Vinha e arquitectura, a harmonia possível
Frank Gehry e Santiago Calatrava. Frederico Valsassina e Carlos Castanheira. O fotógrafo Nelson Garrido escolheu e foi explorar as linhas de quatro projectos que se relacionam com o vinhedo.
Betão onde há terra, linhas rectas que se misturam com os desenhos das folhas da videira, rasgos de luz, espirais e outras formas que desafiam a natureza do território. Quatro obras de arquitectura. Duas em Portugal, outras duas em Espanha. Duas adegas e dois hotéis. O vinho como fio condutor de espaços de enoturismo fotografados por Nelson Garrido, habituado a estas andanças.
Ao longe, em Espanha, uma imponente muralha de montanhas, a serra da Cantábria, cujos picos nevados protegem os vinhedos de Rioja dos ventos frios do norte, criando um microclima onde o vinho e a cultura podem florescer. As encostas suaves atapetadas de vinhas, que rodeiam o Hotel Marqués de Riscal, cujas formas extravagantes — e inconfundíveis — foram pensadas por Frank Gehry, que na quinta com mais de 150 anos de história pousou um "castelo do século XXI" que à distância se assemelha a uma bolha prateada envolta em tiras de titânio que parece flutuar.
Ysios — um tributo ao Deus egípcio Isis — é outra nave espacial na Cantábria, outra vez a fusão entre a vinificação tradicional e a mentalidade mais vanguardista, desta vez da Rioja Alavesa, adega fundada em 2001 e hoje com uma surpreendente silhueta desenhada por Santiago Calatrava pousada sobre a vinha.
Ao invés, com uma dimensão de cerca de 300 hectares de puro Alentejo, na aldeia do Freixo, entre a serra D’Ossa e Évora, a maior ambição da Herdade do Freixo é a preservação genuína da paisagem rural e que os seus vinhos transmitam o melhor da essência da sua terra, das suas vinhas e do terroir. Esta ambição foi materializada com a ajuda do arquitecto Frederico Valsassina, com a construção de uma adega totalmente subterrânea, até três pisos de profundidade, que não é avistada na paisagem, servindo os propósitos da vinha sem interferir no equilíbrio do ecossistema.
Carlos Castanheira assumiu o projecto do espaço de acomodação para os visitantes da Adega da Quinta da Faísca, Favaios, entre vinhas, oliveiras e amendoeiras, vista quase infinita. Uma laje de concreto, ligada ao solo e depois sustentada por vigas metálicas, criou a varanda, sobre a qual foram erguidos quatro pequenos apartamentos em madeira e zinco. Estamos suspensos na paisagem, que entrou e nos levou para fora. Quase um salto.