Direcções do Jornal de Notícias e do O Jogo demitem-se

Redacções do grupo Global Media enfrentam despedimento colectivo que pode levar a saída de 200 trabalhadores. Também o director digital do grupo, Manuel Molinos, pediu a demissão.

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Despedimento colectivo pode chegar a 150-200 trabalhadores Paulo Pimenta/Arquivo
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As direcções do Jornal de Notícias (JN) e do diário desportivo O Jogo demitiram-se nesta quinta-feira, depois de a direcção da rádio TSF ter tomado a mesma decisão na terça-feira. Horas mais tarde, também Manuel Molinos, que se demitira igualmente do cargo de director adjunto do JN, se demitiu da função de director digital do grupo Global Media.

O PÚBLICO teve acesso aos comunicados de ambas as publicações que apontam para o risco de despedimento colectivo como a motivação para estas demissões.

"Uma tomada de posição conjunta dos directores que entendemos como um sinal inequívoco de que esta redacção e quem a lidera não aceitam que se possa denegrir publicamente um jornal, os seus leitores e até uma região e um país", pode ler-se no comunicado do Conselho de Redacção do JN.

Este órgão elogia publicamente a directora do jornal, Inês Cardoso, sublinhando "a verticalidade, seriedade e integridade" da responsável. A redacção está em dívida, pode ler-se, "pela forma empenhada, abnegada e com enormes sacrifícios pessoais" que Inês Cardoso fez na defesa do "espírito e matriz" do JN. O PÚBLICO tentou obter um comentário da directora, mas, até ao momento, Inês Cardoso está incontactável.

Já no caso do jornal O Jogo, os membros demissionários denunciam a "degradação das condições tecnológicas, funcionais e de recursos humanos", louvando o "esforço e o sacrifício" dos jornalistas para manter o bom desempenho do diário desportivo em todas as plataformas.

Num comunicado emitido ao final da tarde desta quinta-feira, depois de um plenário, a redacção do JN diz que irá "tomar todas as diligências para uma eventual acção judicial contra a empresa" e preparar "acções de luta conjuntas com outros títulos do GMG e restantes áreas funcionais da
empresa​". Manifestando "a maior gratidão e o apoio inequívoco" à direcção, a redacção diz ainda que "condena a falta de pagamento, ao dia 14 de Dezembro, às dezenas de colaboradores que todos os dias contribuem com grande peso para o JN e suas revistas".

A redacção d'O Jogo também anunciou, em comunicado, que o chefe de redacção João Araújo e os chefes de redacção adjuntos Carlos Pereira Santos e Nuno Vieira também colocaram os cargos à disposição​ em "solidariedade" com a direcção demissionária do jornal. Os trabalhadores do desportivo denunciam ainda a "situação dos colegas que não integram os quadros do jornal que, ao dia 14 de Dezembro, não receberam a remuneração".

"Somos o único diário desportivo nacional feito a partir do Norte, contudo sem fronteiras. Chegamos a todo o território, porque é essencial que haja pluralidade para relatar e escrutinar todos os méritos, conquistas, problemas e ameaças do desporto, um fenómeno com o impacto reconhecidamente elevado em Portugal, a nível social, cultural e económico. E é exactamente isso que queremos continuar a ser, mas com os recursos humanos de que tão desesperadamente precisamos", lê-se no comunicado.

No final de Novembro, foi conhecido publicamente que o plano de reestruturação da Global Media (empresa proprietária destes jornais, assim como do Diário de Notícias e da rádio TSF) previa um despedimento colectivo que podia atingir 150 a 200 trabalhadores. Entretanto, o grupo avançou com um programa de rescisões por mútuo acordo, para trabalhadores até aos 61 anos com contrato sem termo. Dos principais títulos de distribuição nacional do grupo, apenas a direcção do Diário de Notícias não pediu a demissão.

Em sequência da greve de dois dias decretada pelos trabalhadores em protesto contra esta decisão, o JN não saiu às bancas a 7 e 8 de Dezembro. Foi a primeira vez em 135 anos que o jornal não saiu em dois dias consecutivos. A demissão desta quinta-feira abrange a directora do jornal, Inês Cardoso, os directores adjuntos, Pedro Ivo Carvalho, Manuel Molinos e Rafael Barbosa, e, por último, o director de arte, Pedro Pimentel.

No jornal O Jogo, o director, Vítor Santos, e ainda o director adjunto, Jorge Maia, informaram a comissão executiva do grupo Global Media da demissão dos respectivos cargos.

Ao que o PÚBLICO apurou, existem trabalhadores avençados e pagos à peça do JN que ainda não receberam os pagamentos relativos ao mês de Outubro. Nos últimos dias, os colaboradores enviaram pedidos de esclarecimento à administração e direcção. Da primeira, não receberam qualquer resposta. Já a direcção mencionou um "problema bancário" na origem da irregularidade.

Projecto da TSF "ameaçado de morte"

Nesta quarta-feira, pelas 13h, realizou-se uma assembleia que serviu para a Comissão de Trabalhadores da TSF transmitir o resultado da reunião com a administração do grupo Global Media. "Perante o anunciado corte de 30 trabalhadores, a conclusão é unânime: o projecto editorial da TSF está ameaçado de morte", pode ler-se na nota a que o PÚBLICO teve acesso.

A redacção rejeita ser possível continuar a realizar o mesmo trabalho com apenas metade dos trabalhadores actuais, admitindo profunda preocupação com o risco de extinção do projecto.

"É completamente impossível fazer esta rádio de notícias, projecto inigualável, ainda hoje, em Portugal, tal como os portugueses a conhecem, com menos 30 pessoas, quase metade do número actual de trabalhadores."

Notícia actualizada às 15h28 (acrescentada demissão de Manuel Molinos, director digital do grupo Global Media) e às 20h15 (acrescentada informações dos comunicados das redacções do JN e O Jogo).

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