Mercantel: um restaurante com história em Aveiro que se abriu à contemporaneidade

Situado à beira da ria, bem no centro da cidade, o restaurante que sempre foi conhecido pelo seu arroz de marisco ganhou uma nova vida. Ao leme está o chef Cristiano Barata.

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Restaurante Mercantel ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
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Para quem conheceu o antigo Mercantel, casa icónica da cidade de Aveiro, não vale a pena procurar semelhanças, porque não as há. O restaurante que conta com cerca de 50 anos de existência ganhou uma nova vida e está pronto para provar que uma casa com história pode abrir-se à contemporaneidade. A decoração e a carta aí estão para o comprovar: as paredes com azulejos deram lugar a uma decoração mais sóbria e a lista de pratos passou a apostar num novo conceito, mas sem abdicar do prato que sempre deu nome à casa, o arroz de marisco. “Quisemos ter algo mais contemporâneo, sem quebrar com a tradição”, anuncia o chef Cristiano Barata, antes de nos apresentar algumas das suas criações.

Começamos com o pão de fermentação lenta, acompanhado de manteiga noisette, manteiga de cabra com alface-do-mar e azeite, para abrir caminho às tostas de sardinha curada e pimentos assados, que já começam a estar no topo das preferências dos clientes no “novo” Mercantel – abriu há cerca de três meses. Seguiu-se um crudo de corvina com leite de tigre de abrunho, óleo de erva-príncipe, cabelo de velha (alga) e endro, capaz de desfazer quaisquer dúvidas que ainda pudessem existir quanto ao virar de página na história do restaurante.

Não menos inovadoras são as propostas que se seguem: kakiage de caras de bacalhau (pataniscas com cebola, salsa e flakes de bonito seco), atum albacora com melão, pepino e alho francês, e o flatbread (pão de cerveja) com pistácio, curgete grelhada e algas. Se ainda houvesse espaço (e apetite) para a carne, não faltariam propostas, nomeadamente o bestseller da casa, o arroz de forno, feito com arroz artesanal de Canelas e vazia de Marinhoa. Isto para já nem falar no arroz de marisco, que no Mercantel sempre funcionou como uma espécie de chamariz. Para fechar em grande, nada melhor do que o pão-de-ló da casa, com azeite e flor de sal.

A carta também surge renovada e contemporânea ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
A carta também surge renovada e contemporânea ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
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A carta também surge renovada e contemporânea ADRIANO MIRANDA/PUBLICO

Os produtos da região à mesa

“Apostamos muito nos produtos da região de Aveiro”, realça o chef que esteve destinado a ser engenheiro — licenciou-se em Engenharia dos Materiais —, mas quando foi trabalhar para a Áustria teve de começar a cozinhar e descobriu uma nova paixão. “De repente, estava a pedir um empréstimo para ir estudar para Londres, tirar o diploma Cordon Bleu”, testemunha. Concluída a formação, passou por restaurantes como a Taberna do Mercado, em Londres, ou o Prado, em Lisboa. Nunca esteve nos seus planos ir trabalhar para a terra onde cresceu, Aveiro, mas o convite para reabrir o Mercantel viria a falar mais alto.

O desafio foi-lhe lançado por Pedro Lourenço, outro engenheiro – neste caso, civil – que acabou por abraçar a área dos bares e restaurantes. Juntamente com outros empreendedores aveirenses, antigos colegas da universidade, adquiriu o Mercantel à família que vinha gerindo o espaço nas últimas décadas, com o objectivo de manter aquele restaurante bem vivo. E ainda que a tónica passasse por tornar o restaurante mais contemporâneo, os novos proprietários nunca hesitaram quanto à manutenção da aposta nos produtos da região e à continuidade do nome – um mercantel é um barco típico da ria de Aveiro.

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A nova decoração procura criar “um espaço intimista e simultaneamente relaxado", que convida "à permanência e reunião familiar para desfrutar de uma experiência gastronómica” ADRIANO MIRANDA/PUBLICO

Uma das grandes novidades introduzidas pelo projecto de requalificação —​ assinado por Paulo Martins, também ele sócio do restaurante —, reside, desde logo, no facto de o Mercantel se ter virado para a ria. A porta de entrada passou a estar localizada de frente para o canal e, com isto, o restaurante também ganhou uma área de esplanada, reforçando a sua “relação com a água”, destaca o arquitecto.

No interior, a aposta passou por fazer do Mercantel “um espaço intimista e simultaneamente relaxado, que convidasse à permanência e reunião familiar para desfrutar de uma experiência gastronómica” — com base nestas premissas, Paulo Martins desenhou “um espaço com um design simples, mas sofisticado, assente em cores escuras e luz amarela”.

A Fugas almoçou a convite do restaurante Mercantel

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