Sérvia volta às urnas para reforçar o poder de Vucic
Espera-se uma nova vitória confortável do partido do Presidente sérvio, que convocou eleições depois de dois tiroteios em Belgrado. Oposição espera obter uma vitória no município de Belgrado.
Menos de dois anos depois, a Sérvia volta este domingo a ter eleições legislativas que mais não são do que um referendo à popularidade do Presidente Aleksandar Vucic, o homem-forte da política nacional há praticamente uma década. Mas, pela primeira vez, o seu partido terá pela frente uma coligação abrangente da oposição, mostrando que, apesar de tudo, algo se mexe na Sérvia.
As eleições foram convocadas por Vucic na sequência dos grandes protestos desencadeados por dois tiroteios em massa em escolas de Belgrado, em Maio, durante os quais nove jovens morreram. Na altura, vários partidos da oposição responsabilizaram o Presidente e o seu governo, liderado pelo Partido Progressista Sérvio (SNS, na sigla original), pela promoção de uma cultura de violência.
Vucic, que apesar de não ser formalmente o líder do SNS mantém-se como a sua figura cimeira, entendeu que a oportunidade era favorável para cimentar o poder do seu partido – e o seu. Tem sido assim nos últimos tempos, o que explica que tenha havido em média uma eleição a cada dois anos na última década.
“Vucic marca novas eleições quando isso o favorece, quando ele entende que há uma queda de popularidade ou quando antevê que situações desfavoráveis para o seu governo possam surgir no futuro”, escreve a jornalista Antonela Riha numa análise publicada pelo Osservatorio Balcani e Caucaso Transeuropa, um think-tank italiano que se debruça sobre os Balcãs e o Cáucaso.
Ninguém tem dúvidas de que Vucic é a peça central das eleições de domingo. O político de 53 anos foi hábil em metamorfosear-se consoante os ventos do momento, garantindo-lhe o papel de líder mais influente na Sérvia do pós-guerra. Vucic surgiu como um nacionalista eurocéptico, mas hoje tem dado prioridade a um estreitamento de relações com a União Europeia, embora mantendo laços próximos com a Rússia. Embora condene a invasão da Ucrânia, a Sérvia não tem acompanhado Bruxelas nas sanções ao Kremlin.
Na campanha para as legislativas, Vucic empenhou-se como se a sua cara e o seu nome estivessem nos cartazes. Correu grande parte do país ao volante do seu Skoda, visitou mosteiros, cozinhou com agricultores e abriu uma conta na rede TikTok, descreve a Reuters. Para garantir que não há margem para surpresas, pôs a máquina estatal ao serviço do SNS, anunciando bónus monetários para estudantes, pensionistas e mães solteiros e uma subida de salários para alguns funcionários públicos.
“Todos contra” o Presidente
As eleições resumem-se a um “todos contra Vucic” e o próprio Presidente sugeriu que não se manteria no cargo se o SNS não ganhasse as legislativas. “Quero que as pessoas saibam que, quando votam, não votam apenas na lista de deputados, também votam no seu Presidente, votam em mim ou contra mim”, afirmou Vucic logo no início da campanha.
Pela primeira vez, uma parte considerável da oposição conseguiu entender-se para formar uma plataforma unitária. O Sérvia Contra a Violência junta sete partidos de um espectro amplo, que inclui conservadores, centristas, progressistas e ecologistas. Há ainda duas outras coligações de partidos nacionalistas e de extrema-direita de menor dimensão.
No entanto, parece improvável que o domínio do SNS possa vir a ser posto em causa nas eleições a nível nacional. As sondagens indicam que o partido de Vucic deverá ser o mais votado de forma confortável e antecipa-se a reedição de uma coligação pós-eleitoral com o Partido Socialista, fortalecendo ainda mais a maioria governamental. “Mudanças políticas grandes ao nível da república não são realistas e uma mudança significativa do Governo seria uma surpresa”, diz o director da empresa de sondagens CESID, Bojan Klacar, citado pela Reuters.
O melhor que a oposição poderá almejar é conquistar o município de Belgrado – em simultâneo com as legislativas, há eleições municipais e na região autónoma de Vojvodina – onde tradicionalmente o SNS é menos popular. Seria uma derrota que amargaria a esperada revalidação do poder de Vucic a nível nacional. Para os partidos da oposição, representaria uma esperança de que o poder do Presidente não é total.
“Acreditamos em mudanças de baixo para cima, a partir das cidades. Nem tudo será resolvido nestas eleições, mas em dois ou três passos”, dizia à BBC a líder da Frente da Esquerda Verde, Biljana Djordjevic.