Robert De Niro subiu, nesta segunda-feira à noite, ao palco dos prémios Gotham, que anualmente distinguem produtores de filmes independentes, para apresentar a distinção atribuída a Martin Scorsese e a Lily Gladstone, como Ícones Históricos e Criadores, a propósito de Assassinos da Lua das Flores, filme em que o actor entra.
Mas, quando começou a proferir o seu discurso, lido num teleponto, interrompeu-se, mostrou-se confuso, para logo a seguir esclarecer o público. O seu discurso fora mudado sem que lhe tivesse sido dado conhecimento. “O início do meu discurso foi editado, cortado”, disse. “Eu não sabia disso.”
No entanto, o actor, de 80 anos, não se ficou pelas palavras que, aparentemente, a organização do prémio decidira serem as mais adequadas e tirou o telemóvel do bolso para procurar pelo texto original. “A história já não é história; a verdade já não é verdade”, começou por dizer. “Até mesmo os factos estão a ser substituídos por factos alternativos e conduzidos por teorias da conspiração e pela fealdade”, referindo-se aos estudantes da Florida a quem foi dito que os escravos desenvolveram competências “para seu benefício pessoal” e declarando que nem a indústria do entretenimento “está imune a esta doença purulenta”.
E continuou: “A mentira tornou-se apenas mais uma ferramenta no arsenal dos charlatões. O antigo presidente mentiu-nos mais de 30 mil vezes durante os seus quatro anos de mandato e continua a fazê-lo na sua actual campanha de retaliação. Mas com todas as suas mentiras, ele não consegue esconder a sua alma. Ele ataca os fracos, destrói os dons da natureza e mostra desrespeito, por exemplo, ao usar Pocahontas como uma calúnia”, referindo-se à alcunha que o ex-presidente atribuiu à senadora Elizabeth Warren.
O actor acrescentou, então, que era suposto agradecer aos prémios Gotham Awards e à Apple, por terem proporcionado a produção de Assassinos da Lua das Flores. “Mas não me apetece nada agradecer-lhes pelo que fizeram. Como é que eles se atrevem a fazer isso [de cortar o discurso]?” O público respondeu com aplausos ao actor e com apupos contra a organização.
De Niro tem sido uma das vozes mais críticas em Hollywood contra Donald Trump, desde a altura em que o empresário era candidato à Casa Branca — “Ele é tão evidentemente estúpido… É um rufia, um cão, um porco, um aldrabão, um artista da mentira, um vadio que não sabe do que está a falar.” —, não tendo deixado de lhe apontar o dedo mesmo depois de ter conquistado a presidência. Em 2019, na primeira apresentação europeia de O Irlandês, de Martin Scorsese, falou de “um Presidente gangster que pensa que pode fazer o que quer”. E disse aos jornalistas: “Não consigo esperar mais por o ver na cadeia. Não quero que ele morra. Quero que ele vá para a prisão.”