Finlândia corta ligações terrestres à Rússia, que vê “ameaça” na militarização da fronteira

A Finlândia encerrou esta quarta-feira o último posto fronteiriço com a Rússia, na tentativa de travar a entrada de migrantes e a sua “instrumentalização” na “guerra híbrida” russa.

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Um dos postos fronteiriços finlandeses encerrados Reuters/LEHTIKUVA
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Um reforço da presença militar finlandesa na fronteira com a Rússia será encarada por Moscovo como uma ameaça, avisou o Kremlin esta quarta-feira. As declarações surgem depois de a Polónia se ter disponibilizado para dar apoio militar à guarda fronteiriça da Finlândia, que encerrou o último posto de passagem para a Rússia.

"Um dos resultados da visita do Presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, a convite do Presidente Andrzej Duda, é um pedido oficial de apoio face ao ataque híbrido na fronteira finlandesa", escreveu o líder do Conselho de Segurança Nacional da Polónia, Jacek Siewiera, no X, esta terça-feira. "Tencionamos aceder ao pedido do nosso aliado na NATO e parceiro na União Europeia."

Questionado por jornalistas sobre a oferta de ajuda polaca, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, considerou-a "uma medida de segurança redundante, uma vez que não há nenhuma ameaça na fronteira". "Os finlandeses devem estar cientes de que a concentração de unidades militares nas nossas fronteiras representa, para nós, uma ameaça."

Contudo, esta quarta-feira, tanto a guarda fronteiriça da Finlândia como o Ministério do Interior afirmaram não ter conhecimento de qualquer plano para destacar para a fronteira conselheiros militares polacos. Confirmado está o apoio prometido pela agência europeia Frontex, que tem a sua sede na capital da Polónia.

Segundo a Reuters, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas polacas não responderam de imediato a um pedido de esclarecimentos.

Andrzej Duda e Sauli Niinisto​ encontraram-se na semana passada, em Varsóvia, mas a Presidência finlandesa negou que tenham sido discutidas estratégias de cooperação militar na fronteira com a Rússia.

Finlândia encerrou 1340 quilómetros de fronteira

A Finlândia decidiu encerrar por duas semanas os 1340 quilómetros de fronteira com a Rússia, numa tentativa de travar a entrada de requerentes de asilo, que disparou este mês, no que Helsínquia classifica como uma "instrumentalização dos migrantes" na "guerra híbrida" russa.

Só em Novembro, entraram na Finlândia mais de 800 migrantes vindos da Rússia por via terrestre. Por comparação, em meses anteriores registaram-se apenas algumas dezenas de chegadas: menos de uma centena entre Agosto e Outubro.

Com os oito postos fronteiriços finlandeses fechados, será apenas permitida a passagem a transportes de mercadorias entre os dois países.

Na perspectiva de Helsínquia e de alguns dos seus aliados ocidentais, incluindo o secretário-geral da NATO, o aumento do fluxo de migração é uma "forma de pressão russa" e uma retaliação de Moscovo pela cooperação militar da Finlândia com os Estados Unidos, alegações que a Rússia nega. Ao longo deste ano, a relação entre as nações vizinhas deteriorou-se na sequência da adesão da Finlândia à Aliança Atlântica, pondo fim a uma política de neutralidade que mantinha há mais de 70 anos.

"Não aceitaremos quaisquer tentativas de minar a nossa segurança nacional", declarou esta terça-feira, em conferência de imprensa, o primeiro-ministro Petteri Orpo. Na segunda-feira, o governante finlandês afirmou que os serviços secretos do país tinham provas de que as autoridades russas estavam a encaminhar para a fronteira os requerentes de asilo de várias nacionalidades — síria, somali, paquistanesa, iraquiana ou afegã —, mesmo sem a documentação necessária.

Desde 25 de Novembro que estava apenas aberta a passagem de Raja-Jooseppi, numa zona remota da Lapónia. Ainda que na segunda-feira apenas três pessoas tenham atravessado esse ponto da fronteira, e ninguém o tenha feito na terça-feira, também esse posto encerrou nesta quarta. Toda a fronteira Leste permanecerá fechada até 13 de Dezembro.