Chama-se The Other Team (A Outra Equipa, em português) e questiona a forma como olhamos para o futebol, no qual a masculinidade parece inquestionável. Chuveiros comunitários, celebrações de golos e banhos de espumante são alguns dos momentos futebolísticos desconstruídos através de instalações.
É a primeira exposição a solo do artista visual JJ Guest e está em exibição na OOF Gallery, em Londres — coincidência ou não, fica a um minuto a pé do estádio do Tottenham, segundo o Google Maps.
A motivação de JJ Guest para explorar este tema surgiu depois de ver Gary Neville e Paul Scholes a celebrar um golo com um beijo na boca “de forma apaixonada”. “Fiquei mesmo irritado. Como é que é aceitável fazerem-no sem qualquer pudor [em contexto de jogo], mas eu tenha imenso medo até de olhar para um homem em público?”, contou em declarações à Dazed.
Assim, nesta exposição, Guest explora propositadamente a ambiguidade de comportamentos dos jogadores de futebol: no meio da sala há uma banheira grande que pode ser apenas uma parte do balneário masculino, mas também uma sauna gay, uma rede com a inscrição “play on” que parece uma simples mensagem motivacional, mas que, quando as luzes vermelhas da sala se acendem, lembra um elemento de um playroom queer.
Mas a instalação com mais destaque faz-se precisamente com o beijo dos jogadores do Manchester United Gary Neville e Paul Scholes. É a imagem que recebe quem entra na exposição — dividida em diferentes partes, cria uma dinâmica que “explora o espaço e a perspectiva, que muda consoante nos movemos também”.
O artista recorre a esculturas desconstruídas e instalações imersivas “para abordar a homofobia e o preconceito na sociedade em geral”, explica em comunicado de imprensa, mas também para “expor a violência, hipocrisia e duplos padrões que as pessoas LGBTQIA+ têm de enfrentar” quando, no panorama futebolístico, um beijo entre dois homens é aceitável e na rua não.
“Embora a frustração esteja no centro do meu trabalho, não pretendo atacar ou chamar a atenção a ninguém”, explicou o artista à Dazed. Pelo contrário, procura “criar um lugar comum onde se possa conversar, fazer perguntas e abrir espaço para o outro, mesmo que inicialmente seja desconfortável”.
Ao The Guardian acrescentou: “Quero que as pessoas saibam que, se os homens heterossexuais se sentem à vontade em tocarem os seus amigos, isso devia fazer com que fosse mais seguro para nós [homossexuais] também, porque ninguém nos iria escrutinar por fazermos isso. O mundo é um lugar para todos.”
The Other Team (numa alusão à expressão de pertencer “à outra equipa” e à heteronormatividade) é uma forma de activismo queer: “É arte contra preconceito e intolerância”, mas, ao mesmo tempo, “sobre pertença e comunidade”. Estará na OOF Gallery até 23 de Dezembro.