Circunstâncias da demissão de Costa são “inusitadas” e devem ser esclarecidas, diz Ferro Rodrigues

Em entrevista à SIC Notícias, Ferro Rodrigues diz que país tinha “ganho alguma coisa” se o Presidente da República tivesse tido mais tempo para se informar junto da Procurador-Geral da República.

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Ferro Rodrigues, ex-presidente da Assembleia da República, referiu ainda estar preocupado com o estado da democracia portuguesa Daniel Rocha
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O ex-presidente da Assembleia da República e antigo líder socialista Eduardo Ferro Rodrigues disse esta sexta-feira que as circunstâncias que levaram à demissão de António Costa e ao início da crise política que o país atravessa foram "inusitadas, graves e que carecem de ser esclarecidas com rapidez" por todas as partes envolvidas.

Em entrevista à SIC Notícias na noite desta sexta-feira, Ferro Rodrigues, que nesta altura não tem qualquer função de Estado nem no PS e que se disse sentir "livre" para dizer o que pensa, afirmou que o país tinha "ganho alguma coisa" se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tivesse tido mais tempo para se informar junto da procuradora-geral da República, mas também Supremo Tribunal de Justiça, antes de tomar decisões que "depois de anunciadas publicamente já não têm recuo".

"O que se passou no dia 7 de Novembro não pode ser encarado como um processo igual aos outros. Não é todos os dias, em nenhum país europeu, que a PGR, com um conjunto de polícias, invade a residência oficial do primeiro-ministro e depois há o comunicado da procuradora-geral da República que leva o primeiro-ministro a demitir-se. É uma situação inusitada, grave e que carece de ser esclarecida com rapidez", refere o ex-secretário-geral do PS.

Ferro Rodrigues deixou também críticas à forma como tudo se desenrolou naquele dia, dizendo que "uma coisa desta dimensão não pode ser instantânea" e que "não pode ser numa manhã que um primeiro-ministro decide apresentar a sua demissão depois de um comunicado da PGR". "Não passava na cabeça de ninguém que a saída de um primeiro-ministro seria devido a um acontecimento destes. Estas circunstâncias, sendo todas inusitadas, deviam ter levado a maior reflexão de parte a parte".

O ex-presidente da Assembleia da República referiu ainda estar preocupado com o estado da democracia portuguesa e com o "estado de direito em Portugal", sublinhado que as regras do estado de direito têm de se aplicar a "todos sem excepções".

"Custa-me muito que tenha acontecido toda essa situação e que passado uma semana praticamente já não se fale daquilo que levou ao acontecido propriamente dito", disse Ferro Rodrigues. "Fala-se das eleições dentro do PS, fala-se das legislativas, fala-se da pequena intriga entre Belém e São Bento e parece que tudo entrou rapidamente numa normalidade que é pouco normal".

Ferro Rodriguez deixou ainda um recado ao Ministério Público: "Há uma cultura no Ministério Público, que possivelmente não é maioritária, mas existe e tem poder, que é a de acharem que os políticos são todos suspeitos e que têm de provar a seguir que são pessoas sérias. Isso é uma coisa gravíssima em democracia", referiu dando o exemplo das buscas à casa de Rui Rio em Julho deste ano.

António Costa é alvo de um inquérito no Ministério Público (MP) junto do Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo que investiga tráfico de influências no negócio de um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo tido intervenção para desbloquear procedimentos.

O MP considera que houve intervenção do primeiro-ministro na aprovação de um diploma favorável aos interesses da empresa Start Campus, responsável pelo centro de dados, de acordo com a indiciação. No dia da demissão, Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável”.

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