Tal Mitnick tem 18 anos e recusou-se a juntar-se ao exército israelita. Por isso, foi levado a julgamento e vai ter de cumprir uma pena de 30 dias na prisão, que se deverá prolongar se, após a pena, não se alistar.
“Acredito que uma matança não pode resolver outra matança”, disse esta terça-feira o jovem num vídeo publicado na rede social X, à entrada da base militar de Tel Hashomer, onde vai cumprir a pena. “O ataque criminoso a Gaza não vai resolver o assassínio atroz levado a cabo pelo Hamas. A violência não vai resolver violência. É por isso que me recuso.”
O vídeo foi publicado na conta do Mesarvot, um grupo de apoio a pessoas que se recusam a servir. Esta recusa é, em geral, muito mal vista numa sociedade altamente militarizada, como a israelita, onde o serviço militar é obrigatório para todos os homens e mulheres que sejam judeus e completem 18 anos. Os homens devem servir pelo menos 32 meses e as mulheres 24. Quem se recusa a fazê-lo, sujeita-se a pena de prisão e a ser considerado traidor.
Apesar de existir um comité de objectores de consciência, as excepções ao serviço militar são aceites quase unicamente com base em princípios religiosos, sendo que princípios políticos não são tidos como uma objecção válida.
Mitnick é o primeiro objector de consciência a ser preso desde o início do ataque de Israel a Gaza e, segundo o Jerusalem Post, foi-lhe dada uma pena “excepcionalmente longa” para pessoas que se recusam a juntar-se ao exército pela primeira vez.
Além do vídeo, os representantes do jovem lançaram também um comunicado onde Mitnick expressava a descrença nos ataques israelitas, que já mataram mais de 20 mil palestinianos: “Recuso-me a acreditar que mais violência vai trazer segurança e recuso-me a participar numa guerra motivada pela vingança. Num mundo repleto de interesses corruptos, a violência e a guerra são uma forma de aumentar o apoio a um governo e silenciar as críticas”, diz o comunicado, citado pelo Jerusalem Post.
O jovem defendeu que a narrativa de que não era possível negociar com o Hamas era “simplesmente falsa” e alertou para a necessidade de esforços diplomáticos.
“Devemos reconhecer que depois de semanas de operações em Gaza, foram as negociações, foi um acordo que trouxe os reféns para casa. E foi uma acção militar que causou a sua morte. Por causa da mentira criminosa de que ‘não há civis inocentes em Gaza’, até reféns [israelitas] com uma bandeira branca e a gritar em hebreu foram mortos. Nem quero imaginar quantos casos como este aconteceram e não foram investigados porque as vítimas nasceram do lado errado da rede.”
Outros protestos
Em Março último, houve uma vaga de protestos contra a reforma judicial proposta pelo Governo de Benjamin Netanyahu, que ditava o fim do contrapeso que o sistema judicial faz ao sistema político em Israel. Uma vez que o país não tem uma Constituição, uma maioria parlamentar ficaria sem restrições ao poder, o que poderia constituir uma ameaça à democracia.
Neste contexto, um grupo de pilotos da força aérea não compareceram a um exercício, como forma de protesto à reforma. Nethanyahu respondeu que “não havia lugar para recusas”, uma vez que o serviço militar é “o primeiro e mais importante pilar” de Israel. Assim sendo, “as recusas ameaçam a existência dos israelitas”.
Na mesma altura, 700 reservistas despediram-se e 200 estudantes avisaram que se iriam opor a um eventual alistamento em protesto não só contra a reforma judicial, mas também contra a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Antes, em 2003, já um grupo de pilotos da força aérea se tinha recusado a participar em operações na Cisjordânia e em Gaza, alegando que os ataques eram “ilegais e imorais”.
Mas a objecção de consciência é protegida pela lei internacional. Di-lo o artigo 18.º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, ou a Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que determina que os estados devem “abster-se de submeter a prisão os objectores de consciência e de, repetidamente, os castigarem por não fazerem serviço militar”.