Moody’s faz dupla subida do rating de Portugal apesar da crise política

Agência de notação financeira surpreende com subida de dois degraus na classificação que atribui a Portugal. Riscos provenientes da instabilidade política não impedem que Portugal ultrapasse Espanha.

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Agência Moody's elevou o rating português em dois níveis Reuters/ANDREW KELLY
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O clima de maior instabilidade política que se projecta para o país durante os próximos meses não impediu a agência de notação financeira internacional Moody’s de, esta sexta-feira, surpreender e elevar, em dois níveis, a classificação atribuída a Portugal. Entre as grandes agências de rating, já só a Standard & Poor’s não tem a notação portuguesa no patamar "A".

Num comunicado publicado esta sexta-feira à noite, a Moody’s, uma das três grandes agências de rating internacionais a par da Standard & Poor’s e da Fitch elevou a nota atribuída a Portugal de "Baa2" para "A3". Os ratings atribuídos aos países são o resultado da avaliação que as agências de notação financeira fazem da capacidade do respectivo Estado fazer face aos compromissos que tem com os seus credores.

Neste momento, a Fitch e a Moody's já atribuem a Portugal um rating no patamar "A", enquanto a Standard & Poor's, que tem uma decisão agendada para Março, continua um nível abaixo, em "BBB+".

No caso da Moody's, Portugal passa a contar, com a decisão desta sexta-feira, com um rating superior ao de Espanha, que está em "Baa1", com uma perspectiva "estável". Esta visão mais positiva da capacidade de Portugal fazer face aos seus compromissos quando comparado com Espanha fica finalmente em linha com aquilo que tem sido o comportamento dos investidores dos mercados obrigacionistas nos últimos anos, emprestando dinheiro a Portugal a taxas de juro mais baixas do que a Espanha.

Antes da decisão, os analistas dividiram-se entre os que temiam que a actual crise política em Portugal pudesse levar a Moody’s a adiar a concretização de uma subida (sinalizada com a perspectiva “positiva” dada a Portugal) e os que confiavam que o rating subisse um patamar para "Baa1". Contudo, a agência, que tem sido a mais lenta a subir a nota atribuída ao país, surpreendeu e decidiu dar um salto maior e colocar Portugal no patamar "A".

Na nota em que anunciam a decisão, os analistas da Moody’s explicam que “a subida de dois degraus de 'Baa2' para 'A3' reflecte os efeitos positivos no médio prazo de uma série de reformas económicas e orçamentais, da desalavancagem da dívida do sector privado e do fortalecimento progressivo do sector bancário”.

A agência assinala em particular a evolução recente do rácio da dívida pública em Portugal que, projecta, deverá ficar próximo dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024.

Ainda assim, a agência assinala que a crise política tem o seu efeito negativo no rating português, sendo o motivo avançado para que, neste momento, não se possa começar a pensar numa nova subida dentro de seis meses.

De facto, a Moody’s, ao mesmo tempo que subiu o rating, passou a perspectiva (que indicia o que irá fazer a seguir) de “positiva” para “estável”, explicando que tal “reflecte a visão de que os riscos para o rating 'A3' estão equilibrados”. “Mais tendências positivas na economia e no orçamento do que aquilo que a Moody’s prevê actualmente compensam os sinais recentes de existência de riscos políticos”, diz o relatório publicado esta sexta-feira, que assinala o perigo de os últimos desenvolvimentos políticos poderem “atrasar os investimentos e as reformas ligadas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”.

A Moody’s mostra a sua satisfação pelo facto de o Orçamento do Estado para o próximo ano ir ser aprovado e considera que “existe uma adesão generalizada nos principais partidos políticos em Portugal ao posicionamento orçamental do actual governo”, o que, diz, “sugere que os riscos de uma mudança significativa são limitados”.

Em reacção à decisão da Moody’s, Fernando Medina defendeu, em comunicado publicado pelo Ministério das Finanças após ser conhecida a decisão da agência financeira, que "o facto de esta decisão da Moody’s ter sido tomada já após a marcação de eleições legislativas antecipadas demonstra que os fundamentais da economia são robustos e confirma que Portugal conquistou um lugar entre o grupo de países com maior qualidade creditícia e maior credibilidade internacional”. “Um lugar que é essencial preservar”, assinala o ministro.

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