Português que perdeu família em Gaza diz que MNE não fez o suficiente para os salvar
A fronteira de Rafah, controlada pelo Egipto e Israel, continua a ser um obstáculo difícil de transpor. Cidadãos portugueses aguardam autorização para sair da Faixa de Gaza.
Só Nour, a filha de um ano de Ahmed Ashour, um palestiniano que hoje tem nacionalidade portuguesa, sobreviveu ao bombardeamento da casa onde se refugiavam na cidade de Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza. A filha de 12 anos, Jenan, e o filho de 6, Ismail, morreram no ataque israelita, bem como a sua mulher, de 35 anos. Ele acusa o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de não se ter esforçado o suficiente para os tirar de Gaza.
“A casa caiu na cabeça das pessoas”, contou Ahmed Ashour à RTP. No bombardeamento morreu ainda a mulher de um irmão e três dos seus filhos, além de outros familiares. Um vídeo feito por uma testemunha e colocado no Facebook mostrou-lhe Nour a ser salva dos escombros.
Nour, cujo nome significa “luz” em árabe, está com os avós, e, tal como a mãe e os irmãos que morreram, é cidadã portuguesa.
O MNE “podia ter feito mais” para tirar da Faixa de Gaza a sua família e outros palestinianos com nacionalidade portuguesa. “A resposta era sempre: ‘OK vamos esperar mais uns dias, não conseguimos…’ O ministro devia demitir-se”, declarou à RTP.
Na terça-feira à noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, a partir da Guiné-Bissau, anunciou que as autoridades egípcias e israelitas tinham decidido que em breve sairiam de Gaza pela fronteira de Rafah com o Egipto dez pessoas sinalizadas por Portugal. Mas nesta quarta-feira admitia que não era ainda “claro se conseguem sair hoje ou se terá de ser adiado”.
“Tem havido muitos problemas na fronteira” de Rafah, disse o ministro, sublinhando que a retirada não depende de Portugal, noticiou a Lusa.
Pelo menos uma família portuguesa, que inclui um menino de ano e meio com problemas de saúde, só teve confirmação de que poderia sair de Gaza esta noite. De manhã, e durante todo o dia de quarta-feira, não estava incluída na lista de nomes divulgada pelas autoridades egípcias, contou ao PÚBLICO Rami Abu Jalalah, que tem nacionalidade portuguesa e está em Lisboa.