspendendo actividade cirúrgica electiva, facilitando assim os internamentos a partir do SU [serviço de urgência] e preservando a capacidade de resposta em urgência/emergência”. Está igualmente prevista a alocação de camas de algumas enfermarias para o internamento de doentes respiratórios.
O Ministério da Saúde divulgou, esta quinta-feira, uma lista de 42 centros de saúde, de norte a sul do país, abertos no fim-de-semana e após as 20h nos dias úteis, “reforçando a importância de não recorrer directamente aos serviços de urgência em situações não-emergentes”.
Bombeiros vão cobrar taxa
Esta quinta-feira, a Liga dos Bombeiros Portugueses fez saber que vai começar a cobrar, a partir do dia 10, uma taxa aos hospitais pela retenção de macas e, consequentemente, das ambulâncias. Um valor que começará nos 50 euros pelo primeiro bloco de duas horas adicionais e que poderá ascender a 150 euros se a paragem for mais prolongada.
A “indisponibilidade de ambulâncias só porque o hospital não tem capacidade para colocar os doentes em macas suas é inadmissível”, afirmou o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses ao PÚBLICO. “Não podem ser os bombeiros a deixar a ambulância parada, sabendo que faz falta no quartel”, afirmou António Nunes, que na próxima semana se reúne com a Direcção Executiva do SNS.
Xavier Barreto afirma ser “solidário” com os bombeiros e que “é muito contraproducente ter macas retidas” nos hospitais. “As ambulâncias têm de estar na rua a acudir doentes. Eles têm muita razão”, diz, mas considera que a existência de uma taxa não vai resolver o problema. “Temos de encarar a causa-raiz e resolvê-la. E isto está muito relacionado com a falta de camas. Os hospitais não têm camas de internamento, as urgências ficam sobrelotadas e não conseguem devolver as macas aos bombeiros. O foco tem de ser esse”, aponta.
O presidente da APAH admite que, se se estivesse a parar alguma actividade programada, “se calhar não tínhamos ambulâncias paradas”. “Se não conseguirmos resolver o problema a curto prazo, a questão da paragem [de actividade programada] começa a ser mais pertinente”, assume, lamentando que no último ano não tenha existido nenhuma resolução para o doente agudo. “Não criámos equipas dedicadas à urgência, a abertura dos centros de saúde em horário adicional é episódica e não cria uma cultura para se recorrer primeiro aos cuidados de saúde primários”, exemplifica.