Os jogos não são para crianças

Disseram-me várias vezes que os jogos são para crianças, perda de tempo ou mero passatempo. Quem diz isto desconhece totalmente as metodologias e sistemas de jogo que hoje temos disponíveis.

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Megafone P3: Os jogos não são para crianças Matilde Fieschi
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Neste momento trabalho exclusivamente com jogos. Utilizo os sistemas de jogos para quase tudo. Na sociedade que temos vindo a edificar, saber usar jogos pode marcar a diferença. E, quem está em cargos de liderança e gestão, mais do que nunca, pode beneficiar dos jogos como ferramentas de trabalho.

Há cerca de dez anos comecei a utilizar os jogos, especialmente os analógicos, como ferramentas de apoio para vários projectos. Têm sido imensamente úteis quando queremos gerar alguns exercícios de quebra-gelo, energização e de estimulação. A minha experiência prévia, que inclui jogos de estratégia digitais e analógicos, facilitou o processo. Ao saber configurar estes sistemas, foi possível desenvolver as minhas próprias soluções. À medida que ia testando novas ferramentas jogáveis, fui incentivado a estudar e investigando mais.

A aventura pelo doutoramento, que felizmente consegui fazer com bolsa FCT e direccionar para a área dos jogos aplicados, ditou a diferença. Foi possível consolidar métodos, ainda que as restrições de exclusividade não me tenham permitido fazer todos os projectos que desejava.

Ainda assim, consegui participar, dentro do que era possível, em várias iniciativas e dinamizar diversos cursos onde os jogos se utilizavam como ferramentas. Algumas instituições com quem tenho colaborado têm tido uma atitude arrojada ao apostar nas abordagens jogáveis, sem medo de alguns preconceitos.

Defender os jogos como ferramentas “sérias” continua a ser um desafio em certos sectores. Se na área da inovação são facilmente aceites, nos sectores mais convencionais, os preconceitos de quem decide têm limitado o potencial destas ferramentas. Disseram-me várias vezes que os jogos são coisas para crianças, uma perda de tempo ou mero passatempo pouco sério.

Quem diz isto desconhece totalmente as metodologias e sistemas de jogo que hoje temos disponíveis. Nos últimos anos os jogos e o comportamento humano em contexto de jogo têm sido amplamente estudados, ao ponto de termos dados sólidos para defender estas metodologias.

Desenvolver um jogo é entrar no reino da simulação, mas adicionando e gerindo sistemas de motivação. No caso dos jogos sérios (serious games), e em parte na "gamificação", desenvolvemos os sistemas de jogo para que as experiências jogáveis coincidam com objectivos de trabalho.

De um modo mais concreto, podemos criar sistemas de incentivo, motivação e suporte para sermos mais criativos, colaborativos e trabalhar de modo mais eficiente. Equipas de vendas utilizam estes sistemas entre si e nas suas relações com os clientes. Departamentos de desenvolvimento de produtos e serviços ensaiaram processos disruptivos e de prototipagem através de jogos.

Decisores recorrem a modelos de apoio à tomada de decisão baseados em jogos para simular cenários futuros, onde os agentes humanos podem interagir. Departamentos de recursos humanos utilizam jogos para treinar competências ou fazer recrutamento. O campo de aplicação é imenso em contexto empresarial.

O recurso a jogos ensina-nos muito, até sobre o próprio processo de criação. Tenho desenvolvido muitos destes processos do zero, melhorando o método de cada vez que o reinício. Esta é outra vantagem dos jogos, os sistemas de progressão, feedback, recuperação e repetição que permitem passar ao nível seguinte.

Vamos a jogo, mesmo preparados para perder, até que possamos finalmente vencer?

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