Caso Cláudia Simões: defesa de PSP desiste de Carlos Alexandre como testemunha

Advogada de Carlos Canha considerou que deslocação do juiz Carlos Alexandre seria inútil por tribunal não permitir perguntas sobre situação profissional. Juiz não presenciou factos em julgamento.

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Daniel Rocha
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A defesa do polícia Carlos Canha, agente que é acusado de ter agredido a cozinheira Cláudia Simões em Janeiro de 2020, desistiu de chamar o juiz Carlos Alexandre como testemunha abonatória por considerar que a sua deslocação ao tribunal seria “inútil”.

Num requerimento entregue ao tribunal, a advogada Fátima de Oliveira Esteves alega que o tribunal não lhe permitiu fazer perguntas a Carlos Canha sobre a sua situação profissional e era sobre esse facto que Carlos Alexandre viria testemunhar, já que não presenciou os factos em julgamento.

Canha fez parte do corpo de segurança pessoal da PSP que acompanhou o juiz desembargador entre 2010 e 2012 e entre 2014 e 2016 e Carlos Alexandre iria depor sobre estas circunstâncias. No requerimento a advogada alega ainda que o “julgamento tem vindo a ser objecto de diversas notícias, artigos de opinião e comentários que pretendem denegrir” tanto o agente da PSP como o juiz Carlos Alexandre, e dá exemplos de um artigo no PÚBLICO e no Expresso.

Apesar de a lei permitir que Carlos Alexandre enviasse um depoimento por escrito, o juiz tinha feito saber ao Tribunal de Sintra que iria testemunhar presencialmente.

Carlos Canha e Cláudia Simões são ambos ofendidos e arguidos: Canha está acusado de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, três de sequestro agravado, um de abuso de poder e outro de injúria agravada contra Cláudia Simões e contra outras duas vítimas; Simões é acusada de ofensas à integridade física qualificada por ter mordido no polícia durante a detenção.

O caso começou com a entrada de Cláudia Simões e a filha no autocarro da Vimeca – a filha não mostrou nem passe, nem bilhete porque se esquecera dele em casa e o motorista terá chamado a atenção desse facto; chegados à paragem, o motorista interpelou Carlos Canha, que estava a passar na rua e que procedeu à detenção desta mulher de 46 anos, cozinheira e empregada doméstica. Simões acusa Canha de a agredir nessa altura e dentro do carro a caminho da esquadra, provocando-lhe lesões no rosto e cabeça. Carlos Canha alega que usou a força estritamente necessária para a detenção.

Na primeira sessão, Cláudia Simões, de 46 anos, disse que a agressão começou com Carlos Canha a forçá-la a sentar-se na paragem de autocarro e a bater-lhe na mão com que agarrava um telemóvel. Confessou desconhecer a razão pela qual o agente se dirigiu a si e lhe agarrou no casaco na zona do pescoço. “Começou a apertar o pescoço para tentar fazer-me sentar, com muita força mesmo. E foi aí que lhe mordi a mão.” Entretanto algemaram-na, disse, empurraram-na com força e meteram-na dentro da carrinha da polícia. “Quando a carrinha arrancou, começou a bater-me muito”, disse. “Fecharam o vidro e meteram música. Chamaram-me nomes: puta, vaca, macaca, preta do c...”

O polícia já por várias vezes disse, em outras sessões, que os ferimentos no rosto desta mulher foram provocados pela algemagem quando esta resistia à sua detenção. Alegou ainda que Simões se atirou para o chão quando chegaram à esquadra, depois de ter sido detida, e que terá sido aí também que se lesionou.

Dois outros dois agentes, João Gouveia e Fernando Rodrigues, são acusados pelo Ministério Público de um crime de abuso de poder e de nada fazerem para impedir que aquele polícia agredisse a mulher.

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