Deixem-se de tretas e dancem: Troye Sivan dá-nos Something to Give Each Other

O terceiro disco do cantor pop australiano, com concerto em Lisboa agendado para 2024, é uma celebração de liberdade sexual, identidade e juventude — sem querer mudar o mundo (ou sequer o mundo pop).

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Troye Sivan tem concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, marcado para 29 de Maio de 2024
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Numa altura em que tudo — do reggaeton ao trap, passando pela EDM — já foi baptizado como “a nova pop”, é bizarra a satisfação que vem com um disco novo que é só, e puramente, isso: pop. Sem narrativas empoladas, melodramatismo ou malabarismos de estúdio. Sem tretas. Something to Give Each Other é um desses.

São dez canções sobre sexo sem compromisso, noites de shots e dança como acto de exorcismo. Mas também sobre as manhãs de ressaca, os amores não correspondidos e a vontade de querer ser — ou apenas sentir-se — uma pessoa melhor. Da lascívia libertina de Rush à vulnerabilidade de Can’t go back, baby, o australiano Troye Sivan é tão convincente na personagem de “party boy que também chora” que nos esquecemos que não é um novato adolescente, mas sim alguém de 28 anos (tem concerto marcado para 29 de Maio de 2024 no Coliseu dos Recreios, em Lisboa).

Something to Give Each Other é um disco difícil de não se gostar. As canções são imediatas, descaradamente divertidas — mesmo nos momentos que roçam a introspecção — e nunca se levam demasiado a sério. O disco não é (nem tenta ser) particularmente inovador: toda a gente já trouxe de volta as toadas synth dos anos 1980 e toda a gente se apercebeu de que os anos 2000 são o novo vintage. Mas Sivan vinga, em comparação com os pares, por diluir as influências num cocktail que não podia ser mais 2023. Isoladamente, as canções funcionam tão bem como em formato álbum.

A produção é segura e sem grandes experiências. Ainda assim, quando é mais arrojada, deixa água na boca —​ How to stay with you é inesperadamente jazzy — e a sensação de que o disco podia ser ainda melhor.

Something to Give Each Other pode ser para a Geração Z uma amostra do que Discovery, dos Daft Punk, foi para os millennials (com muito, muito menos inovação e valor artístico, assinale-se): um disco que não se perde em devaneios, nem quer ensinar ou dar lições de moral seja a quem for. Em que paira uma urgência quase permanente de chegar ao refrão e em que os versos servem para acumular a tensão necessária antes do clímax.

O norte é sempre o sexo, o êxtase e o amor. Quanto menores forem os rodeios, melhor: “Kinda miss using my body / Fuck it up just like this party did tonight”, em Got me started, e “I’m getting close to satisfied / And I’ve learned so much about you / Don’t know your name, that’s something we’ll get to”, de Honey, servem de óptimos exemplos da forma como a regra é falar primeiro e pensar depois.

Claro está que a ousadia de escrever sem filtros permitiu que alguns versos mais questionáveis também ficassem no disco. “You should insure that waist (with the highest policy you can get)” do single One of your girls é quase tão foleiro como ver um artista de quase 30 anos cantar “Am I fucking sixteen / That shit’s kinda depressing”, em In my room. Fosse esta crítica escrita por um jornalista da Geração Z e descrever-se-iam estes momentos como cringe.

O terceiro disco de Sivan é uma celebração de liberdade sexual, inconsequência juvenil e identidade. Um retrato fiel do viver como se não existisse o amanhã e da frustração de acordar no dia seguinte. Elevou o mundo pop a qualquer outra coisa? Não, nem queria. Às vezes, só queremos desligar o cérebro e dançar.


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