Peso da habitação nos encargos das famílias aumentou 45% desde 2015
Inquérito do INE mostra que encargos com habitação representam 39% das despesas médias em 2022/2023, que, no total anual, subiram para 24.190 euros.
Não é surpresa que os encargos com habitação, incluindo a despesa directa, mas também os consumos de água, electricidade e outros serviços, tenham aumentado de forma significativa. O que é significativo é que esse valor tenha, em média, aumentado mais de 45% nos últimos sete anos, e que o peso tenha quase duplicado desde 2000, passando a representar 39,1%, ou 9452 euros, em 2022/2023.
Os resultados, ainda provisórios, do Inquérito às Despesas das Famílias 2022/2023, divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), comparam com o peso de 31,9% (6501 euros) que a habitação tinha em 2015/2016, ou seja, “um aumento de quase três mil euros por família, correspondente a um crescimento nominal de 45,4%”. Em 2000, este encargo correspondia a 19,8% dos gastos, quase metade dos 39,1% verificados em 2022/23.
O crescimento de 45,4% naqueles sete anos “foi superior ao que teria ocorrido se a despesa média das famílias com a habitação tivesse aumentado à taxa de crescimento do índice de preços no consumidor”, que foi de 16,2% entre Dezembro de 2015 e Dezembro de 2022, refere o INE.
Em termos agregados, e com base nos resultados do último inquérito, a despesa anual média dos agregados familiares foi de 24.190 euros, da qual cerca de dois terços concentrou-se em encargos associados à habitação (39,1%), à alimentação (12,9%) e aos transportes (12,4%).
“As rendas subjectivas reforçam-se como o grupo de despesa com maior contributo para o total da divisão de habitação, de 20,1% em 2015/2016, para 27,4% em 2022/2023, sendo, no entanto, de salvaguardar que “está em causa uma estimativa calculada pelo próprio agregado residente sobre o valor hipotético de uma renda do seu alojamento a preços de mercado”.
Avança o INE que “as rendas efectivas passaram de um valor médio de 520 euros, em 2015/2016, para 786 euros, em 2022/2023, reforçando o respectivo contributo para a despesa média em habitação em 0,7 pontos percentuais”.
A electricidade, gás e outros combustíveis mantêm-se como o segundo grupo de despesa com maior contributo, mas com perda de importância absoluta e relativa face a 2015/2016: menos cerca de 100 euros em média e um contributo menor, em 1,4 pontos percentuais, para a despesa total em habitação.
Em resultado também das alterações introduzidas, a habitação ganha peso na estrutura das despesas e recuam os encargos com vestuário e calçado e, embora com menor expressão, em relação aos transportes, acessórios, equipamento e manutenção associados à habitação.
Em termos de composição familiar, “os agregados com crianças dependentes gastam anualmente, em média, mais 8861 euros do que os agregados familiares sem crianças dependentes, o que se traduz numa despesa mensal média superior em 738 euros”.
À escala das regiões (NUTS II), “a despesa anual média foi mais elevada na região Norte (25.057 euros)”, mas também superava a média nacional na Área Metropolitana de Lisboa e na Região Autónoma da Madeira.
Pelo contrário, a despesa média regional mais baixa foi observada na Região Autónoma dos Açores (20.439 euros), que também apresenta “o perfil regional de despesa mais distante da média nacional”, revelam os resultados do inquérito, que sofreu alguns aperfeiçoamentos metodológicos em relação às edições anteriores, contextualiza o INE.