Luiz Caracol: “Este é talvez o álbum que melhor reflecte todo o meu percurso”
Luiz Caracol está de volta à estrada com Ao Vivo no Namouche, revisão de carreira que fecha um ciclo. Esta quinta-feira vai apresentá-lo em concerto no Olga Cadaval, em Sintra.
Chama-se Ao Vivo no Namouche e é o mais recente trabalho do cantor e compositor Luiz Caracol, reunindo canções dos dois álbuns anteriores, com novos arranjos, e quatro originais, que têm vindo a ser publicados em single e EP. Com 15 temas, o álbum é agora pretexto para um regresso aos palcos, com concertos já marcados até 2024. O primeiro é esta quinta-feira, às 21h, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, seguindo-se o Centro de Artes de Águeda (15 de Dezembro) e, já em 2024, o Festival Raízes (Mafra, 20 de Janeiro), o Auditório Carlos Paredes (Lisboa, 26) e a Casa da Cultura de Setúbal (16 de Março).
“Cresci com os MTV Unplugged como inspiração”, diz Luiz Caracol ao PÚBLICO, ao justificar a gravação de um álbum ao vivo num estúdio. “E tinha esse imaginário energético do que eram essas sessões, sempre gravadas ao vivo, com pouco público. Como precisava de um espaço que carregasse uma certa mística, achei que a escolha era o Namouche, um estúdio com uma história enorme na música portuguesa, onde já muitas da minhas referências também gravaram.”
Dos 15 temas de Ao Vivo no Namouche, seis foram retomados do primeiro álbum, Devagar, de 2013 (Em marcha, Samba do bairro, Moro em ti – aqui transformado em Moro em ti “Lisboa” –, O que vai ser, O mundo e Isto) e cinco do segundo, Metade e Meia, de 2017 (Metade, Não quero, Tou farto, Falhou na dança e Hoje e amanhã). Os restantes, diz Luiz Caracol, são novos: “Sou, Sai e Lá em casa. Resgatei também um tema do EP que saiu durante a pandemia, Vai lá. Basicamente, este álbum acaba por ser uma espécie de compilação que reflecte o que tem sido o meu percurso.” Com produção de Luiz Caracol (voz e guitarras) e Rui Pity (baixo), o disco conta ainda com Ivo Costa (bateria), Ruca Rebordão (percussão), Gus Liberdade (teclados, percussão, coros), Pedro Carvalho (guitarra eléctrica, coros), Francisco Sales (guitarra acústica) e Gui Salgueiro (teclados).
Gravar um disco ao vivo foi, para ele, um desafio novo: “Nunca tinha tido essa possibilidade, a de gravar com os músicos todos ao mesmo tempo, num ambiente com este, com público mas controlado. Como ao longo dos anos tenho tocado muito ao vivo, e o palco e o ao vivo têm sempre uma magia muito especial, quis transportar essa energia para este álbum.” Quanto aos arranjos utilizados nestas gravações, acrescenta o músico, resultam de um trabalho de vários anos: “Muitos dos arranjos que estão no álbum eram arranjos que ao longo dos anos fomos recriando e alguns foram ganhando uma energia de que gostei muito, por isso transitaram para este disco.”
Este álbum é também uma espécie de virar de página, diz: “Este disco ao vivo foi necessário para mim porque sinto que vem fechar um ciclo em relação aos meus trabalhos anteriores. Tenho composto algumas novas canções, mas se me perguntarem o que vem aí, estilisticamente ainda não consigo responder. Talvez seja uma coisa mais introspectiva, um disco mais voltado para ambientes e para guitarra e voz, mas não sei para quando. Depende da estrada que este disco vai fazer.”
A edição de Ao Vivo no Namouche escapa também às convenções. Disponível nas plataformas digitais, existe uma edição física, de tiragem limitada, mas também aproveitando o digital: “Fiz uma espécie de um digipack, que parece que tem um CD lá dentro, mas na verdade tem uma pen drive com os temas do álbum lá dentro e também com as letras todas, porque há quem tenha esse interesse. Como o disco foi gravado e também filmado ao vivo, quem tiver o disco vai ter acesso a um QR Code para se poder visualizar todo o concerto. É como se fosse um DVD virtual. Esta edição não está nas lojas, está disponível apenas para venda online, nas minhas redes sociais.”
O resultado de tudo isto é, para Luiz Caracol, muito satisfatório: “Estou muito feliz. Porque sou um músico independente, não tenho grandes produções nem grandes agências, e consegui construir uma coisa cujo resultado me deixa mesmo muito contente. Agora que tenho dois filhos, fico feliz por poder deixar esta espécie de obra que é também um agradecimento a todas as influências e viagens que vivi, inclusive com a Sara Tavares [1978-2023], porque andámos quase dez anos na estrada juntos. Viajei muito, pisei muitos palcos, e este álbum reflecte muitas dessas vivências. Para quem não conhece a minha música, este é talvez o álbum que melhor reflecte todo o meu percurso.”