Santos Silva afirma-se chocado com dinheiro encontrado no gabinete de Vítor Escária
O presidente da Assembleia da República considerou na RTP3 que o Supremo Tribunal de Justiça tem de esclarecer depressa, antes das eleições, a situação penal do primeiro-ministro.
O presidente da Assembleia da República ficou chocado com a descoberta de dinheiro em numerário no escritório do chefe de gabinete do primeiro-ministro, considerando tratar-se de uma quebra de confiança absoluta.
“Primeiro não acreditei, mas depois ouvi o advogado [de Vítor Escária] a confirmar e fiquei absolutamente chocado. É uma quebra de confiança absoluta. É uma coisa inaceitável -- e espero que o Ministério Público seja absolutamente impiedoso para a resposta à pergunta de onde veio aquele dinheiro”, declarou Augusto Santos Silva em entrevista à RTP3 na noite passada.
Para o presidente da Assembleia da República, tem de ser apurado se aquele dinheiro, que se encontrava guardado em envelopes e numa caixa de vinho, foi ou declarado ao fisco, entre outros aspectos.“É daquelas coisas em que não há nenhuma parede que possa proteger as pessoas por estarem em lugares públicos”, acentuou.
Interrogado se a escolha de Vítor Escária para chefe de gabinete do primeiro-ministro revela um problema de avaliação por parte de António Costa na escolha de colaboradores directos, Augusto Santos Silva admitiu: “Pode ter havido um erro de avaliação.” “Todos nós cometemos erros de avaliação na escolha das pessoas. Eu já cometi”, acrescentou, numa alusão ao seu longo percurso governativo.
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros sustentou também que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) tem de esclarecer depressa, antes das eleições, a situação penal do primeiro-ministro, frisando que o caso abriu uma crise política. “É um caso muitíssimo grave e é muito importante que se esclareça o mais depressa possível. Creio que temos o direito de pedir ao STJ que seja lesto na realização do inquérito”, declarou Augusto Santos Silva.
“Na semana passada, ficámos a saber que corria um inquérito-crime contra o primeiro-ministro no Supremo, porque — diz o comunicado da Procuradoria-Geral da República — suspeitos terão invocado o nome e autoridade do primeiro-ministro para desbloquear procedimentos. Isto precipitou uma crise: a demissão do primeiro-ministro, que tirou as consequências políticas deste comunicado; depois, o Presidente da República entendeu que essa demissão implicava a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições”, começou por apontar Augusto Santos Silva.
O presidente da Assembleia da República assinalou em seguida que este processo que envolve António Costa corre desde 17 de Outubro passado, e até 10 de Março, dia das eleições legislativas, “vão praticamente cinco meses”.
“Cinco meses é um período de tempo que me parece mais do que suficiente para que o inquérito seja concluído e o conjunto dos portugueses saiba - da única fonte que deve saber, que é a justiça - o que realmente se passou e se há alguma responsabilidade penal do primeiro-ministro”, sustentou.
Augusto Santos Silva disse que os portugueses se interrogam e devem ser esclarecidos sobre quais são os factos, quais são as provas e quais são as responsabilidades do primeiro-ministro neste caso.
“Acho que a justiça tem todas as condições para que nos informe -- só as justiça nos pode informar -- a tempo de as pessoas perceberem e poderem avaliar o que se passou”, reforçou.
Apoio declarado a Carneiro
Santos Silva tornou público, nesta entrevista, o apoio à candidatura de José Luís Carneiro à liderança do PS, tal como o PÚBLICO tinha avançado, considerando que preserva melhor a autonomia estratégica deste partido.
Augusto Santos Silva defendeu que José Luís Carneiro é que dá mais garantias de “preservar a autonomia estratégica do PS” e o que “melhor representa o espaço político deste partido” no centro-esquerda, de moderação, europeísta e de defesa da Aliança Atlântica.
O presidente da Assembleia da República elogiou também o percurso e a “capacidade política” do actual ministro da Administração Interna tanto em funções partidárias como em executivas, particularmente como autarca de Baião, no distrito do Porto, como antigo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e agora como titular da pasta da Administração Interna.
“Revelou sempre prudência e empatia com as pessoas”, assinalou.