Centenário de Maria Callas: recordar a vida (e voz) de La Divina

Uma das vozes (e presenças) maiores do canto operático nasceu a 2 de Dezembro de 1923.

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Retrato da soprano americana de origem grega Maria Callas, da década de 1950 Apg/Mondadori Portfolio via Getty Images
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Maria Callas em Paris, a 16 de Janeiro de 1958 Roger Viollet via Getty Images
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Maria Callas Franco Gremignani/Arquivo Publifoto
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A cantora de ópera grega nascida nos Estados Unidos, Maria Callas, com o seu primeiro marido, o industrial Giovanni Battista Meneghini, na praia do Lido de Veneza, em 1950 Archivio Cameraphoto Epoche/Getty Images
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Maria Callas como Cio-Cio-San em Madama Butterfly (Giacomo Puccini) Bettman via Getty
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Maria Callas experimenta roupa no atelier Biki, Milão, 1 de Maio de 1958 Franco Gremignani/Arquivo Publifoto
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Maria Callas com Aristóteles Onassis em Veneza, em 1957 ullstein bild/ullstein bild via Getty Images
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Maria Callas e Aristóteles Onassis Franco Gremignani/Arquivo Publifoto
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Maria Callas com a rainha espanhola Sofia, em Madrid, em 1973 Gianni Ferrari/Cover/Getty Images
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A cantora de ópera Maria Callas e o actor Alain Delon num programa de televisão realizado por Roland Bernard Josee Lorenzo/INA via Getty Images
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Maria Callas Hulton-Deutsch Collection/CORBIS/Corbis via Getty Images
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“Quando interpretamos um papel, temos de ter mil cores para retratar a felicidade, a alegria, a tristeza, o medo. Como é que se pode fazer isto apenas com uma voz bonita?” A frase é atribuída a Maria Callas na biografia de Anne Edwards, lançada em 2001, e resume a exigência que a soprano colocava sobre si sempre que subia a palco.

La Divina, como tantos chamaram a uma das vozes (e presenças) maiores do canto operático, nasceu há cem anos, efeméride assinalada com um museu que se dedica ao seu legado (foi inaugurado, em Atenas, em Outubro), exposições dedicadas à sua vida e arte, um pouco por todo o mundo, como Maria Callas. Retratos do Arquivo Publifoto Intesa Sanpaolo, na Gallerie d’Italia, em Milão (até 18 de Fevereiro), e outras homenagens, também por cá, nomeadamente com o Espectáculo Comemorativo do Centenário do Nascimento de Maria Callas, no Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra, com a direcção artística e musical de Raul Pinto e a participação da soprano Lara Martins.

Maria Anna Cecilia Sofia Kalogeropoulos nasceu em Nova Iorque, a 2 de Dezembro de 1923, apenas alguns meses depois de os pais, de nacionalidade grega, terem emigrado para os EUA — uma decisão do pai, George Kalogeropoulos, que a mãe, Litsa, recebeu de mal-grado. Por isso, quando o casamento terminou, a mãe regressou à Grécia, levando consigo as duas filhas. Maria tinha, na altura, 13 anos, e foi em Atenas que iniciou os seus estudos musicais, ainda que tivesse começado a dar provas da sua voz muito mais cedo. “Obrigaram-me a cantar quando tinha apenas cinco anos, e eu detestava”, chegou a recordar.

Independentemente de não gostar da pressão da mãe para usar a voz, acabou por se apaixonar pela ópera e desenvolver as suas capacidades no Conservatório de Atenas, onde estudou com a famosa soprano Elvira de Hidalgo, tendo por base a tradição italiana do bel canto do início do século XIX.

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Maria Callas HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/CORBIS VIA GETTY IMAGES

Callas estreou-se profissionalmente em 1942. Tinha apenas 18 anos, mas deu à personagem Floria Tosca, na Tosca de Puccini, um rasgo de genialidade que fez com que o papel se colasse à sua imagem e voz. Seguiram-se muitas outras personagens, como Santuzza (na Cavalleria rusticana de Mascagni), Leonore (em Fidelio, a única ópera de Beethoven) ou Norma (na ópera homónima de Vincenzo Bellini).

Aos 21, regressou aos EUA, e, a partir daí, somaram-se êxitos atrás de êxitos, como a cantar La Gioconda, de Ponchielli, em Verona, sob a direcção do maestro italiano Tullio Serafin, que foi uma espécie de mentor e a aproximou das obras italianas mais antigas que pediam uma voz leve.

Da mesma forma que somava fãs, reunia inimizades: desentendeu-se com o director-geral do Met Opera, Rudolf Bing, e corria tinta sobre a rivalidade com a soprano Renata Tebaldi.

Mas, no auge da sua carreira, na década de 1950, começou a revelar alguns problemas com a voz. Só que a emoção que colocava ao serviço do canto fazia com que qualquer irregularidade com as suas cordas vocais se desvanecesse. Ainda assim, pôs um ponto final na carreira de forma precoce: a sua última aparição operática foi em Julho de 1965, em Tosca, em Covent Garden. Tinha apenas 41 anos.

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Maria Callas: Portraits from the Intesa Sanpaolo Publifoto Archive inclui várias fotografias nunca vistas INTESA SANPAOLO PUBLIFOTO ARCHIVE
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A exposição pode ser visitada na Gallerie d'Italia, Milão, até 28 de Fevereiro Intesa Sanpaolo Publifoto Archive

A tragédia na vida

Se, em palco, Callas vestia os papéis mais trágicos de forma ímpar, na realidade, teve de suportar tragédias que acabariam por a moldar. Desde o seu nascimento, em que a mãe, convencida de estar grávida de um rapaz, se recusou a olhar para ela durante dias, até à adolescência na Grécia, em que a matriarca obrigava a irmã a prostituir-se com os soldados alemães e italianos que ocuparam o país durante a Segunda Guerra (Maria, que não igualava a beleza da irmã, era “apenas” obrigada a cantar para eles).

Anos depois, quando já era famosa, relata a biografia Cast a Diva: The Hidden Life of Maria Callas (The History Press), de Lyndsy Spence, lançada em 2021 — que transcreve correspondência entre a cantora e o seu padrinho e confidente, Leo Lerman —, a mãe viria a chantageá-la: ou lhe dava dinheiro ou contaria à imprensa esses episódios menos bonitos da família.

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Apesar da história de amor relatada na época, uma recente biografia descreveu a relação entre Maria Callas e Onassis como tóxica ULLSTEIN BILD/ULLSTEIN BILD VIA GETTY IMAGES

O livro também desbrava outra realidade sobre a relação com Aristóteles Onassis, por quem se apaixonou e se divorciou do seu primeiro marido, Giovanni Battista Meneghini, em 1959. Apesar de ser mais comum enaltecer o amor entre os dois, a biografia revela escritos de Callas que demonstram uma relação tóxica. Em 1966, escreveu: “Não quero que me ligue e comece outra vez a torturar-me.” Noutra missiva, descreve um episódio em que foi drogada pelo amante, relatando que, nesse estado, ele abusou sexualmente dela.

Depois do fim da relação com Onassis (que, entretanto, a trocou por Jacqueline Kennedy, com quem o magnata se casou em 1968), Callas tentou reavivar a sua carreira. Mas, apesar do regresso, a estrela já não voltou a brilhar. Morreu em 1977, com apenas 53 anos, vítima de um ataque cardíaco.

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