Consumo ético: Mars, Cadbury e Nestlé são marcas de chocolate “a evitar”

Além de considerar as marcas Mars, Mondelèz e Nestlé como trio “a evitar”, relatório da Ethical Consumer indica que apenas 20% pagam quantias aceitáveis aos respectivos produtores de cacau.

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Entre o trio de “marcas a evitar” estão a Mars, a Mondelèz, dona da Cadbury, e a Nestlé, responsável pela KitKat e Smarties Daniel Rocha
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De acordo com o mais recente relatório da Ethical Consumer, apenas 17 das 82 empresas de chocolate analisadas escolhem fornecedores que pagam quantias aceitáveis para a subsistência dos produtores de cacau. Quanto às restantes 65 – 80% da amostra –, o relatório apontou padrões éticos “inadequados”. A Ethical Consumer é uma organização não-governamental britânica especializada na investigação do comportamento social, ético e ambiental das empresas. Entre o trio de “marcas a evitar” estão a Mars, a Mondelèz (dona da Cadbury) e a Nestlé (proprietária de marcas como o KitKat e os Smarties).

Embora as três empresas tenham esquemas de sustentabilidade específicos, os investigadores da Ethical Consumer afirmam que estes “tendem a cobrir apenas uma proporção dos fornecedores de cacau da empresa”. Ao The Guardian, Jasmine Owens sublinhou a desigualdade intrínseca à indústria do chocolate, destacando a responsabilidade europeia na promoção de melhores condições dos agricultores. “Somos a razão pela qual eles colhem o cacau.”

De acordo com a organização, 60% do cacau mundial vem da África Ocidental, onde a exploração infantil é a ainda realidade de muitos. Ainda no ano passado, a multinacional americana Mondelèz foi alvo de graves acusações. Imagens mostravam crianças com facões nas explorações de cacau da cadeia de abastecimento no Gana, onde se estima que seis em cada dez famílias recorram ao trabalho infantil. Segundo outro relatório, desenvolvido pelo Centro Nacional de Investigação de Opinião da Universidade de Chicago entre 2015 e 2020, 43% das crianças que viviam perto de zonas de cultivo no Gana e Costa do Marfim estavam expostas a trabalhos perigosos. Embora os dois países tenham leis contra o trabalho infantil, a dimensão das áreas de cultivo continua a dificultar a monitorização da polícia. No total, são 1,56 milhões de crianças que a produção de chocolate retira da escola e põe em risco.

Em resposta à Ethical Consumer, a Mars frisou o comprometimento futuro com a sustentabilidade. “A nossa ambição é que 100% do nosso cacau seja obtido de forma responsável até 2025. Estamos a tomar medidas concretas para fazer a diferença nas comunidades produtoras de cacau”, afirmou um porta-voz da empresa. Estando a precariedade dos pagamentos em destaque, a empresa partilhou ainda que “o preço por si só não é resposta”. Já a Mondelèz, dona da Cadbury, preferiu não responder à nova acusação, referindo apenas uma meta semelhante à da Mars, também para 2025.

Mais 500 euros por ano

Quanto à Nestlé, a marca frisou que a avaliação “não representa a extensão dos esforços para obter cacau sustentável”. O porta-voz da multinacional suíça destacou ainda o “programa acelerador de rendimentos”, que hoje permite que 10 mil famílias costa-marfinenses ganhem até 500 euros extra por ano. O valor só é acumulável durante dois anos, mas a empresa sublinha a intenção de alargamento dos beneficiários. A mesma atitude foi adoptada pela Ferrero, outra empresa destacada pela negativa. Segundo a empresa italiana, a marca não só apoia o bem-estar das mulheres, das crianças e do ambiente, como paga a todos os agricultores “um prémio em dinheiro além do preço comercial”.

Pela positiva, o relatório apontou a holandesa Tony’s Chocolonely, a britânica Divine e a Chocolat Madagascar. Os motivos vão do estimular de uma cadeia de abastecimento sustentável – processo auditado por organizações como a Fairtrade Internacional ou a Rainforest Alliance –, à utilização de chocolate feito no país de origem do grão. Ao evitarem a importação da matéria-prima, as marcas promovem a economia nos países produtores. Embora admita que o preço acrescido e a menor acessibilidade destes produtos possam ser desmotivadores, Owens enfatiza a proposta da empresa Tony’s Chocolonely, producto disponível nos supermercados. A marca holandesa chegou a Portugal em inícios de 2021.

A avaliação da Ethical Consumer também considerou o uso de embalagens de plástico e óleo de palma, largamente associado à desflorestação, pelas 82 empresas de chocolate em análise.

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