Função pública continua a ter aumentos salariais mais baixos do que os do privado
Sector privado, indústria extractiva e empresas de pequena dimensão e mais intensivas em conhecimento lideram subidas da remuneração média total no terceiro trimestre de 2023.
Embora a remuneração média da Administração Pública seja mais elevada do que no sector privado, os trabalhadores do Estado continuam a ter aumentos mais modestos. Se no privado a remuneração total média cresceu 6,3% entre Setembro de 2022 e Setembro de 2023, no sector público o aumento nominal não foi além dos 5,5%. E esta diferença mantém-se quando se desconta o efeito da inflação, levando a que no privado haja ganhos de poder de compra de 2,8%, enquanto no sector público não vão além de 2%.
Esta é uma das conclusões que se podem retirar do destaque sobre a remuneração bruta mensal média por trabalhador, divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Os dados têm por base a análise dos salários de 4,7 milhões trabalhadores declarados mensalmente pelas empresas à Segurança Social ou a descontar para a Caixa Geral de Aposentações (CGA).
De acordo com o INE, a remuneração total média por trabalhador do Estado teve um acréscimo de 5,5% face a 2022, atingindo os 1834 euros brutos. A componente regular (que não contabiliza os subsídios de férias e de Natal) aumentou 5,9% e a remuneração-base 6,2%.
Os trabalhadores do sector privado viram os seus salários aumentar de forma mais expressiva. Em Setembro de 2023, a remuneração total registou uma variação homóloga de 6,3%, passando para 1364 euros. A remuneração regular teve um acréscimo de 6,7% e a remuneração-base de 7,1%.
O INE alerta que a diferença de 470 euros entre a remuneração média da Administração Pública e a do sector privado reflecte diferenças no tipo de trabalho realizado, na composição etária e nas qualificações dos trabalhadores. Com efeito, refere a autoridade estatística nacional, os trabalhadores do sector público têm, em média, níveis de escolaridade mais elevados: 55,3% dos trabalhadores do Estado tinham o ensino superior, percentagem que não vai além de 24,9% no privado.
Os dados mostram ainda que, em termos globais, a remuneração média dos trabalhadores portugueses aumentou 5,9% face ao período homólogo, para 1438 euros.
Em relação a Setembro de 2022, a remuneração bruta total mensal média subiu em todas as dimensões de análise (actividade económica, dimensão de empresa, sector institucional, intensidade tecnológica e intensidade de conhecimento), refere o INE.
Os maiores aumentos foram observados na indústria extractiva (9,5%), nas empresas de um a quatro trabalhadores (7,1%) e nas empresas de serviços com forte intensidade de conhecimento (9%). A menor variação homóloga foi observada nas actividades de agricultura, produção animal e pesca (2,3%) e nas empresas com 50 a 99 trabalhadores (4,6%).
No terceiro trimestre, assistiu-se ainda uma desaceleração dos salários face aos três meses imediatamente anteriores, quando a subida nominal foi, em média, de 6,9% e a real de 4,4%.
Inflação continua a pesar nos salários
As estatísticas divulgadas nesta segunda-feira permitem ainda perceber o efeito que a evolução dos preços continua a ter nas remunerações.
Tomando como referência uma inflação de 3,5% no período analisado, o INE conclui que os salários totais no conjunto da economia tiveram um aumento real de 2,4%, bem inferior à subida nominal de 5,9%.
No sector privado, o ganho real foi de 2,8%, enquanto na Administração Pública não foi além de 2%.
Com a crise inflacionista, as remunerações atravessaram um período de 17 meses de perda de poder de compra, com início em Dezembro de 2021 e tendo atingido o pico em Novembro de 2022, quando os salários recuaram 5% em termos reais.
Foi preciso esperar por Maio de 2023 para que os trabalhadores recuperassem algum poder de compra e, apesar da desaceleração, o INE destaca o facto de Setembro ser o quinto mês consecutivo em que são registados aumentos reais nas remunerações.
Também aqui, o sector público e o privado têm tido evoluções diferentes. Enquanto no Estado a recuperação do poder de compra teve início em Maio, no privado isso aconteceu dois meses mais cedo.