A herdeira da L'Óréal, Françoise Bettencourt-Meyers, tornou-se a primeira mulher a acumular uma fortuna de 100 mil milhões de dólares (mais de 90 mil milhões de euros). De acordo com o Bloomberg Billionaires Index, na quinta-feira, a sua fortuna subiu para 100,2 mil milhões de dólares, catapultando-a para a 12.ª posição do índice. O marco foi atingido quando as acções da L'Oréal SA, o império de produtos de beleza fundado pelo seu avô, subiram para um nível recorde, com as acções a terem o seu melhor ano desde 1998.
Apesar disso, a fortuna de Bettencourt-Meyers é significativamente inferior à do seu compatriota francês Bernard Arnault, fundador do conglomerado de luxo LVMH, que na quarta-feira ocupava o segundo lugar no ranking global com 179,4 mil milhões de dólares (cerca de 162 mil milhões de euros). O primeiro da lista é Elon Musk, dono de Tesla, Starlink e X, com 238 mil milhões de dólares (cerca de 215 mil milhões de euros).
Mas há outras famílias francesas ligadas à indústria e ao retalho da cosmética, perfumaria e moda de luxo, no ranking dos mais ricos, como é o caso do clã por detrás da Hermes International SCA, que acumulou a maior fortuna familiar da Europa; e os irmãos Wertheimer, proprietários da Chanel.
Aos 70 anos, Françoise Bettencourt-Meyers é vice-presidente do conselho de administração da L'Oréal, uma empresa com uma dimensão mundial de 241 mil milhões de euros, na qual ela e a sua família são os maiores accionistas, com uma participação de quase 35%.
O marido, Jean-Pierre Meyers, com quem casou em 1984, é director-executivo da Téthys, a sociedade gestora de participações sociais da família, a que Bettencourt-Meyers preside. Esta sociedade, que não compete com a L'Oréal e é parcialmente financiada por dividendos daquela, faz "investimentos directos a longo prazo em projectos empresariais", refere a Bloomberg. Por exemplo, no ano passado, comprou a marca de moda Sézane, e investiu no operador francês de hospitais privados Elsan.
Batalha judicial
Filha única e bastante reservada, Françoise tornou-se a mulher mais rica do mundo depois da morte da mãe, em 2017, aos 94 anos. Então, Liliane Bettencourt era, segundo a revista Forbes, a mulher mais rica do mundo, com uma fortuna na casa dos 37 mil milhões de euros. No entanto, na lista dos mais ricos ficava em 14.ª posição.
Mãe e filha tinham uma relação conflituosa, sobretudo depois da morte do pai, o ministro conservador Andre Bettencourt, em 2007. Liliane esteve envolvida em vários escândalos — como o alegado financiamento da campanha presidencial de Nicolas Sarkozy e das perdas de investimento no esquema Ponzi de Bernard Madoff —, o que levou a justiça francesa a nomear Françoise Bettencourt-Meyers e os seus dois filhos, Jean-Victor e Nicolas Meyers, responsáveis por Liliane, em 2011.
Mais tarde, Bettencourt-Meyers processou o fotógrafo, escritor e actor François-Marie Banier, acusando-o de aproveitar-se financeiramente da mãe. Ao longo de vários anos, Liliane ofereceu a Banier cerca de mil milhões de euros em dinheiro, seguros de vida e presentes, entre eles obras de Picasso, Matisse, Mondrian, Delaunay, Léger e Man Ray. O homem esteve durante anos no testamento de Liliane Bettencourt, mas acabaria por ser retirado e condenado, em 2015, a três anos de cadeia, com seis meses de pena suspensa, e a devolver 15 milhões de euros à família.
A longa batalha judicial acabou por se tornar um escândalo político, após a revelação de conversas gravadas secretamente pelo mordomo de Liliane. O caso foi retratado num documentário lançado no mês passado pela Netflix, “A bilionária, o mordomo e o namorado”.
Françoise Bettencourt-Meyers manteve a sua vida privada longe dos holofotes e escreveu dois livros: um estudo de cinco volumes sobre a Bíblia e uma genealogia dos deuses gregos. Também é conhecida por tocar piano diariamente, durante horas, refere a Bloomberg.
A L'Oréal foi fundada, em Paris, em 1907, pelo químico de origem alemã Eugene Schueller — inicialmente a marca chamava-se L'Auréale, —, que descobriu uma fórmula para pintar o cabelo que não era tóxica.