Forças iranianas recorreram à violência sexual nos protestos após a morte de Mahsa Amini, diz a Amnistia Internacional
Relatório da Amnistia denunciou casos de violência sexual, incluindo violações em grupo, no Irão em 2022. Ocorreram nos protestos Mulher, Vida, Liberdade, após a morte de Mahsa Amini.
Um novo relatório da Amnistia Internacional denuncia que as forças de segurança iranianas recorreram à violência sexual para intimidar e reprimir quem participou nos protestos em 2022 do movimento Mulher, Vida, Liberdade, após a morte de Mahsa Amini às mãos da polícia por não utilizar o hijab de acordo com as normas islâmicas. Os atacantes seriam agentes da Guarda Revolucionária, da força paramilitar Basij, do Ministério dos Serviços Secreto, membros da Polícia de Segurança Pública iraniana, da Unidade de Investigação e das Forças Especiais.
O documento contém testemunhos de 45 sobreviventes (entre os quais 26 homens, 12 mulheres e sete crianças) que terão sido vítimas de agressões do foro sexual para “torturar, punir e infligir lesões físicas e psicológicas duradouras aos manifestantes” — incluindo a uma criança de 12 anos. Dezasseis dos sobreviventes foram violados, seis dos quais em grupo por vários agentes do sexo masculino. Outros 29 foram sujeitos a outras formas de violência sexual: foram agarrados, apalpados, agredidos, obrigados a ficarem nus em vídeos, sujeitos a choques eléctricos nos genitais e submetidos a cortes do cabelo.
A esmagadora maioria dos sobreviventes não apresentou queixa, quando foi libertada, com receio de futuras agressões e por não acreditar no sistema judicial do Irão. De resto, entre os casos que foram reportados às autoridades iranianas, nenhum resultou em processos ou acusações contra agentes do Estado. A própria Amnistia Internacional enviou os dados que recolheu junto dos sobreviventes para as autoridades iranianas a 24 de Novembro, mas não recebeu qualquer resposta nas últimas duas semanas.
Uma das vítimas, Maryam, relatou ter sido violada em grupo num centro de detenção da Guarda Revolucionária, onde os agentes diziam que as mulheres eram obcecadas pelo órgão sexual masculino. “Não é isto que procuram com a libertação?” , diziam eles durante as violações. Farzad contou ter sido violado em grupo por agentes à paisana das Forças Especiais: “Torturaram-me com espancamentos que me partiram o nariz e os dentes. Baixaram-me as calças e violaram-me. Senti que estava a ser desfeito”, descreveu.
Quando não utilizavam os próprios corpos para agredir e violar os manifestantes, os agentes utilizavam bastões de madeira e de metal, garrafas de vidro e mangueiras como armas. As violações ocorreram, na maior parte dos casos, em centros de detenção e carrinhas da polícia, em escolas e em edifícios residenciais que, segundo explica a Amnistia Internacional, foram ilegalmente adaptados como locais de detenção. Depois dos ataques, os agentes negavam o acesso a cuidados médicos às vítimas, que exibiam ferimentos significativos após as violações.
“Por desafiarem décadas de opressão e de discriminação baseada no género, todas estas pessoas foram presas arbitrariamente e submetidas a violações, violações colectivas e/ou outras formas de violência sexual pelas forças da secreta e de segurança do Irão”, denunciou a Amnistia Internacional. “A prevalência da violência sexual em repressão ao movimento é difícil de quantificar. No entanto, a documentação pormenorizada da Amnistia Internacional indica que as violações documentadas fazem parte de um padrão mais vasto”, prosseguiu a ONG.