Presidente da Venezuela assina decretos para recuperar o território Essequibo
No comício político em que Nicolás Maduro assinou os decretos, acusou a oposição de trair a pátria e de se aliarem com Georgetown e ExxonMobil.
O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, assinou sexta-feira seis decretos para recuperar o Essequibo, território em disputa com a vizinha Guiana. Os decretos, que entram em vigor de imediato, foram assinados em Caracas durante um comício político que decorreu frente ao palácio presidencial de Miraflores.
No primeiro decreto, Nicolás Maduro nomeia o major-general do Exército Alexis José Rodríguez Cabello como Autoridade Única do novo estado e ordena a abertura, este sábado, de um escritório do Serviço Administrativo de Identificação, Migração e Estrangeiros (SAIME), para atribuir documentos de identificação à população desse território.
Por outro lado, no segundo decreto, nomeia uma Alta Comissão Nacional para a Defesa e Recuperação do território, que terá como chefe supremo a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez.
O terceiro decreto oficializa e estabelece um novo mapa da Venezuela, que inclui o território, sem a indicação de zona em reclamação. Durante a assinatura, Nicolás Maduro pediu aos venezuelanos que o coloquem “numa esquina sagrada de casa e acendam três velas, rezem cinco Pai-Nossos” e peçam à Santíssima Trindade que o país recupere tudo em paz.
Por outro lado, decreta a criação imediata das divisões “PDVSA Essequibo” e “CVG Essequibo”, das empresas estatais Petróleos da Venezuela SA e Corporação Venezuelana de Guiana, para que concedam licenças para a exploração e prospecção de petróleo, gás e minerais no território e mares venezuelanos.
No quinto decreto, Maduro cria a Zona de Defesa Integral daquele território, com três áreas de defesa na íntegra e 28 sectores de desenvolvimento. O último decreto tem a ver com o ambiente e a biodiversidade e estipula a criação de novos parques nacionais, zonas protectoras de reserva e monumentos naturais.
Nicolás Maduro pediu cinco consensos aos venezuelanos: preservar um novo modelo económico, condenar as sanções internacionais, consolidar a paz e não permitir guarrimbas [barricadas de rua], recuperar o bem-estar social e recuperar o território de Essequibo.
A Venezuela e a Guiana estão em disputa pelo Essequibo, rico em petróleo, de cerca de 160 mil quilómetros quadrados, que representa mais de dois terços do território da Guiana e abriga cerca de um quinto de sua população, à volta de 125 mil pessoas.
A reivindicação da Venezuela tornou-se mais premente desde que a ExxonMobil descobriu petróleo no Essequibo, em 2015, tendo a tensão aumentado desde então. Para a Venezuela, o rio Essequibo deveria ser a fronteira natural, como era em 1777, durante a época do império espanhol. A Guiana argumenta que a fronteira, que remonta à era colonial britânica, foi ratificada em 1899 por um tribunal arbitral em Paris.
Maduro acusa oposição de trair pátria
O Presidente venezuelano acusou sexta-feira vários políticos opositores venezuelanos de se aliarem com Georgetown e a ExxonMobil e de traírem a pátria na reivindicação do Essequibo, território em disputa com a vizinha Guiana.
“Iniciámos numa nova etapa da história. Após 150 anos, despertou uma consciência de justiça, de igualdade e de independência, de exercício da soberania. (…) Vejam como a ultra-direita grita”, disse Nicolás Maduro.
Maduro falava num comício político, frente ao palácio presidencial de Miraflores, durante o qual assinou os vários decretos para recuperar o território da Guiana Essequiba. “Vejam a reacção do imperialismo e da direita de desrespeitar a vontade do povo, o exercício da soberania popular. A casta oligárquica da ultra-direita presta-se mais uma vez contra o seu próprio país e isso chama-se traição à pátria”, disse.
Maduro frisou: “Aí estão os Capriles [Henrique], os Leopoldo López, os Júlios Borges, a ‘Machada’ [Maria Corina Machado, vencedora das primárias da oposição], Guaidó [ex-presidente do parlamento], a falarem contra o povo e a apoiarem a ExxonMobil e a Guiana”.
“Apelo ao povo para que os denuncie em cada rua, comunidade. Basta de traição”, disse Maduro.