Rússia “bem impressionada” com veto de Orbán a apoio à Ucrânia
Porta-voz do Kremlin disse que a Hungria “foi firme na defesa dos seus interesses, ao contrário de outros países da UE”. Eventual adesão da Ucrânia “é ditada por um desejo de irritar a Rússia”.
O veto da Hungria a um fundo europeu de 50 mil milhões de euros para a Ucrânia valeu ao primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, um elogio público da Rússia. Numa reacção ao bloqueio do financiamento, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a Hungria “defende com firmeza os seus interesses, ao contrário de outros países da União Europeia”.
O pacote de assistência à Ucrânia, preparado para financiar o país até 2027, foi vetado pela Hungria na madrugada desta sexta-feira, ao fim de várias horas de difíceis negociações no Conselho Europeu, em Bruxelas.
Em declarações à rádio pública húngara, nesta sexta-feira, Orbán sugeriu que o seu veto serviu para marcar uma posição sobre o congelamento de fundos estruturais da Hungria, retidos pela União Europeia (UE) enquanto o Governo húngaro não reverter medidas que desrespeitam normas do Estado de direito — principalmente para corrigir irregularidades e deficiências do seu sistema jurídico e no combate à corrupção.
“É uma excelente oportunidade para a Hungria deixar claro que tem de receber aquilo a que tem direito. Nem metade, nem 1/4”, disse Orbán, citado pela agência Reuters. Na quarta-feira, antes da reunião do Conselho Europeu, a Comissão Europeia anunciou o descongelamento de uma fatia de dez mil milhões de euros de fundos estruturais da Hungria, numa última tentativa para convencer Orbán a desbloquear o fundo europeu de apoio à Ucrânia.
No final, a intransigência da Hungria acabou por se manter, e Peskov disse que o Kremlin ficou “bem impressionado” com “a defesa firme dos interesses húngaros” por parte de Orbán.
Noutro tom, o porta-voz do Kremlin fez duras críticas à histórica decisão da UE de abrir negociações com vista à adesão da Ucrânia — um passo que teve luz verde na mesma reunião em que Orbán vetou o fundo de assistência à Ucrânia, mas que acabou por ser aprovado num momento em que o primeiro-ministro húngaro saiu da sala.
Segundo disse ao PÚBLICO o primeiro-ministro português, António Costa, na tarde de quinta-feira, Orbán aceitou uma sugestão do chanceler alemão, Olaf Scholz, para se ausentar da sala no momento da votação, o que permitiu uma aprovação por unanimidade dos líderes políticos que estavam presentes.
Questionado sobre a luz verde ao processo de adesão da Ucrânia (e também da Moldova, bem como a concessão do estatuto de candidato à Geórgia), o porta-voz do Kremlin disse que a decisão “é claramente política”, já que um processo de adesão à UE — principalmente no caso da Ucrânia, um país em guerra — pode demorar mais de uma década. “É o desejo da União Europeia de demonstrar apoio a estes países”, disse Peskov. “Como vivemos no mesmo continente da UE, estaremos naturalmente atentos.”
O porta-voz do Kremlin disse também que a aproximação da UE à Ucrânia, Moldova e Geórgia — três antigas repúblicas soviéticas — “é ditada por um desejo de continuar a irritar a Rússia e de opor a UE à Rússia”.