As gomas ácidas podem aliviar mesmo os sintomas de um ataque de pânico?
Os ataques de pânico podem acontecer a qualquer pessoa. E sim, as gomas ácidas podem ajudar-te nesses momentos, porque desviam “a atenção do cérebro para o presente”.
Já te podes ter cruzado com algumas publicações, em várias redes sociais, que revelavam o suposto poder das gomas ácidas (ou sour candy no original) para conter um ataque de pânico. Mas será que ajudam mesmo? O P3 foi tentar perceber.
Antes de tudo, importa esclarecer o que é um ataque de pânico. Maria Carvalho, estudante de 22 anos, compara-o a ser “invadida por uma onda”, com o coração acelerado e o corpo a tremer. No episódio mais grave que teve, mal conseguia andar: “Estava com um medo terrível de morrer”, conta ao P3. Tinha 18 anos e estava de Erasmus na Turquia. Ligou ao irmão, que a conseguiu ajudar: “Esteve a falar comigo uns 20 minutos ao telemóvel, só a dizer ‘tem calma’ e ‘está tudo bem’”.
Já Maria João Mesquita, 27 anos, fala no “medo paralisante” que sente durante um ataque de pânico: “Assombra-te, aprisiona-te numa bolha”, sintetiza. “Não consigo ver coisas positivas. É como se tivesse uma nuvem a pairar sobre mim.” Da primeira vez que enfrentou um ataque de pânico, conseguiu controlar os sintomas graças às técnicas de respiração que aprendeu nas sessões de psicologia e psiquiatria. São estas as ferramentas que utiliza no dia-a-dia.
O que causa os ataques de pânico?
Estes episódios são desencadeados por “uma descarga de adrenalina e de cortisol no nosso organismo, que deixa um registo traumático”, explica a psicóloga clínica, Sara Crispim.
Além de altamente imprevisíveis, os sintomas podem ser confundidos com os de um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral. “Daí o registo traumático: a primeira sensação que as pessoas têm é a de que estão a morrer, porque perdem o controlo absoluto do corpo e da mente.”
Os sintomas podem ser de tal forma intensos que a maior parte dos pacientes vai às urgências e é lá que, depois de serem examinados, são “atribuídos aos sintomas uma causa emocional", esclareceu Sara Crispim.
Como os posso controlar?
Os ataques de pânico não podem ser prevenidos nem antecipados. Por isso, as pessoas que lidam com estes episódios focam-se em aprender a gerir os sintomas e a controlar estes momentos. E lembra-te: quando os ataques de pânico começam a impedir-te de realizar as tarefas do seu dia-a-dia, o melhor mesmo será procurar ajuda especializada e ponderar começar a tomar medicação, de acordo com as instruções de um profissional. Este tipo de tratamento deve ser conciliado com terapia regular.
As técnicas de respiração, como as que usa Maria João Mesquita, podem ajudar —, mas têm de ser treinadas mesmo quando não te sentes ansioso. “Em situação de ataque de pânico, nós hiperventilamos e este tipo de respiração estimula o nosso sistema nervoso simpático – que é responsável por desencadear a ideia de perigo iminente”, esclarece Sara Crispim. Para contrariar esta ideia e para que o corpo se sinta mais calmo e relaxado, o sistema nervoso parassimpático tem de ser estimulado. Isto é consegue-se com uma “respiração consciente e controlada”.
Outra estratégia passa por dizer em voz alta afirmações como “eu sei que isto não é um perigo real”, “já passei por isto, apesar de ser desconfortável, não vai durar para sempre”, “eu sei que não vou morrer”, “eu sei que isto é um ataque de pânico”, exemplifica Sara Crispim. Com estas ideias, as pessoas conseguem desconstruir os seus pensamentos mais intrusivos e “atingir mais rapidamente um estado de paz”.
Por vezes, “os pensamentos nestes momentos tornam-se ensurdecedores”, afirmou a psicóloga. “Pensamos que estamos a morrer e os sintomas físicos intensificam-se. Se conseguirmos deslocar o foco nestes sintomas para outras sensações, vamos conseguir restabelecer a calma”, acrescenta. As quebras de estado, geradas por uma diferença de temperatura no corpo, podem ser úteis neste caso. Beber um copo de água fria, deixar um cubo de gelo derreter na mão, colocar algo fresco no pulso ou lavar o rosto de água fria são acções que conseguem distrair as pessoas nestes episódios.
Então, as gomas ácidas podem ajudar?
A psiquiatra Cátia Santos acredita que sim. Apesar de não existir algo que nos diga categoricamente que estes doces podem funcionar como uma estratégia eficaz, a ciência explica-nos que durante um ataque de pânico são lançados estímulos pela amígdala, estrutura do cérebro que regula a resposta de luta ou fuga e que acaba por desencadear o pânico. Para este sentimento ser mitigado, “temos de deslocar a atenção do cérebro para o presente”, referiu Cátia Santos.
“As gomas ácidas como têm um sabor mais intenso ajudam a desviar mais rapidamente a atenção que estamos a dar ao ataque de pânico para o sabor do doce”, elucidou. “Esta estratégia não é uma solução, mas ajuda a dar um alívio imediato dos sintomas”, acredita.
Texto editado por Inês Chaíça