Primeiros reféns voltaram a casa, onde a celebração é agridoce
Os primeiros reféns do Hamas libertados durante a trégua temporária regressaram a Israel na noite desta sexta. Nas próximas horas devem sair em liberdade mais oito crianças e cinco mulheres.
Esta sexta-feira, regressaram a casa, ao fim de sete semanas, 13 israelitas feitos reféns pelo Hamas. Nos reencontros com os familiares de quem tinham sido separados a 7 de Outubro, as lágrimas de alegria confundiram-se com as de desespero pelos que continuam presos. Do lado palestiniano, as emoções foram as mesmas: "Ainda temos medo de sentir felicidade."
Entre as mulheres e crianças libertadas encontravam-se três mães com os seus quatro filhos, todos com menos de dez anos, e seis idosas, entre os 70 e os 90 anos. Mais de 200 civis e militares continuarão sequestrados em Gaza.
Na noite deste sábado será libertado um novo grupo de 13 israelitas — oito crianças e cinco mulheres — em troca de 39 prisioneiros palestinianos detidos em Israel. O Hamas dará ainda liberdade a sete cidadãos estrangeiros.
De Gaza para o Egipto, através de Rafah, e do Egipto para Israel, os 13 israelitas chegaram ao seu país acompanhados pela Cruz Vermelha já depois de anoitecer. "Vamos recebê-los em silêncio, de cabeça baixa", escreveu o jornalista israelita Nahum Barnea esta sexta-feira, sobre o ambiente vivido em Israel. "As suas sete semanas como reféns são uma ferida que precisará de ser curada."
No acordo feito entre o Hamas e Israel prevê-se uma trégua de quatro dias, iniciada na manhã desta sexta-feira, a libertação de 150 prisioneiros palestinianos e o aumento da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, incluindo do fornecimento de combustível. Em troca, o Hamas deverá libertar 50 reféns ao longo destes dias.
"Não estou a celebrar, nem celebrarei até ao regresso do último dos reféns", afirmou um dos familiares dos reféns libertados esta sexta-feira, momentos depois de se reencontrar com a mulher e as duas filhas, de 4 e 2 anos, desaparecidas desde 7 de Outubro. "A partir de hoje, as famílias dos reféns são a minha nova família", acrescentou Yoni Asher, de 37 anos, citado pelo The New York Times.
"Sonhei que voltávamos para casa", contou-lhe a sua filha mais velha, Raz Asher, sentada no colo de Yoni num hospital israelita. "Agora o sonho tornou-se realidade", respondeu o pai.
Segundo pediatras israelitas que observaram as quatro crianças israelitas libertadas esta sexta-feira, todas estariam relativamente bem em termos de saúde. "Elas partilharam experiências, estivemos acordados com elas até de madrugada e foi interessante, revoltante e comovente", afirmou Gilat Livni, director do serviço de Pediatria do hospital que recebeu os menores libertados.
Entre o primeiro grupo de reféns libertados durante a trégua encontrava-se também Hanna Katzir, de 76 anos, que tinha sido dado como morta pela Jihad Islâmica na Palestina. A notícia de que o nome de Hanna estava na lista de reféns a ser libertados esta sexta-feira surpreendeu todos, principalmente os familiares.
Uma das suas sobrinhas, Dalit Katzenellenbogen, resumiu a mistura agridoce de sentimentos sentida por muitos nestes dias: sentia-se "feliz pelo regresso de Hanna, mas preocupada com a sua saúde física e mental".
"Espero que a guerra termine em breve para os israelitas e para os palestinianos que não apoiam o Hamas", acrescentou Dalit, também citada pelo The New York Times. "Teremos de aprender a viver uns ao lado dos outros. Ninguém vai desaparecer."
Hanna Katzir regressa a Israel sem o marido, morto durante os ataques do Hamas ao kibbutz de Nir Oz a 7 de Outubro; sem o filho, Elad, de 47 anos, que continua em Gaza como refém; e, como tantos outros que viviam em Nir Oz, junto à fronteira com o enclave palestiniano, sem casa.
Também para os palestinianos que vêem familiares e amigos sair das prisões israelitas é difícil sentir satisfação. Pouco tempo antes da libertação de Marah Bkeer, de 24 anos, as autoridades israelitas entraram em casa da mãe da jovem palestiniana para a revistar. Perante um pedido de esclarecimentos enviado pela Reuters, a polícia israelita recusou comentar o caso.
"Não há verdadeira alegria, nem mesmo esta pequena alegria que sentimos enquanto esperamos", disse Sawsan Bkeer, mãe de Marah. "Ainda temos medo de sentir felicidade."