Políticas educativas dos taliban também condicionam os rapazes, alerta a Human Rights Watch

O relatório aponta a falta de profissionais qualificados face ao despedimento de professoras, a retirada de disciplinas nos planos curriculares e o abandono escolar. ONG fala em “danos irreversíveis”.

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A Human Rights Watch pede uma resposta internacional para enfrentar a crise educacional no Afeganistão EPA/MAXIM SHIPENKOV
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As políticas educativas do regime taliban no Afeganistão não estão apenas a condicionar as mulheres e raparigas adolescentes. Os rapazes também estão a ser afectados, como alerta a Human Rights Watch num relatório divulgado esta quarta-feira. O documento, que analisa o impacto do governo na educação escolar dos rapazes no país, revela que a falta de professores qualificados e as alterações regressivas nos currículos são as principais barreiras referidas.

A organização internacional não-governamental esteve em contacto com pais e alunos do 8.º ao 12.º ano, nas regiões como Cabul, Balkh, Herat, Farah e as províncias de Bamiyan, Nangarhar e Daikundi, durante três meses em 2022 e entre Março e Abril deste ano. Entre os principais problemas mencionados está o despedimento das professoras mulheres que até então exerciam nas escolas públicas.

No regresso ao poder, em Setembro de 2021, os taliban restabeleceram grande parte das políticas aplicadas entre 1996 e 2001 e que proibiam que as mulheres afegãs frequentassem o terceiro ciclo do ensino básico e secundário. Já em Dezembro do ano passado, o governo acabou por alargar a proibição ao ensino superior. Apesar de os rapazes manterem o acesso à educação, as políticas escolares também prejudicam os jovens afegãos.

Os estudantes ouvidos descrevem “uma grave falta de professores profissionais”, devido aos condicionamentos levados a cabo pelo governo. A ONG refere ainda que os pais e alunos chamam a atenção para um “aumento preocupante no uso de castigos corporais”. A mudança nos planos escolares também é referida, com o regime a banir das escolas disciplinas relacionadas com o desporto, as artes, a biologia e a educação cívica.

“Os taliban estão a causar danos irreversíveis ao sistema educativo afegão, tanto para rapazes como para raparigas”, afirmou a autora do relatório, Sahar Fetrat. A também investigadora assistente dos direitos das mulheres na Human Rights Watch alerta que os taliban, ao prejudicarem todo o sistema escolar do país, “correm o risco de criar uma geração perdida, privada de uma educação de qualidade”.

No relatório podem ler-se testemunhos de estudantes que referem as visitas do Ministério da Propagação da Virtude e Prevenção do Vício às escolas. O ministério, responsável pela punição perante violações à lei islâmica, foi retomado como forma de substituição ao Ministério dos Assuntos da Mulher, tendo já existido nos anos de 1990. Para além disso, a ONG relembra que o escalar das crises económica e humanitária no país exige um abandono escolar precoce por parte dos rapazes, para sustentarem as famílias.

“O impacto dos taliban no sistema educativo está a prejudicar as crianças de hoje e irá assombrar o futuro do Afeganistão”, afirmou Sahar Fetrat, citada no documento. “É desesperadamente necessária uma resposta internacional imediata e eficaz para enfrentar a crise educacional do Afeganistão”.

Os responsáveis da organização não-governamental alertam ainda para o facto de as barreiras impostas pelo regime taliban serem “incompatíveis com as normas e práticas internacionais em matéria de direitos humanos”.

Texto editado por Pedro Sales Dias

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