Mercado antecipa descida de taxas, com Euribor a 12 meses em mínimo desde Abril

Taxa a seis meses está perto de cair abaixo da de três meses, reforçando a expectiva de corte de taxas de juro do BCE no primeiro semestre. Pressão para renegociar créditos ou fixar prestação diminui.

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Cenário de nova escalada das taxas Euribor parece, agora, mais distante Manuel Roberto
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A expectativa do mercado em relação à evolução das taxas de juro mudou significativamente, e, apesar do discurso cauteloso da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, de não baixar “a guarda”, os sinais que chegam do mercado monetário, em que diariamente se fixam as taxas Euribor, e do mercado de futuros são de redução das taxas directoras na primeira metade do próximo ano.

A decisão de manutenção das taxas directoras na reunião desta quinta-feira parece afastar de vez o cenário de novas subidas, o que, só por si, já é positivo para quem tem crédito à habitação associado às taxas Euribor, que seguem de perto as decisões do banco central.

Apesar de a instituição liderada por Christine Lagarde não ter aberto a porta a uma descida de taxas nos meses mais próximos, nomeadamente a dos depósitos, actualmente em 4%, que serve de referência para o custo do dinheiro para as famílias e empresas, esse é o cenário que está a ser antecipado pelo mercado monetário, em que se fixam as taxas Euribor, e pelo mercado de futuros.

Esta quinta-feira, ainda antes da reunião do BCE, a Euribor a 12 meses voltou a recuar, neste caso para um mínimo desde Abril passado. Esta taxa, que sinaliza o custo do dinheiro no mesmo horizonte temporal, recuou para 3,719%, menos 0,037 pontos percentuais face à sessão anterior, e um valor que já se distancia do máximo anual de 4,228%, registado a 29 de Setembro.

Depois de quatro meses acima dos 4%, esta taxa é agora a mais baixa, deixando já a alguma distância os prazos a três e a seis meses.

Nos prazos mais curtos também estacaram as subidas e já estão a inverter a curva, especialmente a Euribor a seis meses, que está quase a ficar mais baixa do que a de três meses.

A taxa a seis meses, que também está a antecipar um corte das taxas directoras durante o primeiro semestre do próximo ano, caiu para 3,938%, menos 0,007 pontos do que na sessão anterior e cada vez mais longe do máximo anual de 4,143%, registado em 18 de Outubro.

Praticamente colada à de seis meses, o prazo mais curto progrediu 0,007 pontos, para 3,932%, mantendo-se abaixo do máximo atingido a 19 de Outubro, nos 4,002%.

No mercado de futuros, os contratos da Euribor a três meses, os únicos existentes para estas taxas, também mantêm perspectivas positivas para quem tem crédito. O contrato para Março de 2024 antecipa uma descida de taxas do BCE ainda no primeiro trimestre, uma vez que esta quinta-feira negociava a 3,655%, e o contrato de Junho apresentava um valor ainda mais baixo, nos 3,165%.

Impacto negativo nos depósitos

A queda das taxas Euribor é positiva para quem tem empréstimos à habitação associados a estas taxas, embora o seu impacto só se vá sentir gradualmente nos próximos meses.

O cenário de descida também pode travar alguns pedidos de renegociação dos contratos, ou de fixação da taxa de juro, ao abrigo do Decreto-Lei n.º 91/2023, a que já recorreram milhares de famílias. O recurso a estas medidas tem sido feito, em muitos casos, para acautelar novos agravamento nas prestações mensais, que em muitos casos praticamente duplicaram em menos de dois anos.

Nos novos empréstimos, a preferência pode voltar a passar pela Euribor a 12 meses, uma vez que este indexante começa a ficar mais baixo do que as taxas fixas de curto prazo, especialmente até dois anos, que tem sido a grande aposta no último ano.

Em Outubro, o crédito à habitação com taxa mista (dois ou mais anos) representou 64% dos novos contratos à habitação. Neste tipo de contratos, o período inicial é a taxa fixa, passando depois para taxa variável (Euribor).

Mas a queda da Euribor também tem o reverso da medalha. É o caso da remuneração dos depósitos, que subiram mais lentamente em Portugal do que na maioria dos outros países da zona euro.

Em Outubro, os novos depósitos a prazo de particulares tiveram uma taxa média de 2,93%, mas desde o início do ano a subida média fica-se por 2,58%.

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