Afinal é aqui a terra do Pai Natal

O leitor Luis Robalo deslumbrou-se com o que encontrou nas aldeias de xisto, “um interior que merece deambulações”.

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Não foi um milagre, foi uma aparição, e eu que gostava tanto de ser protagonista de um milagre!

Um par, uma parelha, um casal, de veados, corços, que podem ser gamos, renas que sejam, foi tão inesperado que não os sei nomear. Mas sei bem e cristalinamente o que vivi vendo-os hipnotizados por mim.

Não é um acontecimento que se espera em vidas urbanas, tão improvável como "dar de caras" com o Arcanjo Gabriel que dizem andar por aí de olho em nós, e eu, por incapacidade psíquica, nunca me cruzei com ele. Teria ficado mudo, como no caso do encontro com esses animais belos e magníficos num passeio sem pretensões místicas, pelas aldeias de xisto da serra da Lousã.

Juntamente com a serra do Açor e a serra da Estrela, forma o mais imponente dos alinhamentos montanhosos de Portugal: a Cordilheira Central. A serra da Lousã abrange os concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Miranda do Corvo e Penela. Está salpicada por pequenas aldeias que iniciaram há anos um novo conceito de turismo rural. Modalidade nova e não praticada pelos cosmopolitas, a quem o simples facto de abrirem uma janela e serem inundados de ar fresco, revigorante e vivo, lhes põe os nervos em franjas de desconforto, habituados e adictos dos tubos de escape dos seus SUV, de inúmeros cavalos e consumos que disfarçam dizendo-os híbridos, económicos e amigos do ambiente (talvez do seu).

Foto

Fui passear para gozar o prazer do silêncio, numa solidão aconchegante, e encher a vista e as minhas paredes interiores de coisas belas, o melhor colírio que conheço para os olhos da alma.

Dei de caras com eles. Aparecidos ali, como se do nada (o que me levou inicialmente a desconfiar ser um milagre, mas não, não há milagres para ateus), imóveis, suspensos no espaço e no tempo e suspendendo-me a mim, num momento que pode ter sido de alguns segundos a alguns minutos. Foi uma sensação de eternidade, e acreditei.

Num caminho que ia dar à aldeia de Talasnal, seres imponentes olharam-me, quem sabe desfrutando-me como eu os desfrutei. Podiam ser as renas do Pai Natal, num intervalo de serem emparelhadas pelos gnomos para as entregas de presentes, podiam ser simplesmente dois seres naturais e perfeitos, deslumbramento de uma natureza criadora e completa que nos encarregámos de destruir e vamos chegar lá.

O Pai Natal não o vi, nem em Talasnal, nem em Candal, nem nas outras aldeias do roteiro. Mas não deixo de considerar como hipótese académica que a história da Finlândia, onde vão alguns consumir falsidades encenadas por actores de segunda, a fazerem-se de personagens pouco credíveis, não seja a terra do simpático senhor das longas barbas brancas, mas sim uma destas aldeias nas franjas das colinas, dos picos e dos vales da serra da Lousã, um interior que merece deambulações.

De repente, desapareceram como apareceram – os bichos imponentes e nesse piscar de olhos meus, vi-me transportado de um cenário irreal e onírico. Se não foi uma aparição, foi o quê?

Mesmo que não haja Pai Natal e o que vi não fossem renas, visitem cá dentro, aprofundem-se, o país merece ser mais do que uma faixa de marés histéricas que se desvanecem em areias inseguras.

Luis Robalo (texto e fotos)

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