Um detox de redes sociais pode não ser tão bom como pensas

Os investigadores não registaram melhorias no bem-estar de 51 participantes que evitaram redes sociais. Pelo contrário, reportaram uma redução nas emoções positivas durante a abstinência.

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Quer sejas um influencer, alguém que publica ocasionalmente ou uma espécie de fantasma, provavelmente passas mais tempo nas redes sociais do que gostarias. Globalmente, as pessoas em idade activa com acesso à Internet passam mais de duas horas e meia em plataformas como o Instagram, Facebook ou X (antigo Twitter).

O uso de redes sociais pode tornar-se excessivo quando interfere com a escola ou trabalho, provoca conflito nas relações ou prejudica a saúde mental. Ainda que não seja formalmente reconhecido como um distúrbio mental, alguns cientistas referem que o uso problemático das redes sociais é um “vício”.

Quando reparas que estás a fazer scroll há demasiado tempo, podes achar que é altura de fazer uma “dieta” social ou um detox — e decidir cortar drasticamente ou evitar o uso de redes sociais durante uns dias. Mas a nossa nova investigação mostra que esta abordagem pode reduzir os efeitos positivos das redes sociais tanto quanto reduz os negativos. Na verdade, ficamos surpreendidos com quão pouco os participantes do nosso estudo sentiram a falta das redes sociais, depois de lhe pedirmos para diminuírem o uso.

Num estudo recente, pedimos aos participantes para fazerem precisamente isso. Enquanto 51 pessoas tentavam evitar as redes sociais durante uma semana, monitorizámos o seu comportamento e experiência através de inquéritos enviados para os seus telemóveis, e tarefas em computadores, em ambientes controlados.

Descobrimos que apenas uma minoria dos participantes se absteve completamente. No entanto, a maioria foi capaz de diminuir o seu uso substancialmente, das três a quatro horas diárias, em média, para apenas meia hora. Mesmo depois do período de abstinência, o uso diário dos participantes fixou-se abaixo do anterior ao estudo.

O impacto da diminuição do uso das redes sociais

No entanto, em contraste com alguns estudos anteriores de detox digital, não observámos uma melhoria no bem-estar dos nossos participantes. Pelo contrário, reportaram uma redução nas emoções positivas durante o período de abstinência.

As redes sociais dão algumas recompensas sociais através dos likes, partilhas e seguidores. Ao mesmo tempo que oferecem breves momentos deve entretenimento e diversão, a investigação mostra que estas recompensas também levam ao uso compulsivo das redes sociais.

Os seres humanos são animais sociais — sentir-se parte do grupo, ser aceite e receber elogios são necessidades universais. As redes sociais são uma ferramenta conveniente e acessível para satisfazer estas necessidades em qualquer altura e qualquer lugar, e providenciam conexão num mundo onde ela pode faltar, ainda mais com o trabalho remoto.

Mas estas recompensas sociais podem rapidamente tornar-se em experiências pouco prazerosas. Receber likes pode tornar-se em procurar likes, e pode existir um sentimento de desapontamento se a performance das publicações não for a esperada. As vidas dos outros podem levar ao F.O.M.O. (Fear of Missing Out, ou medo de ficar de fora, em português) ou inveja, e, no pior dos casos, os utilizadores podem ser vítimas de comentários desagradáveis ou de ódio.

Assim sendo, também observámos uma redução de emoções negativas quando os participantes diminuíram o uso de redes sociais. Sentiram-se menos miseráveis, tristes e furiosos durante o estudo.

No geral, abster-se de redes sociais pareceu diminuir as emoções positivas e negativas — para algumas pessoas, o impacto no bem-estar pode ser zero.

Podemos ser viciados nas redes sociais?

Talvez a nossa descoberta mais esclarecedora tenha sido quão pouco os nossos participantes sentiram falta das redes sociais. Não reportaram aumento do desejo, impulso ou ânsia para verificar as suas contas durante o período de estudo, ainda que tenham reduzido drasticamente o tempo de ecrã.

Parece que limitar o uso de redes sociais não provoca sintomas de abstinência como acontece, por exemplo, com as drogas. Tendo isso em conta, alertamos para o cuidado com a utilização de termos como “vícios” quando se fala da utilização de redes sociais.

Colocar as redes sociais nos mesmos termos que um vício provoca o risco de demonizá-las e de tornar um comportamento normal numa patologia. Chamar “viciados” aos utilizadores pode levar ao estigma e a ignorar problemas patológicos que podem levar a outros comportamentos de excesso. Do nosso ponto de vista, o termo “vício” deve ser usado apenas para descrever uma doença, que implica alterações duradouras no sistema de recompensa do cérebro.

As redes sociais têm aspectos positivos e negativos, e talvez seja apenas das partes negativas que as pessoas têm de se afastar. Talvez uma forma melhor de pensar sobre como melhorar a tua relação com as redes sociais seja semelhante à forma como tentas melhorar a tua dieta. Tanto a comida como as redes sociais satisfazem desejos naturais — e dão energia para os contactos sociais.

Em ambos os casos, precisas de conhecer os teus limites e priorizar recompensas saudáveis. Isto pode significar mudar a tua visão acerca do quão conectado ou amado precisas realmente de ser, ou deixar de seguir contas e apagar apps que te fazem sentir mal.


Exclusivo PÚBLICO/The Conversation
Niklas Ihssen é professor na Universidade de Durham
Michael Wadsley é estudante de doutoramento Universidade de Durham

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