Comissão eleitoral russa rejeita candidatura presidencial da jornalista Iekaterina Duntsova

“Erros nos documentos” afastam candidata que defende o fim da guerra na Ucrânia e a libertação de presos políticos.

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A candidatura de Yekaterina Duntsova foi ignorada pelos meios de comunicação social estatais pró-Kremlin Reuters/MAXIM SHEMETOV

A comissão eleitoral russa rejeitou a candidatura presidencial da jornalista Iekaterina Duntsova devido a alegados “erros nos documentos” que faziam parte do seu processo de candidatura. Um vídeo de uma reunião da comissão eleitoral mostra os membros a votarem unanimemente para rejeitar a candidatura de Duntsova, que, no seu manifesto eleitoral, defendia o fim da guerra na Ucrânia e a libertação dos presos políticos na Rússia.

A sua rejeição foi aproveitada pelos críticos do Presidente russo como prova de que ninguém que possa oferecer uma oposição genuína a Putin será autorizado a concorrer contra ele nas primeiras eleições presidenciais desde o início da guerra.

A chefe da comissão eleitoral, Ella Pamfilova, ofereceu palavras de consolo a Duntsova após a sua rejeição. “És uma jovem, tens tudo à tua frente. Qualquer ponto negativo pode sempre ser transformado num ponto positivo. Qualquer experiência continua a ser uma experiência”, disse Pamfilova.

As cópias de ecrã publicadas por um canal no Telegram que representa Duntsova mostram documentos que, segundo o canal, a comissão destacou como carecendo de assinaturas adequadas.

Duntsova, de 40 anos, disse aos jornalistas que a sua equipa tinha reunido a candidatura à pressa e teve dificuldade em encontrar um advogado para autenticar a candidatura, depois de dezenas se terem recusado.

A candidata disse ainda ter contactado o veterano político liberal Grigori Iavlinski sobre a possibilidade de apresentar uma nova candidatura pelo seu partido, o Yabloko. “Espero que haja algum tipo de reacção, temos valores semelhantes”, referiu Duntsova. Mas Iavlinski disse numa entrevista a um canal do YouTube que o Yabloko não a apoiaria: “Não a conhecemos.”

Duntsova tinha apresentado documentos à comissão eleitoral menos de 72 horas antes para apoiar a sua candidatura que foi largamente ignorada pelos meios de comunicação social estatais pró-Kremlin, que também não noticiaram a sua rejeição.

Quando Duntsova disse no mês passado que queria candidatar-se, os comentadores descreveram-na como louca, corajosa ou parte de um plano do Kremlin para criar a aparência de oposição. “Qualquer pessoa sã que desse este passo teria medo, mas o medo não deve vencer”, disse a própria à Reuters numa entrevista em Novembro.

Abbas Galliamov, um antigo escritor de discursos do Kremlin, agora rotulado pelas autoridades como “agente estrangeiro”, considera que Putin não quer correr o mesmo risco que correu Alexander Lukashenko. O líder bielorrusso manteve-se no poder em 2020 com a ajuda do que a oposição e os governos ocidentais disseram ser uma fraude eleitoral em larga escala para lhe permitir reivindicar a vitória sobre a candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaia. “O ‘efeito Tsikhanouskaia’ é absolutamente possível e no Kremlin eles compreendem-no”, escreveu Galliamov no Telegram.

Com Putin a controlar totalmente as alavancas do poder, tanto os seus apoiantes como os seus opositores afirmam que ele irá conseguir um novo mandato de seis anos que, se o completar, fará dele o governante da Rússia com mais tempo no poder desde o século XVIII – superando todos os governantes soviéticos, incluindo Josef Estaline.

O seu adversário mais conhecido, Alexei Navalny, está a cumprir várias sentenças que totalizam mais de 30 anos de prisão e os seus apoiantes dizem nem sequer saber onde ele se encontra, depois de terem sido informados de que tinha sido transferido da anterior colónia penal onde estava no início deste mês. Os advogados tiveram acesso a Navalny pela última vez a 6 de Dezembro.

O Partido Comunista da Rússia, cujos candidatos ficaram num distante segundo lugar em relação a Putin em todas as eleições desde 2000, reuniu-se este sábado para escolher Nikolai Kharitonov, de 75 anos, que se candidatou anteriormente em 2004 e obteve 14% dos votos, contra 71% de Putin.

Outro dos partidos da oposição nominal no parlamento, o partido Uma Rússia Justa — Pela Verdade, disse este sábado que iria apoiar a candidatura de Putin, informou a agência noticiosa estatal RIA.

O Kremlin diz que Putin vai ganhar porque goza de um apoio genuíno em toda a sociedade, com índices de opinião de cerca de 80%.