Raios-X ao Arsenal, adversário do FC Porto

O FC Porto vai defrontar um Arsenal que é, nos dias de hoje, “menos Arsenal” do que já foi - e isto é um elogio aos ingleses.

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Jogadores do Arsenal celebram frente ao Brighton EPA/NEIL HALL
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O sorteio dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões sugere uma semi-fortuna para o FC Porto. Por um lado, nenhum dos adversários possíveis provocaria um claro sorriso aos “dragões”. Por outro, calhar o Arsenal não é assim tão mau – poderia ter sido pior.

Nessa medida, é preciso enquadrar esta formação inglesa como uma equipa que até pode não parecer tão apetrechada individualmente como outros “tubarões”, mas que lidera o campeonato e é, nos dias de hoje, “menos Arsenal”.

Ser “menos Arsenal” está longe de ser uma crítica. Durante anos, a equipa inglesa teve problemas para ser competitiva na Europa – em parte porque se focava no campeonato interno, que fugiu vezes sem conta, mas também porque havia um plantel construído de forma algo anárquica.

Os equívocos sucediam-se, mas agora, com Mikel Arteta, parece haver uma lógica na escolha dos reforços. E isso, por si só, já capacita a equipa.

Arteta bebeu de Guardiola

E o que é este Arsenal em campo? Trata-se de uma equipa de predicados variados, mas com uma ou duas vias muito especiais para atacar. E também nisso parece ser “menos Arsenal”.

Durante anos, eram uma equipa que queria ser ofensiva, mas com pouca audácia no posicionamento da linha defensiva – habituaram-nos a jogos partidos, com distância entre sectores.

Agora, os ingleses mantêm a ideia de pressão alta e jogo no terço adversário, mas com um bloco defensivo bem mais alto, tendo a equipa compacta – Saliba ajuda bastante nessa ideia, algo que atesta a escolha criteriosa dos reforços.

É uma equipa que deixa espaço nas costas da defesa? É. Mas também recupera muito mais bolas em zona ofensiva e “sufoca” o adversário durante períodos mais longos.

Mesmo não sendo tão “Guardiolesco” como o seu mentor, Arteta faz questão de que a equipa tenha muita bola, ainda que, na fase final do ataque, e apenas nesse momento, a ideia seja mais velocidade, verticalidade e intensidade do que paciência em redor da área.

O Arsenal gosta especialmente de explorar o corredor direito (mais de 40% dos ataques são por essa ala), tentando provocar situações de isolamentos e um contra um para Bukayo Saka, usando também Zinchenko, lateral do lado contrário, e o craque Odegaard, médio-centro, como engodos para atrair os adversários a esse lado do campo e deixar espaço a Saka à direita, quase como uma equipa assimétrica.

As bolas paradas

Depois há um dado especialmente curioso. Não só são, de longe, a equipa com mais cantos na Liga inglesa como têm um aproveitamento brutal dessa via. O Arsenal tem mais de 50% dos seus golos obtidos em bolas paradas e mesmo descontando os penáltis mantém um valor tremendo de eficácia em pontapés de canto.

À boleia de uma análise no site Medium, podemos ver imagens de alguns dos cantos de sucesso do Arsenal, com pontos em comum: sobrepovoamento de um local da área, como engodo para uma situação de finalização fora dessa zona – ora com todos os jogadores no segundo poste a atacarem “de rompante” a zona do primeiro, ora com muitos jogadores no primeiro poste, com a bola a ser batida para o segundo, onde podem ser criadas situações de um contra um – aéreas, mas não só.

Há até casos de lances em que os “gigantes” atacam o primeiro poste não com a ideia de cabecearem para a baliza, mas apenas para atraírem os adversários todos a essa zona, criando espaço na zona oposta da área para finalizadores não tão óbvios.

Foco tão detalhado no trabalho de bolas paradas soa a “menos Arsenal”? Até soa, mas é disso que se trata esta equipa sob o comando de Arteta: futebol ofensivo, mas com importância dada a uma “arte menor” como as bolas paradas, tantas vezes apontadas como a arma dos mais fracos.

Havertz híbrido

Por fim, destaque ainda para um dado curioso, que é o facto de o Arsenal ter 11 golos após os 76 minutos – é o período do jogo mais rico para golos, o que sugere que é uma equipa que não só consegue manter clarividência até ao final do jogo como consegue tirar do banco soluções úteis. E também isso é “menos Arsenal” do que estamos habituados, com plantéis desequilibrados e parcos em soluções.

O "onze" habitualmente utilizado, num misto de 4x3x3 com 4x4x2, tem dois alas, um ponta-de-lança e dois jogadores híbridos. Havertz tanto surge na zona central do ataque como joga entre linhas, deixando dúvidas nos centrais adversários sobre se devem ou não sair na pressão ao alemão, que atrai entre-linhas. E Odegaard, ora a pegar no jogo atrás, ora a abrir no corredor, também cria situações de confusão de marcações.

É, em geral, uma equipa de soluções muito variadas, mas também tem problemas. E a defesa dos corredores e do espaço na profundidade são dois bem claros.

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