A guerra voltou em força e Israel prepara ofensiva terrestre no Sul da Faixa de Gaza

Os militares israelitas dizem ter lançado mais de 200 ataques aéreos contra o território palestiniano.

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Gaza voltou a sentir a guerra nesta sexta-feira REUTERS/Hatem Khaled
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A trégua que começou por ser de quatro dias e acabou por durar sete permitiu libertar 105 reféns, incluindo 81 israelitas, todos mulheres e menores, levados pelo Hamas para a Faixa de Gaza e 240 palestinianos que estavam encarcerados nas prisões de Israel, a maioria adolescentes acusados de atirar pedras em confrontos com militares israelitas. Não é possível saber quantas vidas o acordo que agora ruiu permitiu poupar, mas o fim da trégua foi ruidoso.

Ainda de madrugada, os alertas de rockets começaram a soar em Israel: uma a uma, soaram em todas as comunidades atacadas a 7 de Outubro e depois em cidades mais longe, no centro do país, e ainda no Norte, depois de disparos do Hezbollah. Durante a tarde, as Forças de Defesa de Israel (IDF) diziam que já tinham atacado mais de 200 alvos em Gaza, incluindo no Sul do enclave palestiniano, onde se concentram muitos dos civis que fugiram do Norte, cumprindo assim as indicações de Israel.

De acordo com o Ministério da Saúde do território, do Governo controlado pelo Hamas, entre o fim do cessar-fogo e o início da noite desta sexta-feira morreram 178 civis (a ONU e várias organizações internacionais consideram os dados oficiais credíveis e até conservadores), a maioria crianças e mulheres, e 589 pessoas ficaram feridas.

Entres as primeiras vítimas do dia, 14 pessoas foram atingidas em Rafah, a cidade palestiniana onde funciona o único posto fronteiriço que liga o território ao Egipto. Nessa altura, Israel estava a fazer chegar panfletos a Khan Younis, a principal cidade do Sul da Faixa, dizendo precisamente às pessoas para “saírem para Rafah”, disse Hind Khoudary, jornalista da Al-Jazeera em Gaza. As IDF confirmaram isso mesmo, que tinham dito a quem estivesse em Khan Younis para ir para Rafah.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, que aterrou em Israel pouco antes do fim da trégua, afirmou ter dito ao Governo de Benjamin Netanyahu que é imperativo garantir “protecções claras” para os civis de Gaza. Mark Regev, conselheiro sénior do primeiro-ministro, disse à BBC que as IDF farão “o máximo esforço para que os civis saiam em segurança das zonas de combate”, explicando que Israel partilhou os seus planos com Blinken.

Com os ataques cada vez mais concentrados no Sul, Regev notou que as diferenças de terreno e de densidade populacional em relação ao Norte vão permitir reduzir as vítimas civis, particularmente através do recurso a avisos e da “designação de zonas específicas que são áreas seguras”.

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O Iron Dome volta a interceptar rockets vindos de Gaza REUTERS/Amir Cohen

Não é a primeira vez que Israel fala em “zonas seguras” desde o início da guerra e já houve muitos palestinianos a morrer em ataques nessas zonas, num total de pelo menos 15 mil pessoas mortas nas sete semanas de confrontos e bombardeamentos.

Trégua “salvou vidas”

De acordo com as agências humanitárias, o facto de as comunicações serem tão difíceis é suficiente para perceber que o plano de Israel para poupar os civis é impraticável. Para além disso, “não há realmente nenhum sítio para onde as pessoas possam ir”, agora que 1,8 milhões, de uma população de 2,3 milhões, já são deslocados, sublinhou em declarações ao jornal The Guardian Danila Zizi, responsável da organização não-governamental Humanity & Inclusion na Palestina.

A ONG International Rescue Committee disse que a trégua “salvou vidas” e realçou “a morte, a destruição e o sofrimento dos civis dentro de Gaza”. O seu fim, avisa a Save the Children, é uma “sentença de morte para as crianças em Gaza”.

Já se sabia que depois de terminar a batalha na Cidade de Gaza, interrompida com o cessar-fogo temporário, o objectivo de Israel será o Sul, onde se esconderão agora os principais comandantes do Hamas. Para isso, tal como fez na maior cidade do território, terá de acompanhar os bombardeamentos por acções de tropas terrestres.

Blinken responsabilizou o Hamas pelo fim da trégua, ao reivindicar o ataque que matou três pessoas numa paragem de autocarro em Jerusalém, na quinta-feira. O movimento palestiniano culpou Israel e garantiu que por três vezes se ofereceu para libertar todos os reféns – estarão ainda 140 em Gaza – em troca de mais dias de tréguas.

Mesmo depois das bombas e de os rockets terem voltado a fazer-se ouvir, os mediadores qataris e egípcios ainda acreditavam que seria possível salvar o acordo, notando que as últimas libertações de reféns e de prisioneiros aconteceram já depois do ataque em Jerusalém. Só ao final do dia é que os negociadores assumiram o “colapso” das conversações.

Qatar e Egipto continuam comprometidos com o regresso de uma trégua, mas como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros qatari, xeque Mohammed bin Abdul Rahman al-Thani, “os bombardeamentos contínuos em Gaza complicam os esforços de mediação e exacerbam a catástrofe humanitária”.

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Palestinianos fogem das suas casas em Gaza REUTERS/Amir Cohen
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