Já se sabia que um dos grandes destaques editoriais do próximo ano é a publicação do romance póstumo de Gabriel García Márquez, Vemo-nos em Agosto, que a Dom Quixote irá publicar em Março. Também no próximo ano chega às livrarias portuguesas o romance The Bee Sting, do escritor irlandês Paul Murray, que perdeu o Prémio Booker mas apareceu como melhor livro do ano em inúmeras listas. Vai ser publicado em Portugal, no segundo semestre de 2024, pela Livros do Brasil.

Pretextos é o título do livro do professor Helder Macedo que a Editorial Caminho irá publicar em Fevereiro. "O mundo, com destaque para Portugal, visto dia a dia a partir de Londres, por um dos mais brilhantes intelectuais portugueses", revela a editora. Também a escritora e académica brasileira Djaimila Ribeiro vai começar a ter a sua obra publicada em Portugal com Cartas para a Minha Avó a ser publicado também pela Caminho em Abril.

Duas outras obras marcaram internacionalmente este ano editorial. Um deles é o romance histórico A Fraude, da escritora Zadie Smith, que sairá em Fevereiro e o outro é o romance Desertar, de Mathias Énard, que chegará em Junho. Ambos editados pela Dom Quixote.

Depois de feito o balanço dos melhores do ano pelo Ípsilon, que pode ser consultado aqui, fizemos uma ronda pelas escolhas internacionais de vários jornais e revistas.

Na próxima sexta-feira, o poeta, editor e tradutor Manuel de Freitas está na capa do Ípsilon. O jornalista Luís Miguel Queirós entrevistou-o. É um dos grandes autores de 2023.

Já nas livrarias

CONTOS

Certas Raízes
Autoria: Hélia Correia
Editora: Relógio D’Água
104 págs., 17 €
Já nas livrarias

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"O professor ia fazer sessenta anos. Isso, se bem que assustador, tinha resposta, considerava. Que resposta, não sabia. Algo que se parecesse com um escândalo. Pois muito escandaloso era aquele número a cair como lâmina na nuca. Homens havia com aquela idade que namoravam raparigas e as levavam para dentro de casa onde decerto elas tentavam ensiná-los a dançar. (…) As raparigas eram uma ponte a que o homem de idade se elevava para alcançar de novo a experiência do sexo." Assim começa Aniversário, que com os contos Denunciar vezes SeteA Posse e Certas Raízes, é inédito. Servindo o CháIntervencionados e Inferno da Prémio Camões 2015 saíram anteriormente na Granta.

NÃO-FICÇÃO

Irmã Marginal | Sister Outsider
Autoria: Audre Lorde
Tradução: Gisela Casimiro
Editora: Orfeu Negro
312 págs., 18€.
Já nas livrarias

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"Para as mulheres, a poesia não é, pois, um luxo. É uma necessidade vital da nossa existência. Forma a qualidade da luz pela qual manifestamos as nossas esperanças e sonhos no sentido da sobrevivência e da mudança, tornando-os primeiro linguagem, depois ideia, e depois acção mais tangível.(…) Os missionários brancos disseram-nos: penso, logo existo. A mãe negra em cada uma de nós – a poeta – sussurra-nos nos sonhos: sinto, logo posso ser livre." Estas são palavras da poetisa e pensadora afro-americana Audre Lorde (1934-1992), nesta obra canónica dos estudos feministas onde estão reunidos ensaios, discursos, cartas e entrevistas do período compreendido entre 1976 e 1984.

FICÇÃO

Tasmânia
Autoria: Paolo Giordano
Tradução: Vasco Rato
Editora: Dom Quixote
304 págs., 18,80€
Nas livrarias a 14 de Novembro

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Nas palavras da editora, este é "um romance sobre o futuro", "sensível e contemporâneo, que aborda o tema do apocalipse em todas as suas nuances: as alterações climáticas, o terrorismo religioso, a cultura do cancelamento, a fragilidade da amizade, os casamentos desfeitos e a paternidade falhada — e, por detrás de tudo, a ameaça da bomba atómica", acrescenta a editora. O mais recente romance do autor italiano que ganhou projecção mundial com A Solidão dos Números Primos (2008, Prémio Strega e Prémio Campiello Opera Prima, romance adaptado ao cinema) tem como narrador um escritor e jornalista com formação científica que vai a Paris assistir à Cimeira do Clima (COP21), poucos dias depois dos atentados jihadistas. Paolo Giordano (Turim, 1982) é licenciado em Física e ganhou uma bolsa de doutoramento em Física de Partículas.

NÃO-FICÇÃO

O Dicionário dos Sabores - Mais Verde
Autoria: Niki Segnit
Tradução: Raquel Dutra Lopes
Editoria: Lua de Papel/Leya
544 págs., 22€
Nas livrarias a 14 de Novembro

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Depois de o premiado O Dicionário dos Sabores ter sido publicado, começaram a perguntar à especialista em harmonia dos sabores quando poderia expandi-lo de forma a cobrir mais sabores. "A minha primeira reacção foi: e que tal nunca?", conta na introdução onde explica a razão pela qual mudou de ideia. Havia sabores que não incluíra no primeiro livro, este tem 66 novos sabores e 26 do original — "se bem que valha a pena ressalvar que todo o material é novo". Miso; arroz integral; cevada; chocolate; várias leguminosas; trigo-sarraceno, aveia, milho, mel, tomate, beringela... são alguns. "Curgete e queijo: Deixe de procurar no Google ‘o que fazer com um excesso de curgetes’ e vá à queijaria. O prato do Médio Oriente kousa bi gebna é similiar a um gratinado de curgete ou a uma quiche sem massa (...)" é um dos seus conselhos.

No Leituras podem consultar as novidades que têm chegado às livrarias nas últimas semanas: na secção dedicada às saídas de livros.

 

As últimas entrevistas do ano

 "Leio muitos livros académicos, mas acho que a História deve ser divertida e emocionante. Não é só uma questão de estilo. A vida humana é emocionante e fascinante. Escrevo estes livros para que todos possam ser lidos por todos. Adoro palavras, mas não uso códigos académicos. Sim, definitivamente não uso. Não uso jargão. Não uso jargão ideológico nem académico, porque acho que isso é muito paternalista. É muito exclusivo. É muito elitista", diz na entrevista que deu à jornalista Bárbara Reis o historiador Simon Sebag Montefiore a propósito do seu livro O Mundo – Uma História da Humanidade. A entrevista pode ser lida aqui.

"Se quiséssemos procurar um termo mais convencional, o de bildungsroman, romance de formação, não assentaria mal a este livro de não-ficção. Assistimos à formação musical de Thurston Moore, que é, em última análise, moral, sentimental, social e política. Vemo-lo, um jovem apaixonado por rock, a fazer patifarias com outros adolescentes, a partir as cordas da guitarra do irmão, a tocar, ao de leve, no tornozelo de uma das suas estrelas, a ver do palco, assombrado, os outros músicos, a comer e a dormir mal, a correr pela cidade em busca da sua banda. Um rapaz na cidade, parafraseando o título de um filme português, que na música de guitarras escuta um reflexo fugaz do divino. Ainda sem sinais de futura edição portuguesa, Sonic Life: A Memoir está repleto de palavras como epifania, inefável, transcendência, êxtase, magia, vórtice, místico, belo, beleza, energia, sublime", escreve o crítico José Marmeleira que entrevistou Thurston Moore, dos Sonic Youth, a propósito do seu livro.

"Acho que me sinto um pouco uma judia errante; uma judia que, no seu contexto histórico, sempre viajou de país para país. Acho que carrego a sina judia comigo. A minha família está dividida entre Inglaterra, os Estados Unidos, Israel e um pouco por toda a Europa. Ninguém vem a casa da avó para o almoço de domingo. Vejo os filhos, os meus netos, mas nunca estão todos de uma vez. Isso é difícil, é triste", diz a Ludmila Ulitskaya, a mais prestigiada escritora russa da actualidade, numa conversa com Isabel Lucas que aconteceu quando a autora de Mentiras de Mulher esteve em Braga a participar na primeira edição do Festival Utopia. Neste livro, a autora conta-nos a história de Génia, que conhecemos a partir das relações que ela estabelece com outras mulheres. Ler a entrevista aqui.

Um dos últimos Ípsilon foi dedicado à poesia de Roberto Bolaño, um dos livros do ano.

 1964: Olhos da Tempestade leva-nos até aos tempos da Beatlemania pela câmara Pentax 35mm de Paul McCartney, diz-nos o jornalista Mário Lopes.

Rodrigo Nogueira conversou com Ricardo Farinha, que escreveu o livro Hip Hop Tuga — Quatro Décadas de Rap em Portugal. 

António Rodrigues escreveu sobre dois livros que trazem novas perspectivas para a história de Angola e entrevistou o Prémio Camões Germano Almeida a propósito do romance Infortúnios de um Governador nos Trópicos. Aqui fica a entrevista.

António Araújo esteve a ler Acreditar nas Feras, onde a antropóloga Nastassja Martin regressa à época em que foi atacada por um urso. A escritora norte-americana Lorrie Moore lançou Não Tenho Casa Se Esta Não For a Minha Casa e conversou com a jornalista Isabel Lucas a propósito deste romance sobre o luto.

Encontro de Leituras de Janeiro

O próximo Encontro de Leituras vai acontecer a 9 de Janeiro, às 22h em Lisboa, 19h em Brasília. A nossa convidada é a escritora portuguesa Joana Bértholo. Em discussão estará o romance Ecologia, editado em Portugal pela Editorial Caminho e no Brasil pela Dublinense.

Nessa sessão de Janeiro, que acontecerá em Zoom, estarei a fazer a moderação com a minha colega Andréia Azevedo Soares, que nasceu no Rio de Janeiro e vive no Porto.

A crítica literária Helena Vasconcelos escreveu sobre este livro quando ele foi publicado em Portugal. E no Ípsilon fizemos um dossier sobre a literatura portuguesa e a crise climática.

Quem quiser receber informações sobre este clube de leitura do PÚBLICO pode inscrever-se através do email encontrodeleituras@publico.pt

Os melhores momentos serão depois publicados no podcast Encontro de Leituras. Recentemente foi publicado o episódio dedicado a Aline Bei e ao livro Pequena Coreografia do Adeus.

Até para a semana.