União Europeia falha meta da entrega de um milhão de munições à Ucrânia

Estados-membros longe do compromisso assumido: até agora, forneceram 300 mil munições das reservas nacionais e contrataram a produção de 120 mil obuses de 155 milímetros para entrega em 2023 e 2024.

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O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, com o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius EPA/OLIVIER HOSLET
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Até agora, a União Europeia já enviou para a Ucrânia mais de 300 mil cartuchos de artilharia de múltiplos calibres, incluindo obuses e mísseis, mas a meta estabelecida na Primavera pelos Estados-membros de fornecimento de um milhão de munições no prazo de um ano, ou seja, até ao próximo mês de Março, vai ficar pelo caminho. “É seguro assumir que o milhão de rondas [de munições] não será atingido”, afirmou o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, esta terça-feira, em Bruxelas.

O alto representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, que foi quem propôs aos líderes que assumissem o compromisso de acelerar a entrega de armamento e munições à Ucrânia, acredita que ainda será possível cumprir a meta proposta. “O objectivo de um milhão de munições mantém-se como um objectivo político. É ambicioso, mas vamos continuar a fazer tudo o que é possível, todos os dias”, afirmou, no final de uma reunião do Conselho da UE que juntou os 27 ministros da Defesa do bloco.

Segundo lembrou o alto representante, a UE tem uma estratégia em três pilares para o abastecimento das forças ucranianas: o primeiro passa pela disponibilização imediata dos “stocks” de munições das reservas nacionais; o segundo pela compra conjunta de mais munições de 155 milímetros; e o terceiro pelo aumento da capacidade de reprodução da indústria europeia.

“No primeiro pilar, alcançámos 30% do objectivo, com mais de 300 mil munições provenientes das reservas. Em relação às compras conjuntas, os últimos dados relativos às encomendas são de 120 mil obuses para entrega em 2023 e 2024”, informou Borrell, acrescentando que “há margem para mais encomendas” e que, até Março, a indústria terá a capacidade para produzir um milhão de munições por ano.

Mesmo assim, e relativamente ao apoio militar à Ucrânia, Josep Borrell pressionou os Estados-membros a “fazer mais e mais depressa”. “Estou sempre a repetir isso, porque o tempo mede-se não apenas pela destruição de infra-estruturas mas na perda de vidas”, observou.

No final da reunião, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, concordou que os Estados-membros “poderiam ter feito mais” até agora para se aproximarem do objectivo de fornecer um milhão de munições à Ucrânia — nomeadamente em termos de contratos e encomendas ao abrigo do segundo pilar.

“Na contratação à Agência Europeia de Defesa não fomos ainda tão longe quanto o desejável”, considerou, explicando que no caso de Portugal as encomendas de novas munições já tinham sido feitas no âmbito da agência da NATO. “Admito que com o avançar do tempo, e no âmbito da Lei de Programação Militar, pudéssemos vir a fazer algumas encomendas, mas naturalmente essa é uma decisão que não vamos tomar agora”, acrescentou Helena Carreiras.

A ministra confirmou que o comissário do Mercado Interno, Thierry Breton, que é também responsável pela indústria europeia, foi “bastante mais optimista do que o ministro alemão” quanto à capacidade da UE para atingir a meta de um milhão de munições para a Ucrânia. Mas como Pistorius, disse ter “dúvidas de que se possa garantir neste momento que esse número será cumprido”.

De resto, os ministros voltaram à proposta de Josep Borrell para um financiamento extraordinário do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz com 20 mil milhões de euros exclusivamente dedicados à Ucrânia, mas ainda sem acordo para avançar nesse sentido. “Temos de perceber que o apoio à Ucrânia tem de ser concedido no longo prazo e faz parte dos nossos compromissos de segurança”, insistiu o alto representante.

Para Helena Carreiras, é positiva a autonomização de um envelope próprio para a Ucrânia no âmbito do MEAP, que é o instrumento financeiro que sustenta as missões da UE em países terceiros, como por exemplo aquela que Portugal dirige em Moçambique. “A separação entre o investimento que fazemos nessas missões e a Ucrânia clarifica muito as coisas, e permite perceber melhor o que estamos a dar à Ucrânia e o esforço da UE de produção de segurança à escala mundial”, referiu.

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